Primeiro-ministro do Líbano demite-se e culpa os "políticos corruptos"
A demissão do primeiro-ministro libanês Hassan Diab foi nesta segunda-feira confirmada com o governante a anunciar em conferência de imprensa a decisão, depois de uma reunião de urgência do executivo. A queda do governo surge após a indignação popular sobre a explosão do porto de Beirute, que reacendeu os protestos de rua num país em grave crise económica.
Durante a reunião, "a maioria dos ministros pediu ao governo que renuncie", disse a ministra do Desporto e Juventude, Vartine Ohanian, à AFP, assegurando que apoiava os apelos. Horas depois, a demissão era confirmada.
No breve discurso transmitido pela televisão, o primeiro-ministro Hassan Diab disse que está "a dar um passo atrás" para que possa estar com o povo "e travar a batalha pela mudança ao lado dele".
O governante, que estava na chefia do executivo há pouco mais de um ano, disse: "Declaro hoje a renúncia deste governo. Que Deus proteja o Líbano", repetindo a última frase três vezes.
Diab culpou os políticos corruptos que o precederam pelo "terramoto" que atingiu o Líbano. "Eles [a classe política] deveriam ter vergonha de si mesmos, porque a sua corrupção é que levou a este desastre que esteve escondido durante sete anos", acrescentou.
No terreno, há um novo balanço da explosão que aponta para pelo menos 160 pessoas mortas.
Uma fonte do Ministério da Saúde indicou que neste momento existem "pelo menos 20 desaparecidos", enquanto prosseguem as buscas sob os escombros após a catástrofe que também provocou mais de 6000 feridos.
Por sua vez, o Exército libanês anunciou num breve comunicado que equipas de resgate locais, juntamente com equipas de busca da França e da Rússia, resgataram mais cinco mortos.
No domingo, o chefe do batalhão de engenharia do Exército libanês, Rojeh Khoury, anunciou o fim da primeira fase das operações de busca e resgate após três dias de trabalhos que envolveram equipas libanesas e internacionais.
Khoury acrescentou que não foram encontrados sobreviventes e que a partir deste momento "diminuiu a esperança de encontrar pessoas com vida", apesar de prosseguirem as operações para resgatar corpos entre os escombros.
O mesmo responsável precisou que elementos turcos, franceses e russos das equipas de resgate continuam a apoiar os libaneses na "zona vermelha", a mais atingida pela explosão, enquanto outras equipas de diversos países já se retiraram após darem por concluída a sua missão.
A deflagração ocorreu num armazém do porto onde estavam depositadas desde 2014 cerca de 2750 toneladas de nitrato de amónio sem as devidas medidas de segurança, de acordo com as autoridades, apesar de ainda se desconhecer o que provocou a deflagração.
Nos dias seguintes sucederam-se os protestos nas ruas. "Precisamos de uma investigação internacional e de um julgamento para dizer quem matou os nossos amigos e todas as outras vítimas, porque podem tentar esconder a verdade", disse Michelle, manifestante citada pela AFP.
Muitos libaneses estão céticos e esperam para ver como a entrega de ajuda internacional ocorrerá, temendo o sistema sectário organizado pelos "barões" no país. Grupos humanitários libaneses alertaram doadores estrangeiros para o facto de que qualquer assistência financeira corre o risco de ser roubada.
O desastre de Beirute agravou o que se tornou o annus horribilis do Líbano, aprofundando uma terrível crise económica que arrastou metade do país para a pobreza nos últimos meses. Por isso, o governo ficou numa posição muito frágil após a explosão no porto, e a demissão tornou-se um efeito real da tragédia.