Marina Silva é pré-candidata mas precisa de fazer alianças
Após "um ciclo de reflexões", Marina Silva decidiu, enfim, assumir que é pré-candidata à presidência da República em 2018. Com potencial interessante - é terceira classificada na generalidade das sondagens e passou incólume pelo furacão da Operação Lava-Jato - a ambientalista sofre, no entanto, com a irrelevância do seu partido: Rede Sustentabilidade. No Brasil, o tempo de antena é proporcional aos votos obtidos pelas forças políticas nas eleições anteriores - como o Rede só foi formado no decorrer desta legislatura, não tem direito a mais do que o mínimo de 12,8 segundos, duas vezes ao dia, nas TVs.
Para contornar esse obstáculo, o deputado Miro Teixeira, que foi eleito pelo PDT mas mudou-se para a Rede a meio da legislatura, está encarregado de costurar alianças com partidos sem candidato mas com tempo de antena de sobra. Tem encontro marcado com líderes do PSB, partido com direito a generosos 44,8 segundos pelo qual Marina se candidatou em 2014, substituindo Eduardo Campos, que morreu num desastre de avião três meses antes das eleições, e com representantes do PV, que hospedou a candidata em 2010. Também o PPS, que apostava em Luciano Huck como candidato mas ficou órfão depois de o apresentador da TV Globo desistir, pode ser seduzido pela candidata Marina.
O assunto não é secundário porque em sete das eleições diretas após a ditadura, em quatro o mais votado foi também o com maior tempo de antena. Só Collor de Mello, na eleição original, em 1989, e Lula da Silva, nas duas que venceu são exceções - Lula, ainda assim, era dono do segundo maior tempo. "A TV é muito importante", concede Bazileu Margarido, coordenador-executivo nacional da Rede, "mas não é o único canal para apresentar as propostas e debater com a sociedade", acrescentou.
Tanto a Rede, que só esperava pelo anúncio oficial de Marina para avançar com a pré-campanha, como a equipa de Jair Bolsonaro, candidato de extrema-direita em segundo nas sondagens, apostam nas mais democráticas redes sociais para chegar ao maior número de pessoas - nesse particular, Bolsonaro é mais influente até do que Lula.
No seu discurso de apresentação, a candidata da Rede, que segundo sondagem de sábado do Instituto Datafolha tem 9% de intenções de voto, perdendo apenas para Lula (34) e Bolsonaro (17), atacou os principais partidos do país, assumindo-se como alternativa ao statu quo."Precisamos de dar um período sabático de quatro anos aos partidos que criaram a crise no país [segundo ela, o PMDB, o PT e o PSDB]", afirmou. "Manteremos as conquistas e daremos o desenvolvimento económico do país com sustentabilidade", disse a candidata que obteve 20 milhões de votos em 2014, menos apenas do que Dilma Rousseff, do PT, e Aécio Neves, do PSDB, que chegaram à segunda volta.
"Só temos direito a 0,05% das verbas do fundo partidário e a 12 segundos de tempo de antena porque eles [PMDB, PSDB e PT] privatizaram os meios políticos", lamentou-se. Mas reagiu: "No entanto, eles até podem vir com melhor alimento, mais gordura financeira mas nós vamos beber a água boa do compromisso da esperança".
Michel Temer, que é do PMDB e cujo governo é apoiado pelo PSDB, também foi alvo de Marina. "Um governo com 3% de aprovação não tem como construir reformas importantes, até porque as reformas importantes não são essas", disse, a propósito da reforma previdenciária, cuja aprovação no Congresso é o principal objetivo de Temer.
Depois de Lula e de Bolsonaro, a líder do Rede é a terceira pré-candidata competitiva a avançar. Sábado, deve ser a vez de Geraldo Alckmin, governador do estado de São Paulo, quando for eleito em convenção do PSDB presidente do partido. Naquela sondagem do Instituto Datafolha, Alckmin contabilizou seis pontos, tantos quantos Ciro Gomes, do PDT, que condiciona a sua candidatura ao eventual impedimento de Lula por questões judiciais.
Em São Paulo