Não foi astronauta, mas Hillary quer ser a primeira mulher na Casa Branca

Em 2008, perdeu para Barack Obama as primárias democratas e ele tornou-se o primeiro presidente negro dos EUA. Agora ela promete vencer eleições de novembro
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Aos 12 anos, Hillary Clinton mandou uma carta para a NASA a pedir informações sobre o que fazer para se tornar astronauta. A resposta acabou por chegar: "Não aceitamos mulheres." Os anos 1950 estavam a chegar ao fim, mas mesmo naquela época a rapariga custou a aceitar a discriminação. Passado mais de meio século Hillary pode não ter sido a primeira mulher astronauta, mas está a caminho de vir a ser a primeira mulher presidente dos Estados Unidos.

"Hillary Clinton é a pessoa mais bem preparada para a presidência com quem já tive oportunidade de trabalhar. Homem ou mulher", garante Marc Pacheco. E o senador estadual do Massachusetts conhece bem a ex-primeira-dama. Apoiante dos Clinton desde os anos 1990, participou na primeira campanha de Hillary, em 2008, quando a então senadora perdeu a nomeação democrata para um Barack Obama pouco conhecido, mas cuja promessa de mudança conquistou os eleitores americanos.

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Primeira-dama, senadora, secretária de Estado (na primeira administração Obama), experiência não falta a Hillary. Mas para garantir a nomeação democrata que há oito anos lhe escapou terá de evitar repetir os erros. E é verdade que tem sido uma Hillary mais acessível, mais próxima dos americanos, que o facto de ter sido avó há pouco tempo suavizou, que tem surgido na campanha. E mais à esquerda do que nunca, num esforço para travar Bernie Sanders, o senador do Vermont que se define como "socialista democrata" - o outro candidato democrata, o ex-governador do Maryland Martin O"Malley, não chega a 5% das intenções de voto nas sondagens.

Para Tim Sieber, professor de Antropologia na Universidade de Boston, Hillary tem a nomeação garantida desde que não surja uma 'smoking gun', uma prova de uma irregularidade grave durante os seus anos como secretária de Estado.

Trump e companhia

A confirmar-se a muito provável nomeação de Hillary. A verdadeira incógnita é saber quem será o seu adversário republicano. O primeiro teste está marcado para 1 de fevereiro no Iowa, que lança o processo das primárias. A última sondagem do 'Des Moines Register' dá o senador Ted Cruz à frente naquele estado. Mas Donald Trump continua o favorito a nível nacional, isto apesar de o magnata do imobiliário ter protagonizado uma sucessão impressionante de polémicas - desde chamar criminosos aos imigrantes mexicanos até propor banir os muçulmanos de entrar nos EUA. "Gostava de conseguir explicar... A questão é que as pessoas olham para Trump como uma figura dos 'reality shows'", confessa Marc Pacheco. O senador lusodescendente espera apenas que, no momento de fazer uma nova escolha, os americanos percebam que "o seu voto tem consequências".

Já Tim Sieber está convencido de que os republicanos vão chegar à convenção de julho, em Cleveland, Ohio, "sem um nomeado claro". O professor acredita que será ali que entregar a escolha aos delegados é "a melhor maneira de garantir que Trump fica de fora do 'ticket'" republicano. E se tivesse de apostar em quem está mais bem posicionado para tirar ao milionário a posição de favorito republicano, Sieber escolheria Marco Rubio. Para ele o senador da Florida tem "muito mais hipóteses do que [o senador do Texas] Ted Cruz, que tem um temperamento cáustico". Ambos com 44 anos, ambos com pai cubano, tanto Rubio como Cruz podem apelar ao voto latino de que os republicanos "tanto precisam para expandir a sua base".

Uma visão feminina

Com muitos meses de campanha ainda pela frente, Hillary parece neste momento imbatível. Mas o que podemos esperar desta filha de um republicano que a guerra do Vietname fez virar-se para os democratas e que na universidade se apaixonou por um Bill Clinton de barbas ruivas, nunca mais se tendo separado apesar de todos os percalços do casamento? Para Marc Pacheco é simples: "Chegou a altura de a América ter alguém como presidente que olha para as coisas de um ponto de vista diferente, mais diverso." Um ponto de vista feminino também. Afinal, como escrevia há dias a 'Newsweek', "o género é exatamente o que o que Hillary deve usar como elemento da sua estratégia para a corrida à Casa Branca".

E com as mulheres a votarem em maior número do que os homens desde os anos 1980 e a terem sido decisivas para a vitória de Obama face a Mitt Romney em 2012, a carta feminina pode ser decisiva para levar Hillary de volta à Casa Branca - desta vez como presidente. "A demografia está do lado de Hillary, a não ser que os esforços dos republicanos para manter as minorias, os mais pobres, os jovens e os mais velhos longe das urnas resultem", explica Tim Sieber.

Até lá, o ano novo vai também trazer novidades na campanha de Hillary: a entrada em cena do ex-presidente Bill Clinton. Resta saber se a "arma secreta" - como a própria se referiu ao marido há dias - vai fazer ricochete ou se vai ajudar a ex-primeira-dama a entrar para a história como primeira mulher presidente dos EUA. E ele a tornar-se 'first gentleman'?

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