Lluís Falgàs: "PP ganhou no Ciudadanos um rival nacional muito forte"

O jornalista da RTVE, responsável pelo programa Aquí Parlem, dedicado ao debate parlamentar, defende que os grandes vencedores das eleições autonómicas antecipadas catalãs, Inés Arrimadas e Carles Puigdemont, foram os que conseguiram enviar as mensagens mais claras. A primeira, no sentido de pôr fim ao processo, o segundo de prosseguir com ele.
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O Ciudadanos ganhou, mas os independentistas mantiveram a maioria. E agora o que acontece?

O mesmo que acontecia. Estamos exatamente iguais. O Parlamento da Catalunha dividido ao meio. O que mudou foi os votos de um sítio para o outro dentro de cada bloco. Supresas houve duas. O grande aumento do Ciudadanos, sobretudo na área de Barcelona, dominada tradicionalmente pelos socialistas. E que Puigdemont tenha tido mais votos do que a Esquerda Republicana da Catalunha. Mas, no geral, a situação está exatamente igual à que estava, com este matiz importantíssimo. Por outro lado, houve o descalabro do Partido Popular.

O grande derrotado foi o PP e Mariano Rajoy?

Sim, mas no cômputo geral estamos exatamente iguais. Uma das coisas nestas eleições é que ninguém se moveu um milímetro. O voto do PP foi quase todo para o Ciudadanos e um pouco para os socialistas. No mesmo bloco. Aqueles que depois do 1 de outubro disseram isto não pode ser e vamos votar nos outros... não aconteceu.

No bloco independentista temos Puigdemont no exílio na Bélgica e Junqueras preso. Como vai poder formar governo?

É difícil. O regulamento do Parlamento da Catalunha permite que a acta de deputado seja recolhida por qualquer outro deputado, para a composição do Parlamento, que tem que ser antes de 23 de janeiro. Ao final de 10 dias começa a primeira investidura e ao final de 48 horas, a segunda investidura. Depois há um espaço de dois meses; se não houver possibilidade de formar governo é preciso convocar novas eleições. Mas novas eleições não convêm a ninguém.

Isso quer dizer que alguém pode ir buscar a acta por exemplo de Puigdemont?

Sim. Até pode ser eleito presidente, com outra pessoa a ler o discurso dele. A única coisa que não pode fazer é votar por ele.

Isso quer dizer que o bloco independentista conta com menos votos, entre os que estão no exílio e os detidos?

Sim. Há três pessoas na prisão, Oriol Junqueras, Jordi Sánchez e Joaquim Forn e os quatro que estão em Bruxelas, contando com Puigdemont. São pessoas das listas soberanistas. Não podem votar e têm que renunciar à acta para assumir o outro da lista. E não sendo deputados não podem ser presidentes da Generalitat.

É possível que os que estão presos saiam para poder votar?

Sim, segundo a doutrina do basco Josu Ternera [eleito para as autonómicas bascas de 1998 quando estava detido]. Podem votar, não podem fazer atividade parlamentária. Não podem discursar, viajar para uma atividade, estar numa comissão.

Então podem ter menos quatro votos, dos que estão na Bélgica...

Sim, mas se fizermos as contas, ainda dá. Há os quatro da CUP e podia haver algumas abstenções e, na segunda investidura, conseguem ser eleitos. Depois há outra questão jurídica. No caso de não haver governo, se se aplicar o Estatuto de Autonomia, quando umas eleições foram adiantadas é preciso esperar um ano para fazer outras. Mas, como estas eleições não foram convocadas pelo Estatuto de Autonomia, aqui também haverá um longo debate sobre o tema.

Antes das eleições, falava-se que o grupo do Catalunya en Comú-Podem, do Podemos, podia ser importante. Com esta maioria, deixou de ser?

O grupo do Podemos tem uma novidade, é ter caído a pique na cidade de Barcelona. É onde teoricamente tem mais força, porque a presidente da câmara é Ada Colau. Esperava-se mais votos. Acho que como são umas eleições tão atípicas, como nunca tínhamos visto, que os votos contundentes foram para as mensagens claras. A de Arrimadas, que dizia que ia acabar com o processo independentista. E a de Puigdemont, que disse que ficava na Bélgica porque ia prosseguir com o seu projeto e com o seu processo. São mensagens claríssimas. Iceta equivocou-se quando disse que pediria um indulto para os presos, que alinhava numa terceira via, ao centro... não lhe valeu de nada. Os vencedores foram tecnicamente Arrimadas e politicamente Puigdemont. São as duas mensagens mais claras que alguma vez vi. E agora, olhando para trás, acho que Puigdemont teria tido mais votos se os independentistas tivessem ido juntos, com esta mesma mensagem.

O PP perde muito na Catalunha, mas pode esta posição de força valer-lhe votos no resto de Espanha?

A questão é que agora o PP ganhou no Ciudadanos um rival nacional muito forte. O Ciudadanos ganhou as eleições mas vai estar na oposição, acho que não conseguirá nenhum acordo que permita governar. Não vão mandar em nenhum sítio, mas vão estar em todo o sítio. E isto permite-lhes crescer. Por isso Rajoy disse que não haverá eleições gerais até junho de 2020. Porque agora o que se viu é que PP e PSOE têm pouco a dizer, ao contrário do Ciudadanos. PSOE e PP ficaram muito diluídos aqui. O PSC uniu-se com a Unió e conseguiu mais um deputado, o que não é nada. Há um detalhe interessante: todos os candidatos, na altura de reagir aos resultados, surgiram sozinhos. Xavier García Albiol sozinho, não ao lado de Rajoy. Miquel Iceta sozinho, não com Pedro Sánchez. Pelo contrário, Arrimadas apareceu ao lado de Albert Rivera. Porque há duas intenções: falam da Catalunha, mas têm os olhos postos em Espanha.

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