Melania homenageia vítimas da pandemia, fala em imigração e apelou à harmonia racial

A mulher de Trump levou compaixão para o segundo dia da convenção republicana, marcada também pelo discurso do secretário de Estado Mike Pompeo durante uma viagem oficial a Israel, quebrando o protocolo, o que tem gerado muitas críticas.
Publicado a
Atualizado a

No segundo dia da Convenção Nacional Republicana, na terça-feira, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou-se para a família, perdoou um ex-criminoso e supervisionou uma cerimónia de naturalização para cinco imigrantes.

"No meu marido, têm um presidente que não vai parar de lutar por vocês e pelas vossas famílias", garantiu a primeira-dama, ela própria uma imigrante, num discurso em que abordou o racismo e as vítimas da pandemia.

Melania Trump levou para a convenção compaixão num discurso de 26 minutos, em que preferiu não atacar os democratas nem Joe Biden, o candidato que Trump vai enfrentar nas eleições de 3 de novembro. Bem diferente de Eric e Tiffany, filhos do presidente norte-americano de um anterior casamento, que discursaram antes da primeira-dama na Convenção Republicana.

"Não quero usar este tempo precioso para atacar o outro lado, porque, como vimos na semana passada, esse tipo de mensagem só serve para dividir ainda mais o país", afirmou Melania, referindo-se à Convenção Democrata.

Num discurso feito nos jardins da Casa Branca, tendo a assistir na primeira fila Donald Trump, a primeira-dama falou nas vítimas da pandemia, que matou quase 180 mil pessoas nos EUA, e que tem sido quase ignorada pelos outros oradores e até pelo presidente norte-americano.

"As minhas mais profundas condolências vão para todos os que perderam um ente querido", afirmou Melania, que encerrou a segunda noite da convenção. "O Donald não descansará até que tenha feito tudo o que puder para cuidar de todos os afetados por esta terrível pandemia", referiu ainda.

Melania falou da sua experiência como imigrante nos EUA e reconheceu o aumento das tensões raciais no país, depois da morte de George Floyd, asfixiado por um agente da polícia, o que motivou protestos nos EUA e em vários países.

Melania fez um apelo aos norte-americanos

"Refleti sobre a agitação racial no nosso país. É uma dura realidade o facto de não nos orgulharmos de partes de nossa história", disse. E fez um apelo. "Peço aos cidadãos deste país que parem por um momento, façam uma pausa e vejam as coisas de todas as perspetivas."

Perante os protestos violentos que tomaram algumas ruas nos EUA, Melania pediu aos cidadãos que "parem com a violência e com as pilhagens, e que nunca façam suposições com base na cor da pele de uma pessoa".

Além de Melania Trump, dois dos cinco filhos do candidato do republicano, Eric e Tiffany, foram algumas das apostas em destaque no programa da convenção, que incluiu ainda uma intervenção inédita a partir de Israel do secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, de um nativo americano e de uma ativista antiaborto.

A dez semanas das eleições presidenciais, Trump está sob crescente pressão para remodelar os contornos da campanha, enquanto tenta conter a pandemia e a devastação económica, com os republicanos a procurarem identificar uma mensagem política consistente que garanta a sua reeleição.

Pouco se falou da pandemia ao longo da noite de terça-feira, exceção feita a Melania Trump, embora continue a ser um problema dominante para os eleitores.

O número de mortos com covid-19 nos Estados Unidos aproxima-se dos 180 mil, de longe o maior do mundo, e não há sinal de desaceleração. A taxa de desemprego do país ainda ultrapassa os 10%, mais alta do que durante a Grande Recessão. E teme-se que mais de cem mil empresas fechem para sempre as portas.

A maioria das sondagens dão vantagem ao rival democrata Joe Biden, que também lidera em questões como carácter, confiança e simpatia.

Trump perdoa ex-criminoso

Num dos poucos momentos emocionantes da noite, Trump mostrou um vídeo no qual assinava um perdão a Jon Ponder, um ex-assaltante de bancos condenado que fundou uma organização que ajuda prisioneiros a reintegrarem-se na sociedade.

"Vivemos numa nação de segundas oportunidades", afirmou Ponder ao lado de Trump, que sublinhou, por sua vez, que "a vida de Jon é um belo testemunho do poder da redenção".

A convenção ficou igualmente marcada por um incidente: Mary Ann Mendoza, uma mulher do Arizona cujo filho, um polícia, foi morto em 2014 num acidente de carro que envolveu um imigrante ilegal, foi retirada do programa minutos antes do início do evento.

Mendoza tinha direcionado os seus seguidores na rede social Twitter para uma série de mensagens antissemitas e conspiratórias.

Os republicanos procuraram passar uma imagem de inclusão - além da cerimónia de naturalização -, com as presenças e os discursos do procurador-geral de Kentucky, Daniel Cameron, e da governadora da Florida, Jeanette Nunez.

Cameron foi o primeiro afro-americano a ocupar um cargo estadual no Kentucky, Nunez foi a primeira latina governadora na Florida.

Mike Pompeo quebra o protocolo

Mike Pompeo discursou durante uma viagem oficial a Israel, o que já motivou críticas, e rompeu com décadas de tradição em que os secretários de Estado evitaram envolver-se na política doméstica.

Entre os elogios à atuação de Trump na política externa, Pompeo elencou o que foi alcançado com o atual presidente no Irão e na Coreia do Norte, por exemplo, mas sublinhou sobretudo a forma como tem sido gerido o dossiê chinês, tanto na responsabilização de Pequim quanto à pandemia como no desenvolvimento do braço-de-ferro comercial.

As eleições presidenciais estão agendadas para 3 de novembro.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt