Noruega quer oferecer uma montanha à Finlândia pelo seu 100.º aniversário

Ideia surgiu em 1972 e é da autoria de um geofísico norueguês reformado. Proposta é bem acolhida pela população e pela primeira-ministra, mas esta alerta para o facto de a Constituição não permitir alterações no território.

Enquanto nos Estados Unidos Donald Trump quer construir um muro na fronteira com o México, na Noruega a intenção é desviar a fronteira para oferecer uma montanha à Finlândia como presente do 100.º aniversário da sua independência da Rússia, que se celebra a 6 de dezembro. A ideia foi de Bjorn Geirr Harsson, um geofísico reformado de 77 anos. Mas pode esbarrar na Constituição norueguesa.

"Tive a ideia em 1972, quando fiz um trabalho na área da fronteira. Vi que o ponto mais alto na Finlândia era numa encosta e a montanha era na Noruega. Então mandei uma carta para o Ministério dos Negócios Estrangeiros a propor que o presente do povo norueguês para a Finlândia deveria ser o topo da montanha", conta este norueguês no Battle for Birthday Mountain (Batalha pela Montanha do Aniversário), vídeo lançado sobre o projeto desta inusitada oferta.

Em causa está uma montanha chamada Halti, que fica na fronteira entre a Finlândia e a Noruega. O cume dessa montanha está a 1365 metros de altitude e fica na parte norueguesa, não estando sequer na lista dos 200 picos mais altos do país. Contudo, uma pequena elevação mais abaixo, nos 1324 metros, por onde passa a fronteira entre os dois países, acaba por ser o ponto mais alto da Finlândia. A título de curiosidade: o pico mais alto em solo finlandês fica na montanha de Ridnitšohkka e tem 1316 metros.

Para dar à Finlândia um novo ponto mais alto seria suficiente mudar a fronteira entre os dois países 150 metros para norte e 200 metros para leste, com a Noruega a perder cerca de 0,015 km2. Os finlandeses ganhariam assim sete metros - ficando nos 1331 metros de altura. "Isto não mudaria um quilómetro quadrado da Noruega ou da Finlândia. Mas faria uma grande diferença que o ponto mais alto da Finlândia fosse um cume e não uma encosta", disse Harsson ao The Telegraph.

Não existe nenhum motivo para os noruegueses oferecerem este presente aos finlandeses, mas esse parece ser o objetivo. "A Noruega atribui o Nobel da Paz todos os anos e ao dar à Finlândia este pico de montanha podíamos mostrar que tratamos bem os nossos vizinhos", refere Harsson no vídeo. "Por todo o mundo vemos países que lutam ou entram em guerra para aumentar os seus países, mas a Noruega está disposta a dar uma pequena parte, mesmo sem ninguém pedir. É um presente do coração dos noruegueses, não esperamos nada em troca, queremos dar-lhes algo simpático quando eles celebrarem o 100.º aniversário como nação livre", garantiu o geofísico reformado.

Svein Oddvar Leiros, presidente da Câmara de Kafjord, município a que pertence o pico da Halti, é a favor da ideia, dizendo que "se fizermos isto, espero que seja um exemplo para outros países que estão a lutar por fronteiras nacionais".

"É um caso fascinante. De certa forma é fácil, não é habitada e é remota, por isso realmente não afeta ninguém. Não é um espaço simbólico para nenhum dos países, ninguém iria reparar se a Noruega desistisse do local", declarou à revista Geographical Phil Steinberg, diretor do Centro de Investigação das Fronteiras da Universidade de Durham.

A ideia de Bjorn Geirr Harsson é de 1972, mas só há pouco mais de um ano ganhou expressão com a página Halti Som Jubileumsgave, no Facebook, que já conta com mais de 17 mil seguidores. "As pessoas na Noruega acham a ideia muito, muito boa. Por isso apoiam-na. Só alguns políticos no Parlamento é que usaram o argumento da Constituição", explica o geofísico norueguês.

A primeira-ministra Erna Solberg acolheu bem a ideia, defendendo que seria "um claro sinal de que a Noruega e a Finlândia têm uma relação próxima", mas recordou que viola o artigo 1.º da Constituição, que estipula que o reino da Noruega é "indivisível e inalienável".

Problema que já havia sido levantado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Borge Brende: "Não é costume dar parte do nosso país, mesmo só um pico, como presente para outro país. Existem constrangimentos legais relacionados com a lei norueguesa e a Constituição. Porém, estamos a analisar o assunto, mas não é uma questão simples."

Mas um professor de Direito da Universidade do Ártico da Noruega, Oyvind Ravna, adiantou ao Aftenposten que a Constituição não se refere a pequenos ajustes fronteiriços, chamando a atenção para o facto de as fronteiras com a Finlândia e a Rússia terem sofrido mudanças em tempos recentes, de forma a refletir mudanças em leitos de rios, bancos de areia e ilhotas.

"A mudança de territórios tem sido bastante comum, normalmente por questões políticas. As fronteiras estão sempre a mudar. As fronteiras podem ser demarcadas em determinado ponto de um rio, por exemplo, e os rios mudam. A Noruega foi dada à Suécia pela Dinamarca quando esta perdeu as Guerras Napoleónicas, as ilhas Shetland foram oferecidas à Escócia como parte de um dote norueguês. Por isso, quando olhamos para esta história, não parece uma ideia tão escandalosa", sublinhou Steinberg. No dia 6 de dezembro se verá se esta história terá um novo capítulo.

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