O moderado primeiro-ministro do Iraque que recuperou Mossul

Viveu grande parte da sua vida exilado no Reino Unido devido ao regime de Saddam Hussein. Chefia o governo desde setembro de 2014 e gosta de ler nos tempos livres.
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"A nossa vitória de hoje é uma vitória sobre a brutalidade e o terrorismo e anuncio hoje ao mundo inteiro o fim, o fracasso e o colapso do Estado terrorista fictício do Daesh", afirmou na segunda-feira, o pri-meiro-ministro iraquiano, Haider al-Abadi, após a libertação da cidade do domínio do Estado Islâmico.

Com a segunda maior cidade do país resgatada aos jihadistas, após meses de combates que levaram à fuga de quase um milhão de pessoas, Abadi declarou que as prioridades do governo são agora a "estabilidade e a reconstrução". No entanto, e já depois destas declarações, o Estado Islâmico anunciou uma contraofensiva numa "zona libertada" da parte antiga de Mossul.

Haider al-Abadi entra assim para a história como o líder que conseguiu recuperar Mossul e infligir uma pesada derrota ao Estado Islâmico. "A recuperação de Mossul é um passo significativo na luta contra o terrorismo e o extremismo violento", declarou na segunda-feira um porta-voz do secretário-geral da ONU, António Guterres.

Conhecido por ser uma pessoa discreta, um político moderado, um conciliador e um perito em desenvolvimento económico, Haider al-Abadi passou grande parte da sua vida no exílio no Reino Unido, tendo regressado ao Iraque após a invasão de 2003 pelos Estados Unidos. Muçulmano xiita, foi escolhido em agosto de 2014 pelo presidente Fuad Masum para suceder a Nouri al-Maliki na chefia do governo.

Nascido a 25 de abril de 1952 em Bagdad, Abadi entrou relativamente cedo na vida política, ao juntar-se aos 15 anos ao partido islâmico Dawa, do qual é presidente desde que assumiu o cargo de primeiro-ministro. Quanto aos estudos, obteve o bacharelato em Engenharia Eletrotécnica na Universidade de Tecnologia em Bagdad. O seu pai, Jawad al-Abadi, era um reputado médico e diretor hospitalar na capital iraquiana que chegou a inspetor-geral do Ministério da Saúde. Mas com a chegada de Saddam Hussein em 1979 ao poder a família caiu em desgraça por não concordar com o regime Ba"ath.

Haider al-Abadi foi então viver para o Reino Unido, tendo obtido uma pós-graduação na sua área na Universidade de Manchester. Durante os seus anos de exílio voluntário, sempre no Reino Unido, Abadi tornou-se um crítico público de Saddam Hussein e um militante mais ativo do Dawa, uma resposta à forma como ele e a sua família estavam a ser atacados pelo regime - em 1982, dois dos seus irmãos foram executados e um terceiro foi preso por dez anos, no ano seguinte o seu passaporte iraquiano foi cancelado.

De acordo com a biografia na sua página do Facebook, Abadi trabalhou para várias empresas privadas no Reino Unido, tendo exercido o cargo de diretor-geral de uma firma de design tecnológico de transportes entre 1993 e 2002.

Casado, com três filhos, o atual primeiro-ministro iraquiano tem entre uma das suas citações favoritas "A chave para a liderança é a tolerância". Gosta de ler - entre os seus livros favoritos estão 1984, de George Orwell, e Freedom"s Daughter: Letters between Indira Gandhi e Jawaharlal Nehru 1922-1939 -, obras de programação informática e história. Também gosta de cinema, sendo que os filmes Matrix, O Padrinho e Os Condenados de Shawshank estão na sua lista de prediletos, conforme partilhou na sua página na rede social Facebook.

Com a queda de Saddam, Abadi regressou ao Iraque em 2003 "para ajudar a construir uma nova democracia e revitalizar a economia", como explica o próprio. Em setembro desse ano, foi escolhido para ministro das Comunicações, cargo que ocupou até junho de 2004.

Os anos seguintes foram passados no Parlamento iraquiano, tendo chegado a vice-presidente da instituição em 2014, pouco antes de ser escolhido para primeiro-ministro. O seu nome já tinha sido falado para o cargo em 2006 e durante as negociações que se seguiram às eleições de 2010 para substituir Nouri al-Maliki, que no entanto se manteve na liderança do governo.

Foi sempre um grande apoiante da soberania do Iraque, tendo insistido na introdução de condições específicas no acordo com os Estados Unidos sobre a presença norte-americana no país. Foi também um dos apoiantes do processo contra a empresa de segurança privada Blackwater, depois de pessoal da empresa norte-americana ter sido inocentado em 2010 da morte, três anos antes, de 17 civis iraquianos.

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