O que revela a postura de Trump e Obama?
Os gestos, os olhares e as expressões falaram mais do que eles. A análise dos especialistas
Fraco, incompetente, um desastre. Estes foram alguns dos mimos com que Donald Trump brindou Barack Obama durante a campanha eleitoral. O presidente norte-americano não se ficou atrás e respondeu à letra, repetindo que o candidato republicano não tinha capacidade para governar o país. Só que o milionário venceu a corrida à Casa Branca e foi nessa qualidade que ontem se reuniu com o ainda presidente. Perante os jornalistas sorriram, trocaram elogios, falaram do quão agradável tinha sido o encontro. Só que os gestos, os olhares e as expressões falaram mais do que eles.
Segundo Rui Mergulhão Mendes, especialista na análise da linguagem corporal, microexpressões e deteção da mentira, o encontro entre Barack Obama e Donald Trump "decorreu sobre um clima de insegurança e desconforto". O perito observou os olhares, as expressões, a posição em que se sentaram e até a forma como se estendaram as mãos um ao outro para se cumprimentar e conclui que para o ambiente naquela sala "não estão alheias as recentes trocas de acusações entre ambos".
"Barack Obama afirmou que Trump não tinha as mínimas condições para governar o país. Trump já havia questionado as suas origens e os seus comportamentos enquanto estudante universitário, fazendo algumas alusões a uma vida mais boémia", lembra Rui Mergulhão Mendes, que exemplifica com quatro imagens o retrato que faz de todo o encontro.
Subscreva as newsletters Diário de Notícias e receba as informações em primeira mão.

Imagem 1
© EPA/MICHAEL REYNOLDS
Na primeira, "podemos observar uma negação frontal, corpos alinhados em sentidos diferentes, dando uma forte indicação que não existe compromisso entre ambos". Diz o especialista que "inconscientemente, o nosso cérebro manda-nos afastar daquilo que repudiamos e aproximarmo-nos daquilo que nos sustenta", pelo que, neste caso "não restam dúvidas que o afastamento é notório".
Para Rui Mergulhão Mendes "a perda de foco ocular de Trump, que olha para o chão, para o vazio", também dá indicações de alguma apreensão. Já Barack Obama, que devido à posição do braço e da mão parece estar à vontade, numa situação de algum relaxamento, denota alguma tensão no rosto, nomeadamente na zona da mandíbula.

Imagem 2
© REUTERS/Kevin Lamarque
Numa segunda imagem, Trump aparece de braços aberto, "com alguma amplitude, deixando espaço ao diálogo", o que também é visível nas mãos. Tem as palmas da mãos viradas para cima, o que corrobora o princípio da abertura, defende. Só que, diz Rui Mergulhão Mendes, neste caso, essa abertura "não se caracteriza por grande confiança, face à inclinação do corpo", que está um pouco para baixo. "Se de um lado expõe o tronco, numa manifestação de abertura, por outro é notória pouca tensão muscular, o que nos indica alguma falta de suporte à confiança", conclui o especialista.
Ainda nessa imagem, Barack Obama surge com umas mãos entrelaçadas mais juntas ao corpo, "característica de pouco à vontade". "Sem tonos muscular, testa franzida, indicando alguma apreensão e afastamento ou desinteresse sobre o tema conversado", considera Rui Mergulhão Mendes.

Imagem 3
© EPA/MICHAEL REYNOLDS
Na terceira imagem, o presidente eleito e o presidente em funções vão dar um aperto de mão. "Barack Obama dá a sua mão ao cumprimento, numa clara posição de falta de interesse ou compromisso. Sem qualquer tensão, com a palma da mão virada para cima, dando inclusive a sensação de 'derrota', de pouca confiança", analisa o especialista, explicando que quando cumprimentamos alguém, a nossa mão deve entrar em angulo reto e não como faz Obama. A palma da mão virada para cima "indicia inferioridade ou falta de compromisso", enquanto que uma palma da mão virada para baixo "pode indiciar algum domínio ou tentativa de controlar os acontecimentos".
Rui Mergulhão Mendes compara este momento com um outro, quando Passos Coelho e António Costa se cumprimentaram antes do debate televisivo que antecedeu eleições legislativas.

Imagem 4
© EPA/MICHAEL REYNOLDS
Finalmente, na última imagem, aquela que mostra o aperto de mão, "notamos uma clara falta de contacto ocular, o que reitera o afastamento e desconforto entre ambos". O especialista nota que "sempre que cumprimentamos alguém devemos estabelecer contacto ocular, vinculando o nosso interesse naquele cumprimento".
Além disso, diz Rui Mergulhão Mendes, "podemos observar em ambos, tensão na face, lábios apertados e a desaparecer, característico em situações de falta de confiança ou embaraço, muito relacionado com emoções negativas".