NYT revela que denunciante do caso Trump-Ucrânia é agente da CIA

Jornal diz que, perante os ataques de Trump e dos seus apoiantes, quis dar aos leitores mais informações para que eles possam tirar as suas próprias conclusões sobre o que é ou não credível
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O denunciante na origem do caso que levou os democratas a iniciarem um procedimento de impeachment contra o presidente dos EUA, Donald Trump, é um agente da CIA, revelou o jornal New York Times.

Citando três pessoas que conhecem o indivíduo, que não teve a sua identidade revelada, o jornal informou que este "foi designado para trabalhar na Casa Branca em determinado momento" mas que, desde o incidente, voltou à CIA.

O incidente foi o telefonema realizado, a 25 de julho, por Trump para o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, pedindo-lhe que investigasse o filho de Joe Biden, Hunter Biden, que tinha negócios na Ucrânia. Ex-vice-presidente de Barack Obama, Biden é um dos candidatos à nomeação democrata para as eleições presidenciais de 2020.

A denúncia em relação ao conteúdo deste telefonema foi feita a 12 de agosto, refere o jornal NYT, afirma que o chefe do Estado, republicano, usou os seus poderes para pressionar o governo ucraniano a investigar o seu rival de campanha. Instando a comentar o assunto, o presidente ucraniano, recém-eleito, garantiu: "A mim ninguém me pressiona".

O denunciante, especificou o diário, é alguém que tem um entendimento sofisticado da política ucraniana e as relações entre Washington e Kiev e alguns conhecimentos acerca da lei. Apesar de tudo, o funcionário, que poderá vir a ser chamado a depor no Congresso, à porta fechada, admite que não presenciou a conversa entre Trump e Zelensky.

Após a decisão do NYT em divulgar que o denunciante é um agente da CIA, o jornal recebeu as mais variadas reações dos leitores, alguns deles funcionários de agências de segurança dos EUA a criticar o feito. Alguns argumentaram que o jornal estava a colocar em risco de vida o denunciante e a desencorajar outras pessoas que, de futuro, queiram fazer o mesmo.

"O presidente a alguns dos seus apoiantes atacaram a credibilidade do denunciante, o qual apresentou informações que deram origem ao início de um procedimento de impeachment. Decidimos publicar informação limitada sobre o denunciante - incluindo o facto de ele trabalhar numa agência não política e de ele conhecer bem o que se passa na Casa Branca - porque queríamos dar aos leitores informação que lhes permita tirarem as suas próprias conclusões sobre o que é ou não credível", disse, num artigo publicado esta sexta-feira, o diretor-executivo da publicação, Dean Baquet.

Trump comparou a pessoa que cedeu as informações a um espião traidor da pátria. "Quero saber quem é a pessoa que deu a informação ao denunciante, porque isso é quase um espião", terá dito Trump, segundo os jornais New York Times e Los Angeles Times. "Sabem o que costumávamos fazer nos velhos tempos em que éramos [EUA] mais espertos, certo? Os espiões e a traição, costumávamos lidar com isso de maneira um pouco diferente do que fazemos agora", evocou Trump, na quinta-feira, num evento privado no Hotel Intercontinental em Nova Iorque, de acordo com o Los Angeles Times.

O telefonema entre Trump e Zelenskiy deu-se no dia exatamente a seguir à comparência de Robert Mueller no Congresso para falar das conclusões a que chegou na investigação sobre as interferências russas nas eleições de 2016. O ex-procurador-geral e ex-diretor do FBI, para desilusão dos democratas, limitou-se a repetir as conclusões do seu relatório: a Rússia tentou interferiu na campanha dessas presidenciais mas não foi possível provar conluio do lado da equipa de Trump. Aqui, existe uma nuance, pois Mueller não inocentou Trump, apenas disse que, de acordo com os procedimentos internos do Departamento de Justiça dos EUA, bem como com a Constituição, não é possível investigar e acusar um presidente em funções. "Acusar o presidente de um crime, portanto, não era uma opção para nós".

Nesse dia, Mueller matou as esperanças dos democratas num processo de impeachment contra Trump, agora ressuscitadas com este novo caso do telefonema entre o líder americano e o seu homólogo ucraniano. Apesar de tudo, a destituição só iria para a frente se os republicanos, que têm a maioria no Senado, retirassem o seu apoio ao atual chefe do Estado.

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