Juiz arrasa ex-conselheiro de segurança de Trump. Sentença adiada
"Não escondo o meu repúdio, o meu desdém por este crime", disse o juiz Emmet Sullivan, tendo observado que Michael Flynn mentiu aos funcionários da Casa Branca, que por sua vez mentiram aos cidadãos. "Vendeu o seu país. O tribunal vai ter isso em consideração. Não posso assegurar que se prosseguir hoje não recebe uma sentença de prisão efetiva", disse o juiz, que sugeriu ao ex-militar para continuar a cooperar com a investigação especial para que a sentença seja revista.
Perante estas observações, os advogados de Flynn pediram a interrupção da sessão e em sequência o adiamento da sentença. A sentença foi adiada para março.
Michael Flynn declarou-se culpado em dezembro de 2017 por ter mentido ao FBI sobre as conversas que manteve com o embaixador russo Sergey Kislyak. Em janeiro, Flynn dissera ao FBI que não tinha discutido as sanções dos EUA à Rússia com o diplomata, quando de facto tinha, segundo a sua confissão.
Mentir ao FBI pode ter como consequência até cinco anos de prisão. Mas o general, ex-conselheiro de segurança nacional da administração Trump, ficou a saber no dia 1 de dezembro que, graças aos 19 inquéritos em que participou, o procurador especial Robert Mueller recomendou que cumprisse uma pena entre zero a seis meses de prisão.
Os advogados de defesa pediram ao tribunal uma condenação não superior a um ano em liberdade condicional, com 200 horas de serviço comunitário. O argumento da defesa não é admissível no quadro legal português: a de que Flynn ignorava que mentir ao FBI é um crime e, como tal, merece perdão.
Na semana passada, Mueller contrapôs que Flynn não tinha motivos para mentir nas entrevistas e que um "conselheiro de segurança nacional, antigo diretor de uma agência de informações, tenente-general reformado e veterano com 33 anos das forças armadas sabe que não deve mentir aos agentes federais".
O próprio Flynn, ouvido na terça-feira em tribunal, admitira saber que mentir ao serviço de investigação federal é um crime.
Na segunda-feira, o juiz Emmet Sullivan pediu uma relatório à investigação especial sobre o inquérito do FBI a Flynn em janeiro de 2017, tendo alegado que era relevante para a sentença. A equipa de Mueller entregou um relatório de 10 páginas sobre o assunto.
Flynn é o primeiro membro da administração de Trump a declarar-se culpado de um crime durante a investigação de Mueller, que até agora já acusou dezenas de indivíduos e obteve a condenação de oito pessoas.
Trump disse que despediu Flynn no início de 2017 por mentir ao vice-presidente Mike Pence sobre os seus contactos com os russos, mas que as ações de Flynn não eram ilegais.
Horas antes de o juiz pronunciar-se sobre o caso, o presidente dos EUA enviou uma mensagem de apoio ao homem que pertenceu à sua administração durante 24 dias.
"Boa sorte hoje no tribunal para o general Michael Flynn. Será interessante ver o que ele tem a dizer, apesar da enorme pressão que lhe está a ser exercida, sobre o conluio russo na nossa grande e, obviamente, muito bem-sucedida campanha política. Não houve conluio!", escreveu.
Esta mensagem parece indiciar que, apesar de ter colaborado de forma aprofundada com a investigação especial à interferência russa nas eleições e na alegada influência na campanha de Donald Trump, o presidente conta que este não o tenha acusado, a exemplo de Paul Manafort. O ex-diretor da campanha eleitoral declarou-se culpado e começou a cooperar com a investigação, mas Mueller anunciou em novembro que Manafort violou o acordo ao mentir reiteradamente.