Local será tudo para sucesso da cimeira Trump-Kim

Em consideração a Coreia do Sul ou um país terceiro. Mais complexa, será a sua realização nos EUA ou na Coreia do Norte.
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Não há dúvidas sobre o que vão discutir o presidente americano Donald Trump e o líder do regime norte-coreano, Kim Jong-un. Em causa vai estar o programa nuclear e de mísseis balísticos da Coreia do Norte. Como não há dúvidas sobre o momento da cimeira, que será em maio. Também não há muitas dúvidas sobre a composição das delegações que, do lado americano, terão o secretário da Defesa James Mattis, o conselheiro de defesa nacional H.R. McMaster e o secretário de Estado Rex Tillerson. Do lado de Pyongyang, além de Kim Jong-un, será interessante verificar quem são os elementos presentes e, em particular, se a sua irmã, Kim Yo-jong (em ascendente no regime) estará entre eles.

Igualmente importante será ver se o presidente Moon Jae-in, da Coreia do Sul, participará na cimeira e se haverá um ou mais encontros entre os chefes de Estado envolvidos. Moon irá encontrar-se com Kim em Pyongyang pouco antes da cimeira do líder norte-coreano com Trump, que está prevista para maio, e ontem a grande interrogação era, exatamente, o local onde esta poderia decorrer.

A escolha do sítio para a cimeira - e o consenso que seja possível obter entre as partes envolvidas - estava ontem a ser considerado como um reflexo do que haveria a esperar do encontro de dois dirigentes políticos tão diferentes entre si, à frente de dois regimes nos antípodas um do outro e que se insultaram no passado recente. Tanto mais que o que está em causa são os elementos que o regime de Pyongyang desde há muito considera essencial para a sua sobrevivência: o programa nuclear e um arsenal de mísseis de alcance intermédio e balísticos que possa ser visto do exterior como fator de dissuasão. Em 2017, um antigo diretor dos serviços de informações nacionais (DNI, na sigla em inglês), James Clapper expressava uma perspetiva pessimista sobre o resultado de qualquer negociação: "a ideia de que levaremos os norte-coreanos à desnuclearização é, provavelmente, uma causa perdida". Porque, continuava Clapper, para Pyongyang este é "a garantia para a sobrevivência".

A análise do antigo DNI é uma excelente síntese da dimensão daquilo que será discutido na cimeira e por que é importante o local da sua realização. E o simbolismo que terá associado. Nunca do lado americano, um presidente em exercício se encontrou com o dirigente máximo da Coreia do Norte ou esteve neste país. A mais importante figura do governo americano a visitar o país foi a secretária de Estado Madeleine Albright em 2000. Anteriormente, em 1994, o antigo presidente Jimmy Carter estivera em Pyongyang para tentar dissuadir Kim Il-sung, o fundador do regime e avô do atual líder, a abandonar o programa nuclear. Mais tarde, em 2009, será o ex-presidente Bill Clinton a visitar Kim Jong-il, o pai de Kim Jong-un, mas nada mudará nas intenções e estratégia do regime. Uma presença de Donald Trump em Pyongyang seria, só por si, um facto extraordinário e um desafio tremendo para a propaganda do regime, que caracteriza os EUA como o inimigo mortal dos coreanos. Outra razão a desaconselhar a deslocação de Kim é que este, tirando um encontro coma liderança chinesa, ainda antes de ter chegado ao poder, e em que esteve acompanhado pelo pai, nunca se encontrou com nenhum dirigente estrangeiro. A cimeira de finais de abril com o presidente Moon será a sua estreia neste campo.

Uma deslocação de Kim Jong-un a Washington e à Casa Branca seria algo impensável, desde logo para os próprios norte-coreanos e, muito provavelmente, nos EUA, será explicado a Trump que não é um cenário aceitável receber alguém a quem eram dirigidos insultos e ameaças há menos de um ano. Na sua intervenção perante a Assembleia Geral da ONU, em 2017, Trump dirigiu-se diretamente a Kim, aconselhando-o a não menosprezar a determinação americana.

E foi a determinação de Trump, para a grande maioria dos analistas, que acabou por produzir a iniciativa de Kim. Este é no quadro do regime de Pyongyang o único em posição de tomar decisões finais e isso ajuda a entender a aceitação do presidente americano. Embora ontem, uma fonte do Departamento de Estado disse à Reuters, sob anonimato, que a "expectativa é de que as conversações sejam apenas uma discussão preliminar sobre futuras negociações". Para o Conselho das Relações Externas (CFR, na sigla em inglês), Kim aceitou o encontro com Trump "como forma de pôr fim à pressão das sanções internacionais, dando-lhe espaço de manobra para manter alguma forma de dissuasão nuclear".

Excluindo a Coreia do Norte e os EUA, era sugerida a Coreia do Sul ou, mais plausível, a localidade de Panmunjom, na zona desmilitarizada entre as duas Coreias. Outras alternativas seriam a Suécia, país que representa os interesses dos EUA na Coreia do Norte, ou a Suíça, devido à sua tradição de neutralidade na política internacional.

Mas a realização da cimeira está dependente, como ontem acentuou a porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, da "realização de ações concretas e verificáveis" da Coreia do Norte. Antes destas declarações, a Casa Branca divulgara um comunicado referindo que Trump falara com seu homólogo chinês, Xi Jinping, e que "os dois dirigentes congratularam-se com a perspetiva de diálogo entre os EUA e a Coreia do Norte e comprometeram-se a manter a pressão e as sanções até que o Norte dê passos concretos para uma completa, irreversível e comprovada desnuclearização".

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