Juncker avisa Farage: "É a última vez que aplaudem aqui"

Presidente da Comissão interrompeu discurso para se dirigir ao líder dos eurocéticos. E Farage acusou a UE de estar "em negação"

O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, perguntou esta terça-feira aos deputados eurocéticos do partido britânico UKIP - que defenderam a saída da União Europeia - porque tinham comparecido numa sessão do Parlamento Europeu cujo objetivo era discutir as consequências do referendo que decidiu pelo Brexit.

"Temos de respeitar a democracia britânica e a forma como expressou o seu ponto de vista", começou por dizer Juncker, dirigindo-se aos eurodeputados. As palavras do presidente da Comissão Europeia foram aplaudidas - num raro aplauso - pelos membros do UKIP ali presentes. "É a última vez que aplaudem aqui. Até certo ponto, estou muito surpreendido que aqui estejam. Estão a lutar pela saída da União Europeia. O povo britânico votou a favor da saída. Porque estão aqui?", disse Juncker, interrompendo o seu discurso e falando em inglês para os eurodeputados britânicos.

O presidente da Comissão falava sentado ao lado do líder do UKIP, Nigel Farage, que seguia com auscultadores os discursos dos eurodeputados, até ali maioritariamente em francês e alemão, tendo sido por isso obrigado a recorrer à tradução simultânea.

Antes de a sessão começar, Juncker tinha-se aproximado de Farage, atirando-lhe um beijo, como é costume do presidente da Comissão Europeia, E disse depois que não iria pedir desculpa por estar "triste" com o resultado do referendo britânico: "não sou um robô", sublinhou Juncker, acrescentando: "não sou um burocrata cinzento".

Tendo insistido que o Reino Unido deve explicar rapidamente à UE os termos em que quer construir a nova relação, após o referendo do Brexit, Juncker revelou ter dito à sua equipa para que não iniciasse conversações preliminares com os responsáveis britânicos até que Londres invoque o artigo 50 do Tratado de Lisboa, que prevê a saída de um estado-membro da UE. "Sem notificação não há negociação", disse, respondendo depois aos críticos que exigem que se demita após o Brexit. "Não estou cansado nem doente, como dizem os jornais alemães", atirou. "Lutarei até ao meu último fôlego por uma Europa Unida".

Farage vaiado diz que UE está "em negação"

Os eurodeputados vaiaram e voltaram as costas a Nigel Farage quando o líder do UKIP interveio na sessão do Parlamento Europeu destinada a avaliar as consequências do referendo britânico. "Não é engraçado? Quando cheguei aqui, há 17 anos, e disse que queria liderar uma campanha para tirar o Reino Unido da União Europeia, vocês todos riram-se de mim. Bem, tenho de o dizer, não se estão a rir agora, pois não?", ironizou Farage, dirigindo-se aos eurodeputados. "Estão em negação", acrescentou.

O líder do UKIP defendeu ainda que o Reino Unido não será o último a deixar a União Europeia e que o país deverá rapidamente invocar o artigo 50 do Tratado de Lisboa para que se iniciem as negociações de saída da UE. E decidiu provocar os eurodeputados acusando-os de falta de noção. "Sei que virtualmente nenhum de vocês teve um trabalho decente nas vossas vidas ou trabalhou em negócios ou comércio ou, efetivamente, criou um posto de trabalho. Mas oiçam-me", continuou, fazendo com que os eurodeputados lhe voltassem as costas. Martin Schulz, o presidente do Parlamento Europeu, interveio então para lhe dizer que estava errado ao fazer aquelas declarações, tendo Farage respondido: "Está certo, senhor Schulz. O UKIP costumava protestar contra o sistema, agora é o sistema que protesta contra o UKIP. Alguma coisa aconteceu aqui", resumiu.

Com Reuters

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