"Não há progressos", diz o Parlamento Europeu sobre as negociações do Brexit
"Vim aqui na esperança de ouvir propostas que pudessem avançar com as negociações. No entanto, devo observar que não houve progresso", disse David Sassoli, presidente do Parlamento Europeu, após uma reunião com o primeiro-ministro britânico Boris Johnson em Downing Street.
Em comunicado, Sassoli revelou a razão pela qual afirma não ter existido um avanço nas conversações sobre a saída do Reino Unido da União Europeia (UE). "Nós (Parlamento Europeu) não vamos concordar com uma solução que comprometa o acordo de Sexta-Feira Santa e o processo de paz (na Irlanda) ou que comprometa a integridade do nosso mercado único", defende o presidente do Parlamento Europeu.
De acordo com Sassoli, Boris Johnson deu respostas vagas às questões que colocou sobre a manutenção de uma fronteira aberta entre a República da Irlanda e a Irlanda do Norte, controlada pelo Reino Unido depois do Brexit.
A reunião em Downing Street aconteceu depois da notícia da BBC dando conta que a chanceler alemã, Angela Merkel, terá dito que a UE só vai aceitar um acordo que mantenha a Irlanda do Norte na união aduaneira europeia, o que vai contra o plano do primeiro-ministro britânico.
Nesse sentido, e após o telefonema com Merkel, o governo britânico prepara-se para uma rutura nas regociações com a UE sobre o Brexit.
Sem manter a província britânica alinhada com o mercado único europeu para evitar uma fronteira física na ilha da Irlanda, a chanceler alemã "disse que um acordo é altamente improvável", adiantou uma fonte do governo à Sky News.
O governo britânico propôs na semana passada a criação de uma zona regulatória comum entre a Irlanda do Norte e a vizinha Irlanda para facilitar a circulação de bens agroalimentares e industriais.
Porém, o plano pressupõe que a Irlanda do Norte sai da união aduaneira europeia e fica a fazer parte de uma união aduaneira britânica quando o Reino Unido sair da UE, após o período de transição, no final de 2020.
Outra fonte anónima, que a antiga ministra do Trabalho Amber Rudd disse à BBC Radio 4 acreditar ser o assessor do primeiro-ministro Dominic Cummings, adiantou à revista Spectator que, "se este acordo morrer nos próximos dias, não será ressuscitado".
Neste cenário, o governo britânico vai tentar concretizar uma saída sem acordo a 31 de outubro, ameaçando com retaliações os países que aceitarem um eventual pedido de adiamento do 'Brexit'.
Legislação em vigor estipula que o primeiro-ministro é obrigado a pedir uma extensão do processo do 'Brexit' por mais três meses, até 31 de janeiro, se não for alcançado um acordo até 19 de outubro nem autorizada uma saída sem acordo.
Depois de se saber o resultado da conversa telefónica entre Merkel e Boris Johnson, o presidente do Conselho Europeu acusou o primeiro-ministro britânico de estar a fazer um "estúpido jogo de passa culpas".
A reação, inflamada, de Donald Tusk foi publicada na rede social Twitter. "Boris Johnson aquilo que está em causa não é ganhar este estúpido jogo de passa culpas. Em causa está o futuro da Europa e do Reino Unido bem como a garantia dos interesses dos nossos povos. Não quer um acordo, não quer uma extensão, não quer revogar [o Artigo 50.º que serviu para acionar o Brexit], quo vadis?", escreveu esta manhã o polaco, depois de a imprensa ter veiculado que o primeiro-ministro britânico se prepara para dar como falhadas as negociações com a UE sobre um plano alternativo para substituir o controverso ponto do backstop no acordo do Brexit.