O "fim da guerra maldita" ou um "pós-conflito conflituoso"

Dois professores e analistas políticos colombianos dão as suas razões para votar "sim" e "não" no referendo de hoje
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"Podemos escolher a opção que nos permite sair desta guerra maldita ou continuar num caminho que nos leva de volta a essa mesma guerra e que repugna e irrita, ou humilha e destrói, milhões de colombianos", escreveu Francisco Gutiérrez Sanín num artigo de opinião no jornal El Espectador. O sociólogo e antropólogo da Universidade Sérgio Arboleda e dos Andes vai votar "sim" no referendo de hoje. Do lado do "não" está Vicente Torrijos, professor emérito de Ciência Política da Universidade de Rosário, alegando ao DN que o que espera o país é um "pós-conflito conflituoso" causado pelos "incontáveis privilégios que a guerrilha conseguiu e a impunidade com que foi premiada".

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Para Torrijos, o referendo só vai refletir a "profunda polarização social que a negociação de paz" causou ao longo dos últimos quatro anos. "Enquanto as FARC esperam, comodamente, o resultado em Cuba, o confronto na Colômbia é entre as forças democráticas que durante muitos anos se enfrentaram entre si: santismo e uribismo", indicou, referindo-se ao presidente Juan Manuel Santos e ao antecessor, Álvaro Uribe, que durante os seus mandatos optou por uma mão de ferro contra a guerrilha. Para o professor, foi esta rutura que as FARC exploraram para conseguir "uns acordos confecionados à medida dos seus interesses" que lhes permitirão "co-governar o país" e "consolidar a sua presença e hegemonia territorial porque não renunciaram à violência como método político, nem prescindiram das riquezas para indemnizar as vítimas".

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Já Gutiérrez Sanín considera que os acordos foram muito bem feitos, "constituindo não só um ponto de convergência para a paz, mas um programa para o fortalecimento do Estado e da sociedade". E alega que esta é a hora de avançar: "É agora ou esperar até que voltem a surgir as condições" e "podem passar anos ou lustros". Para além disso, "depois de gerações sem outro horizonte de imaginação que não fosse o de uma guerra suja, confusa, destrutiva", o sociólogo defende que "surge agora a oportunidade de colocarmos novos e mais interessantes problemas do que ver como nos matamos uns aos outros". E conclui: "Depois de abrir a porta à paz, é preciso construí-la. E para isso precisaremos de maiorias favoráveis ao acordo".

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