O homem de ferro que tem nas mãos o futuro de Itália
Sergio Mattarella é presidente desde 2015. Respeitado, terá agora de escolher quem liderará o novo governo italiano
Sergio Mattarella não tem pela frente dias fáceis. Normalmente, após umas eleições, o presidente italiano pede ao partido mais votado para formar governo e, caso este não consiga, passa-se ao próximo e assim sucessivamente até haver fumo branco. Mas a votação do último domingo trouxe resultados que não apontam para nenhum acordo natural de maioria e dois partidos - 5 Estrelas e Liga - a reclamarem para si a tarefa de formar governo.
É uma tarefa difícil, mas nada que assuste Sergio Mattarella, de 76 anos, um ex-juiz do Constitucional, advogado, ministro e presidente de Itália desde 3 de fevereiro de 2015, o primeiro siciliano no cargo, conhecido entre os seus mais próximos como um homem "feito de ferro" e que "sempre inspirou um profundo respeito". Esta será a sua segunda crise desde que está no Palazzo del Quirinale: em 2016, teve de lidar com a demissão de Matteo Renzi, tendo escolhido Paolo Gentiloni para o cargo de primeiro-ministro.
Nascido a 23 de julho de 1941, em Palermo, Mattarella tem dividido a sua vida entre as leis e a política, sendo que a incursão nesta última foi influenciada pelo assassínio do seu irmão Piersanti, então presidente do governo regional da Sicília, em 1980, às mãos da máfia. O seu pai, Bernardo Mattarella, era um conhecido antifascista e um dos fundadores do Democracia Cristã.
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"Mattarella seguiu os passos do irmão, que pensava que a máfia podia ser combatida não apenas por palavras e declarações políticas mas também com ações concretas", declarou Giovanni Grasso, autor da biografia de Piersanti e diretor de comunicação do atual presidente italiano, pouco depois da sua eleição.
Católico, viúvo, pai de três e avô de seis, Sergio Mattarella foi deputado entre 1983 e 2008, primeiro nas fileiras do centrista Democracia Cristã (até à sua dissolução em 1994) até ao Partido Democrático (entre 2007 e 2009), assumindo-se agora como independente.
A eurodeputada Patrizia Toia, que trabalhou com Mattarella quando este foi ministro nos anos 90, disse em 2016 que debaixo do seu ar aristocrático esconde-se um homem "feito de ferro". "Ele é um homem que sempre inspirou um profundo respeito", disse a eleita do Partido Democrático ao Politico.
Além da experiência parlamentar, Mattarella passou várias vezes pelo governo, tendo sido ministro dos Assuntos Parlamentares, da Educação, da Defesa e vice-primeiro-ministro, tendo deixado uma imagem de reformador. Como titular da pasta da Defesa, por exemplo, foi o responsável pela abolição do serviço militar obrigatório e apoiou o lançamento da Política Externa e de Segurança Comum da União Europeia, considerado um dos pilares do bloco. Em 1990, demitiu-se de ministro da Educação, a par de outros quatro colegas do governo, em protesto contra a aprovação da Lei Mammì, que liberalizava os media em Itália e era vista como um favor a Silvio Berlusconi, o grande magnata do setor no país.
Entre 2011 e a véspera da sua eleição como presidente, foi juiz do Constitucional. "Acima de tudo, Sergio é um homem da lei, um homem da luta contra a máfia", declarou Matteo Renzi, antes da confirmação de Mattarella. Da direita, as reações foram menos elogiosas. "Mais um catto-communista [católico comunista]", disse Matteo Salvini, líder da então Liga Norte (rebatizada entretanto como Liga) e um dos homens que agora quer convencer Mattarella de que pode ser primeiro-ministro. Ontem, o presidente italiano disse: "Os cidadãos são a prioridade."