"Não sentimos que somos de extrema-direita"
Os resgates na zona euro e a aceitação não controlada de refugiados são duas políticas de Merkel que Frank-Christian Hansel acredita que a AfD deve mudar. Formado em Ciência Política, casado com um brasileiro, com quem aprendeu algum português, o deputado em Berlim garante que, a haver um quarto governo Merkel, este não chegará ao fim do mandato.
Vemos que a AfD cresce nas sondagens, pelas mais variadas razões, ao mesmo tempo em que divide a sociedade alemã. Têm prazer em ser um fator de divisão?
Nós fomos fundados em 2013 e o que queremos é que as pessoas que perderam a confiança no governo de Angela Merkel, na CDU, no SPD, encontrem uma nova âncora política. O que aconteceu é que o governo e os media, assim que começámos a ganhar poder, rejeitaram-nos e começaram a dizer que somos de extrema-direita. Não sentimos que somos de extrema-direita ou de direita populista, mas sim um partido de centro-direita, que quer corrigir tudo o que foi feito mal em termos políticos em várias áreas. Os resgates na zona euro, por exemplo, pois o euro dividiu a Europa. Até pode ser bom para a Alemanha mas não é para o Sul da Europa. Depois a crise dos refugiados, que não é nenhuma catástrofe natural, é uma crise gerada pela mão de Merkel. Então o fator de divisão não somos nós mas sim o governo de Merkel.
Também vos chamam oportunistas por terem começado como um partido anti-euro e depois se terem aproveitado da questão dos refugiados...
Não é verdade. Desde o início tínhamos um programa. Estavam lá os problemas da Alemanha, como a educação, o problema demográfico, defendíamos uma lei da imigração, que fosse buscar orientação por exemplo à de países como o Canadá. Mas depois veio a crise do euro e a entrada de 600 mil pessoas sem documentos e sem controlo das fronteiras. E isso, claro, é um dado novo, que preocupa uma parte do eleitorado.
Os refugiados e os seus filhos não poderão equilibrar a balança demográfica?
O Ministério do Trabalho admite oficialmente que é preciso, em média, sete anos para um refugiado ser capaz de entrar no mercado laboral. Durante esse tempo têm que ser sustentados. A um custo explosivo. Todos os países têm problemas demográficos. Não podem ser resolvidos assim. Esta é uma questão que vai para além da moralidade. Claro que quem aceitar os nossos valores, a nossa Constituição, é bem-vindo, mas não queremos dentro de algumas gerações ter aqui implantada a Sharia.
Falam em expulsar refugiados. Como é que fariam isso sem violar as leis alemãs, europeias e internacionais?
Não expulsamos ninguém. Queremos aplicar a lei. 90% das pessoas não têm direito a estar aqui à luz da lei de asilo que existe. O que acontece é que existe a lei. Mas deixa-se toda a gente ficar.
Mas não podem devolver refugiados, como os sírios, cujo país está em guerra...
Se eles são realmente vítimas da guerra devem ser protegidos. Mas muita gente entra sem documentos, diz que é síria, mas não é. E depois há problemas de segurança, já houve aqui um atentado em Berlim, porque não há um verdadeiro controlo das fronteiras. Isto não é xenofobia. É um facto. Schengen não funciona, ninguém controla as fronteiras, é preciso saber quem entra, porquê. É isso que queremos. Aqui toda a gente entra, vai ficando, recebendo dinheiro, casa.
Então defendem uma aposta na segurança?
Não é só isso. Primeiro tem que haver um sinal político, enviado para fora, dizendo que a Alemanha não é o paraíso na terra e não pode vir para aqui toda a gente. Aceitamos ajudar, claro, mas tem que ser uma ajuda temporária e não a ideia de uma vida sustentada pelo Estado social.
Esperam ser o terceiro partido mais votado amanhã?
Sim.
Merkel recusa uma coligação, por isso ficarão na oposição. Qual será a vossa prioridade no Bundestag, onde não conseguiram entrar em 2013?
Ainda bem, por um lado, que não entrámos, porque ainda não éramos um partido consolidado. Prioridade serão as áreas que já referi, como a lei da imigração, por exemplo. Mas o governo de Merkel não vai chegar ao fim dos quatro anos porque, se ela se aliar ao SPD, será o fim dos sociais-democratas e, se ela escolher os liberais do FDP e os Verdes, haverá divergências ideológicas. Portanto, face aos problemas que se colocarão, penso que o governo não se aguentará. Por isso, o mais importante, para nós, é fazer uma oposição sólida, sem erros, para daqui a dois anos a CDU ser obrigada a decidir se escolhe aliar-se ao centro-direita ou à esquerda.
Diz que não são de extrema-direita, mas um dos candidatos da AfD, Alexander Gauland, afirma que a Alemanha deve orgulhar-se dos feitos da II Guerra Mundial...
A AfD existe para defender o futuro e não para defender certas atitudes em relação ao passado.
Mas não acha que estas declarações mancham a imagem externa da Alemanha?
Sim, causam escândalo, não ajudam muito.
Enviada especial a Berlim