#MosqueMeToo. Muçulmanas denunciam abusos na peregrinação a Meca
Numa altura em que os maus tratos, o assédio e os abusos sexuais estão nas bocas do mundo devido aos escândalos que assolaram Hollywood, é a vez de a religião muçulmana se ver envolvida neste tipo de assuntos. E se para Hollywood surgiu o movimento #MeToo, surge em torno do Islão o movimento #MosqueMeToo.
O hashtag surgiu como forma de defesa e divulgação da situação por parte de mulheres muçulmanas durante a Hajj - peregrinação a Meca - e tudo terá acontecido junto à Kaaba, construção cúbica que é uma das mais importantes para o mundo muçulmano.
Sabica Khan, uma paquistanesa, divulgou aquilo de que foi alvo no Facebook, mas viu-se depois obrigada a fechar a sua conta na rede social. O El País, no entanto, cita o que a mulher escreveu nessa publicação: "Durante a minha sexta volta [à Kaaba], reparei de repente que algo estava a ser pressionada com muita força. Fiquei paralisada, sem saber se era algo intencional".
Acrescenta que sentiu depois uma mão na cintura e nas nádegas, e foi aí que se virou para tentar perceber quem a estava a assediar. Não conseguiu perceber, a multidão era gigantesca. Não denunciou também a situação, por achar que ninguém ia acreditar nela, ou que ia sofrer represálias.
"Todas as minhas memórias da peregrinação à cidade santa ficaram ofuscadas por esse acontecimento horrível. Fiquei petrificada. Não podia fugir, então parei para ver o que estava a acontecer, mas não consegui ver quem era", acrescentou.
Várias muçulmanas identificaram-se com a publicação de Sabica Khan e acabaram por partilhar as suas experiências desagradáveis quando davam as sete tradicionais voltas à Kaaba, explica também o jornal espanhol. Durante a Hajj, podem estar mais de dois milhões de fiéis em Meca.
Quem criou a hashtag, no entanto, não foi Sabica Khan, mas sim Mona Eltahawy, que declarou ao El País que ficava "feliz por ver as mulheres a expor os abusos que sofreram durante a Hajj". Ativista e feminista egípcio-norte-americana, Khan lançou o #MosqueMeToo. Mona Eltahawy confessa ter passado pela mesma experiência em 1982, com 15 anos, algo que viria a revelar 30 anos depois e também no seu livro Headscarves and Hymens: Why the Middle East Needs a Sexual Revolution. Nessa obra, conta que durante anos não contou nada a ninguém, nem aos seus pais, por não ter confiança e por a santidade da peregrinação tornar as coisas muito complicadas.
"Há vários anos que falo deste assunto e sempre encontrei mulheres que me diziam também ter acontecido com elas. Mas é difícil avaliar o alcance do problema porque com o tabu e a vergonha que acompanham os abusos sexuais vem também o facto de ter acontecido no lugar mais sagrado do Islão, o que aumenta ainda mais a pressão sobre as mulheres para que fiquem em silêncio. Nós, muçulmanas, estamos num beco sem saída", explica ainda.