Barcelona saiu à rua pelo 6.º dia. Voluntários travam escalada de violência
A manifestação foi marcada pela organização de jovens da esquerda catalã independentista, Arran, para a Praça de Urquinaona, no centro de Barcelona. O objetivo é exigir a demissão do conselheiro (ministro regional) Miquel Buch, que acusam de meter a polícia regional (Mossos d'Esquadra) às ordens da Polícia Nacional espanhola.
Este protesto, que iniciou o sexto dia consecutivo de manifestações de rua, pretendia ser pacífico, mas autoridades catalães aconselharam o comércio a encerrar às 18:00 e os transportes a pararem naquela zona da cidade. Começou por ser relativamente calmo, devido a ações de voluntários pacifistas, mas com o avançar das horas a violência voltou a ser uma realidade. A polícia fez várias cargas sobre grupos de manifestantes, com os incidentes de destruição, vandalismo e incêndio de mobiliário de urbano a repetirem-se
Ao início da noite, já depois das 20:00 locais, o ministro do Interior, Miquel Buch fez um balanço do dia referindo haver mais de seis mil pessoas a manifestar-se e que até ao momento tudo estava a decorrer sem violência, que chegou mais tarde, embora sem a dimensão de sexta-feira.
Nas ruas, revelava o jornal catalão La Vanguardia, voluntários de diversas organizações de bombeiros, de militares e da saúde juntaram-se para formarem um cordão humano entre os manifestantes independentistas e a polícia, com o propósito de evitar situações de violência. Os voluntários gritavam durante a manifestação: "Somos gente de paz" para evitar cargas das forças policiais. Resultou, momentaneamente.
Manifestantes pacíficos sentados na Via Laietana ainda comemoraram a saída do local dos radicais e da polícia, com gritos "Vencemos". Mas, em redor, continuaram escaramuças. A polícia chegou a fazer disparos quando uma barricada de radicais foi incendiada.
Entretanto o Tribunal Superior de Barcelona, onde estavam a ser ouvidos suspeitos de estarem envolvidos nos distúrbios de ontem, e onde se concentravam os manifestantes, decidiu aplicar a medida de prisão preventiva aos seis detidos, sem fiança, avançou o jornal El País.
O ministro do Interior, nas declarações que fez aos jornalistas, lamentou os feridos de ontem e agradeceu à população que se voluntariou para fazer cordões e evitar conflitos. "Queremos agradecer aos cidadãos que de forma voluntária formaram cordões para que não haja conflitos".
Na sua conta no twitter Carlos Puigdemont já agradeceu aos manifestantes "a impressionante de demonstração de solidariedade".
Durante o dia, o protesto contou com o apoio de outras organizações separatistas, nomeadamente os CDR (Comités de Defesa da República), que defendem a proclamação da República catalã através da "desobediência civil pacífica e não violenta", e a ANC (Assembleia Nacional Catalã), uma organização cívica com o objetivo de alcançar a independência política da Catalunha.
Nos dias anteriores também foram convocadas manifestações "pacíficas" no final da tarde que depois de acabarem, no início da noite, foram seguidas por confrontos violentos entre grupos de jovens encapuzados e a polícia.
Os grupos radicais separatistas têm aumentado o seu grau de violência contra a polícia catalã, transformando nos últimos cinco dias o centro de Barcelona num campo de batalha com várias avenidas cortadas e fogueiras em vários locais.
Os movimentos de protesto começaram na segunda-feira, depois ser conhecida a sentença contra os principais políticos catalães responsáveis pela tentativa de independência, em outubro de 2017. Os juízes decidiram condenar nove deles a penas até 13 anos de prisão, por delitos de sedição e peculato.
Depois do anúncio da sentença, os independentistas fizeram cortes de estradas e de vias de caminho-de-ferro um pouco por toda a Catalunha.
À mesma hora do início da manifestação dos jovens, reuniam no Parlamento da Catalunha o presidente do Parlamento Roger Torrent e Ada Colau. O objetivo é estabelecer um espaço de trabalho entre instituições e entidades sociais e económicas.
Entretanto, o presidente do Governo Regional Quim Torra enviou uma carta ao presidente do parlamento nacional, Pedro Sánchez, a lamentar que tenha de responder por escrito a um comunicado da Moncloa lançado para a comunicação social. Torra reafirmou que o governo nacional não está interessado no diálogo com a Catalunha.
Torra exige que Pedro Sánchez "fixe um dia e hora" para se sentar à mesa das negociações. "É a sua responsabilidade e obrigação. É mais urgente que nunca. Há muito tempo que reclamos uma resolução política para o conflito", afirmou o chefe do governo catalão ao lado do seu vice-presidente, Pere Aragonés, durante uma declaração à imprensa.
Torra reiterou que o movimento independentista é "pacífico", referindo-se às "Marchas da Liberdade". "Nenhuma forma de violência representa-nos", sublinhou o chefe do governo catalão que assegurou que o movimento pela independência da Catalunha é "imparável".
Miquel Buch, ministro do Interior do Governo Catalão, reforçou que "a violência não é ferramenta para defender uma ideia democrática".
Poucas horas depois do pedido de Torra para que Sánchez inicie negociações, a residência oficial do governo espanhol reagiu. O executivo de Pedro Sánchez condiciona o diálogo à condenação contundente da violência por parte do governo catalão, considerando que Quim Torra ainda não o fez.
O Palácio La Moncloa pede também que seja reconhecido o esforço feito pela polícia nacional e pelos Mossos d'Esquadra e que seja manifestada solidariedade para com os agentes da autoridade feridos durante as manifestações na Catalunha.