Jeremy Corbyn: o rebelde com muitas causas
Antes o divórcio do que trair um princípio ideológico. Foi por isso que, em 1998, chegou ao fim o segundo casamento de Jeremy Corbyn. A mulher, Claudia Bracchita - uma exilada chilena que se afastou do país natal por oposição ao regime do ditador Augusto Pinochet - inscreveu o mais velho dos três filhos do casal numa escola privada. Em desacordo com a decisão, o líder do Partido Trabalhista preferiu terminar a relação. Não foi esse o único motivo do afastamento entre ambos, mas terá sido a gota de água. "Optámos pela separação amigável tendo em conta que não éramos compatíveis. Havia outros problemas. Em muitos casos as pessoas não se separam apenas por uma razão. Mas a única com legítimo interesse público é o nosso desacordo sobre a escola para o Ben", disse então Corbyn ao The Observer.
O candidato a primeiro-ministro pelo Labour voltaria a casar, em 2013, desta vez com Laura Álvarez, uma advogada mexicana, 20 anos mais nova, que gere um negócio de importação de café. O primeiro matrimónio, entre 1974 e 1979, também foi vítima da dedicação de Corbyn à política. Jane Chapman chegou a contar ao Daily Mail que durante os cinco anos em que estiveram juntos, Corbyn nunca a levou a jantar fora. "Preferia pegar numa lata de feijões e comer diretamente da lata para poupar tempo".
Desde sempre situado na ala mais à esquerda dos trabalhistas, Corbyn mantém-se ainda hoje fiel às suas causas de sempre: o desarmamento nuclear, a solidariedade para com a Palestina, a Irlanda unida, a nacionalização das principais indústrias, a oposição à monarquia, a igualdade e a justiça social, os direitos da comunidade LGBT. Foi sempre um desalinhado. Fazendo as contas, desde 2005, foram mais de 500 as vezes em que votou contra o partido no parlamento britânico. Tal como recorda a BBC num perfil do líder trabalhista, um dos momentos mais tensos entre Corbyn e a liderança do Labour aconteceu em 1984 quando convidou dois ex-prisioneiros do IRA para falarem em Westminster, apenas duas semanas após o atentado de Brighton, que quase vitimou a então primeira-ministra Margaret Thatcher e vários membros do governo.
Jeremy Corbyn, nascido em 1949 em Chippenham, 150 quilómetros a oeste de Londres, cresceu numa família da classe média. O pai era engenheiro elétrico e a mãe professora de matemática num colégio para raparigas. Ele próprio, ironicamente, acabou por estudar num colégio privado. Era ainda adolescente quando nos anos 60 aderiu à juventude dos trabalhistas. Não chegou a licenciar-se, mas passou dois anos na Jamaica a fazer voluntariado. Foi aí, com 19 anos, que deixou crescer a barba. Chegou ao parlamento em 1983, eleito pela circunscrição de Islington Norte, em Londres.
Em 2015 ascendeu à liderança do Partido Trabalhista quase por acaso e contra todas as previsões. Na ressaca das eleições em que o conservador David Cameron conseguiu a maioria absoluta, Ed Miliband abandonou o posto. Vários membros da ala esquerda rejeitaram chegar-se à frente e Corbyn viu-se empurrado para a corrida. Entregou as assinaturas necessárias dois minutos antes do meio-dia de 15 de junho, a hora limite para o efeito. Conquistou os militantes com o um discurso a apelar aos valores históricos dos trabalhistas. Depois do referendo do brexit - em que fez uma tímida defesa da permanência na UE -, viu-se a braços com uma profunda contestação interna. Desafiado por Owen Smith, voltou a reconquistar a liderança do partido com o apoio das bases. Agora luta para chegar a Downing Street.