Nova fase da Operação Lava-Jato desenterra assassinato

Caso Celso Daniel, sobre a morte de um prefeito do PT em 2002, pode ter relação com o Petrolão, diz Sergio Moro.
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A Carbono 14, 27ª etapa da Operação Lava-Jato deflagrada ontem, recuperou crimes antigos no Brasil: o Caso Celso Daniel, sobre o assassinato em 2002 do prefeito do PT da cidade de Santo André, morte ainda considerada misteriosa pela sua família, e o Escândalo do Mensalão, esquema de compra de deputados durante o primeiro mandato de Lula da Silva como presidente do Brasil. Para o juiz Sergio Moro, que conduz as operações a partir de Curitiba, os três crimes - morte de Celso Daniel, Mensalão e Petrolão - podem ter relação.

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Ronan Maria Pinto, um dos dois detidos na operação, é o eventual elo de ligação. Dono do jornal Diário do Grande ABC, que circula nas cidades de Santo André, São Bernardo e São Caetano, nos arredores de São Paulo, e de empresas de transporte e recolha de lixo, Pinto foi um dos destinatários dos 12 milhões de reais [cerca de três milhões de euros] do empréstimo pedido pelo PT ao Banco Schahin e posteriormente pago por José Carlos Bumlai, criador de gado amigo de Lula, com dinheiro ilegal da Petrobras.

"Chama a atenção o malabarismo financeiro para viabilizar a transação, tendo o valor do Banco Schahin para Ronan Maria Pinto passado por três intermediários (José Carlos Bumlai, Bertin Ltda e Remar Agenciamento), escreve Moro no despacho.

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Segundo a investigação, a operação financeira teve ainda intermediação da S2 Participações, de Marcos Valério, o operacional do Mensalão condenado a mais de 40 anos de prisão, que disse em depoimento que Ronan Maria Pinto estava a chantagear Lula, José Dirceu, braço-direito do ex-presidente detido no Mensalão e no Petrolão, Gilberto Carvalho, ex-chefe de gabinete de Lula, Sílvio Pereira, ex-secretário-geral do PT e detido ontem, e Breno Altmann, ex-jornalista e alvo de condução coercitiva na Carbono 14, a propósito da morte de Celso Daniel.

Os investigadores disseram em conferência de imprensa que não descartam a hipótese de Pinto estar a chantagear Lula e os outros cinco para ficar calado sobre a morte de Celso Daniel ou sobre um esquema de corrupção montado na prefeitura de Santo André que o prefeito queria denunciar. A tese de crime político vem sendo defendida pelos irmãos de Celso Daniel desde 2002: afirmam que o irmão foi morto por querer denunciar um esquema de desvio de dinheiro da prefeitura para os cofres do PT.
"É possível que este esquema criminoso tenha alguma relação com o homicídio, em Janeiro de 2002, do então prefeito de Santo André, Celso Daniel", redigiu Moro.

Na altura, a morte de Celso Daniel, que foi sequestrado por seis pessoas após perseguição de carro quando saía de um jantar numa churrascaria dos Jardins, bairro nobre de São Paulo, foi considerada "crime comum". Detidos pela polícia, os seis criminosos disseram que mataram Daniel por engano, confundindo-o com outra pessoa.

Além das detenções de Ronan Maria Pinto e de Sílvio Pereira e da condução coercitiva de Breno Altmann, também Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT e condenado no Mensalão, foi forçado a depor ontem na 27ª fase da Lava Jato.

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Para o PT, a ligação entre os crimes "é uma tentativa de semear o caos por Sérgio Moro". "Mais uma vez os investigadores da Lava-Jato extrapolam as suas funções e agem como se fossem promotores criminais do estado de São Paulo, já existem pessoas a cumprir pena por esse caso, voltar a ele é artificial e incompreensível", acusou Paulo Pimenta, vice-líder parlamentar dos petistas.

Depois de ter falado na quarta-feira durante cerimónia de entrega de moradias do programa Minha Casa, Minha Vida e de quinta-feira ter discursado à margem de um encontro no Planalto com artistas e intelectuais, Dilma Rousseff voltou ontem a referir-se à crise política numa ação sobre a reforma agrária. "Nós não defendemos a violência, eles exercem a violência, nós não", disse a presidente. "Nós devemos manter-nos vigilantes e oferecer resistência às tendências anti-democráticas e às provocações, nós não defendemos qualquer perseguição de qualquer autoridade porque pensa assim ou porque pensa assado", continuou Dilma. Para a chefe do Estado alvo de impeachment, "as regras do jogo não podem ser alteradas a meio". O Ministro do Desenvolvimento Agrário Patrus Ananias pediu depois a palavra e terminou o discurso dizendo "não vai ter golpe", a palavra de ordem dos brasileiros que são contra o impeachment, perante aplausos e cânticos dos presentes. Noutra sede, o presidente da Comissão de Impeachment Rogério Rosso, do PSD, disse que tenciona dar início à votação do relatório às 3 da manhã de dia 11, exatos cinco dias úteis após Dilma apresentar a sua defesa, prevista para segunda-feira. O objetivo é dar a palavra aos 65 membros até à meia-noite do mesmo dia para não atrasar os trabalhos.

Em São Paulo

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