
Médio Oriente
Como um rebanho na Cisjordânia explica as eleições em Israel
Visto da Cisjordânia, não importa assim tanto se Netanyahu ganha as eleições de hoje. Israel já tem o apoio de Trump e o silêncio da Europa. Os palestinianos esperam um novo apartheid.
Há por estes dias uma piada entre os empregados de mesa dos restaurantes de Jerusalém Oriental. Quando um cliente lhes pergunta se o vinho que pediram é israelita, eles respondem: "Se ainda não é, vai ser em breve." As encostas dos Montes Golan, onde se recolhe uma boa parte da produção vinícola da região, são território ocupado por Israel. E quando o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu disse na semana passada que pretendia anexar partes da Cisjordânia ao país, a anedota espalhou-se: é apenas uma questão de tempo até a Palestina perder o que lhe sobra de vinha.
Tony Batrawi ri para não chorar. É palestiniano de passaporte azul, o que significa que vive em Jerusalém - e por isso tem o privilégio de entrar e sair quando quer. A maior parte da sua família tem passaporte laranja, vive na Cisjordânia, e não lhe faltam amigos com identificação vermelha, os que são de Gaza. Os primeiros demoram em média três horas para chegar a Israel, os segundos raramente conseguem passar a fronteira. "Estamos cada vez mais espremidos, e estas eleições só estão a piorar as coisas", diz enquanto serve uma garrafa de Cabernet Sauvignon no Wine and Cheese, casa famosa no Levante da cidade. A sua teoria é a de toda a gente: "Agora que Trump mudou a embaixada americana para aqui, o governo israelita sente que pode fazer o que bem entender."