Nem Cameron nem Sturgeon, Trump recebido por protestos na Escócia

Milionário e candidato republicano às presidenciais inaugura campo de golfe a 24 de junho, um dia após referendo sobre o brexit

A petição assinada por mais de 600 mil pessoas para proibir a entrada de Donald Trump no Reino Unido acabou chumbada pelo Parlamento. Sendo assim, o milionário e presumível nomeado republicano para as presidenciais de 8 de novembro nos EUA vai mesmo inaugurar o seu resort de luxo e campo de golfe de Turnberry, na Escócia, no próximo dia 24. Visita que coincidirá com o anúncio dos resultados do referendo da véspera sobre a saída do Reino Unido da União Europeia. À sua espera não deverão estar nem o primeiro-ministro britânico, David Cameron, nem a chefe do governo escocês, Nicola Sturgeon. Mas sim muitos manifestantes.

Mal se soube da visita de Trump, partidos políticos, sindicatos e grupos de pressão convocaram pro- testos para o dia da chegada do magnata do imobiliário que tem raízes escocesas (do lado da mãe) e dois campos de golfe naquele país. Em 2014 comprou Turnberry e depois de um investimento de 200 milhões de libras (perto de 260 milhões de euros) o resort reabre agora com uma suite presidencial onde a noite custa 4500 euros e a partir de agosto oferece aos hóspedes a "sala de conferências mais luxuosa da Europa", segundo os anúncios. "Sou dono dele e estou muito orgulhoso", escreveu Trump no Twitter sobre a reabertura de Turnberry.

Nos últimos dias, vários grupos surgiram para protestar contra a visitar de Trump. Desde o Scotland against Trump, no Facebook, até ao Tripping up Trump (TUT), que luta contra a compra compulsiva de terra para exploração privada. Além de um site, que já existe há alguns anos, o TUT tem uma campanha montada contra os investimentos do milionário americano, com a imagem de Michael Forbes, agricultor escocês que tem lutado contra a construção do resort de Turnberry, recusando sair da sua propriedade, num terreno contíguo que Trump cobiçava. Eleito Escocês do Ano pelo jornal The Scotsman após entrar no documentário You"ve Been Trumped, Forbes não escapou à ira do milionário que lhe chamou "porco".

Os protestos receberam o apoio de Alex Salmond, o ex-primeiro-ministro escocês que garantiu ao The National que "todos os escoceses" têm obrigação de "lutar contra a terrível perspetiva" de Trump vir a tornar-se presidente dos EUA. "Trump é "más notícias". As suas ideias são repelentes, as suas ambições nos investimentos exageradas e as suas políticas destrutivas [...] David Cameron seria idiota se se encontrasse com ele. Estaria a dar credibilidade a Trump e a minimizar-se."

Tensões

Apesar de só em julho, na convenção republicana, Trump se tornar no nomeado oficial do partido para as presidenciais, seria de esperar que a sua visita ao Reino Unido incluísse um encontro com Cameron. Mas o primeiro-ministro britânico não confirmou nem desmentiu tal encontro. Mais, Cameron e Trump estão em lados opostos da barricada no que se refere ao referendo sobre a saída do Reino Unido da UE, o chamado brexit. O chefe do governo de Londres é o rosto do "ficar", enquanto o milionário americano não esconde o seu apoio à saída. "Conheço bem o Reino Unido. Tenho lá muitos investimentos. Diria que ficam melhor sem [a UE]", explicou na Fox News.

Cameron também já veio a público criticar as declarações de Trump sobre os mexicanos e os muçulmanos. O primeiro-ministro britânico considerou "perigosa e estúpida" a proposta do candidato republicano para impedir os muçulmanos de entrar nos EUA. Desde então, os dois homens vieram pôr água na fervura, com Cameron a garantir que ficaria feliz por se encontrar com Trump e o magnata a admitir que afinal até podem vir a ter boas relações no futuro.

Mas a verdade é que não foi marcado qualquer encontro com Cameron durante a visita de Trump, que a equipa do milionário garante apenas coincidir com o dia seguinte ao referendo por coincidência. Quem também não tem qualquer encontro na agenda com Trump é Nicola Sturgeon. Em dezembro de 2015, a primeira-ministra escocesa já retirara ao americano o título de GlobalScot, espécie de embaixador do país no mundo dos negócios. Em março, considerou as suas declarações sobre os muçulmanos "verdadeiramente repugnantes".

Nos EUA, a ida de Trump à Escócia em plena campanha eleitoral também está a ser criticada. Para Tommy Vietor, assessor do presidente Obama e ex-porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, o facto de Trump sair do país "tão perto das eleições e para promover o seu campo de golfe recorda que ele se preocupa mais em fazer dinheiro do que com a campanha".

Recentemente, a CNN questionava-se sobre o dilema moral que as 500 empresas controladas por Trump podem colocar se este chegar à Casa Branca. Como presidente, Trump não é obrigado por lei a desistir dos seus negócios (ao contrário dos restantes eleitos para cargos públicos), não havendo assim conflito de interesses.

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