'Mad Mike' Hoare, o famoso mercenário de África, morre aos 100 anos
Um dos mercenários mais conhecidos de África, que comandou golpes de Estado em países como a República Democrática do Congo e liderou outro famoso, por ter fracassado, nas Seychelles, Mike Hoare, morreu aos 100 anos. Apelidado de "Mad Mike" Hoare morreu no domingo na África do Sul, país onde vivia após reformar-se.
Nascido em 1919 na Índia, filho de pais irlandeses, Hoare foi educado em Inglaterra, onde se formou como contabilista. Fez o curso de oficiais no exército britânico durante a Segunda Guerra Mundial e serviu na Índia e na Birmânia. Fervoroso anticomunista, emigrou para a África do Sul em 1948.
"O conhecido aventureiro e soldado da fortuna, tenente-coronel 'Mad Mike' Hoare, morreu durante o sono e com dignidade aos 100 anos de idade num centro em Durban em 2 de fevereiro de 2020", anunciou a família, num comunicado.
O filho Chris disse que Mike Hoare "viveu a filosofia de que se tira mais proveito da vida vivendo perigosamente, e por isso é ainda mais notável que tenha vivido mais de cem anos".
Hoare ganhou fama nos anos 1960, quando, contratado pelo político congolês Moise Tshombe, liderou cerca de 300 soldados na República Democrática do Congo para esmagar uma revolta rebelde de inspiração comunista.
No regresso à África do Sul, terá dito a jornalistas que "matar comunistas é como matar vermes, matar nacionalistas africanos é como se alguém estivesse a matar um animal", afirmou na década de 1960, segundo a agência France-Presse.
"Os meus homens e eu matamos entre 5000 e 10 000 rebeldes nos 20 meses que passei no Congo. Mas isso não é suficiente. Existem 20 milhões de congoleses e presumo que cerca de metade deles eram rebeldes."
A alcunha dos seus soldados era "Wild Geese" [Gansos Selvagens] o que inspirou um filme de 1978, com o mesmo ttítulo, sobre mercenários em África, reunindo um elenco de estrelas - Richard Burton, Roger Moore, Richard Harris e Hardy Kruger.
Em 1981, Hoare liderou um grupo de 46 mercenários que planeava um golpe de Estado para o regresso ao poder do presidente James Mancham no arquipélago das Seychelles, ilhas africanas no Índico. O grupo entrou no país disfarçado de turistas, um suposto grupo de antigos jogadores de râguebi que promovia a caridade. No entanto, o plano foi anulado quando um polícia do aeroporto encontrou uma arma na bagagem e um tiroteio começou. Os homens sequestraram um voo da Air India e forçaram o piloto a levá-los a Durban, na África do Sul, para escapar.
Mas foram detidos na África do Sul. Hoare foi preso e condenado a 20 anos de prisão. Mas só passou preso cerca de três anos antes de se mudar para a França, onde viveu durante 20 anos. Regressou à África do Sul em 2009. Hoare deixa cinco filhos e escreveu vários livros de memórias: Mercenary, The Road to Kalamata, and The Seychelles Affair.
Os seus colegas do auge dos mercenários em África incluem o francês Bob Denard e o belga "Black Jack" Schramme.