Israel retira detetores de metal mas estuda instalar câmaras inteligentes
Sob o olhar dos polícias israelitas, um grupo de mulheres muçulmanas rezava ontem de manhã numa das entradas da Esplanada das Mesquitas, na Cidade Velha de Jerusalém. "Não voltaremos a entrar na mesquita de Al-Aqsa enquanto a situação não voltar ao que era [antes de 14 deste mês]. Sem câmaras de vigilância, sem revistas, sem detetores de metal", garantia Widad Ali Nasser à AFP. Os detetores, colocados após a morte de dois polícias israelitas, já foram retirados ontem de madrugada. Para já, o governo israelita reforçou o policiamento deste lugar santo do islão, enquanto espera a instalação de câmaras inteligentes.
Apesar da decisão de Israel, depois de muita pressão da comunidade internacional na sequência dos confrontos dos últimos dias entre muçulmanos e forças de segurança israelitas, as autoridades muçulmanas decidiram manter o boicote à Esplanada das Mesquitas. "Os portões da mesquita [de Al-Aqsa - terceiro lugar mais santo do islão] deviam estar abertos aos fiéis de forma totalmente livre para garantir a liberdade religiosa", anunciou ontem o Waqf, o organismo financiado pela Jordânia que é responsável pela gestão dos bens muçulmanos na Esplanada das Mesquitas. Por isso, o Waqf rejeita "qualquer mudança" no local, incluindo "medidas tecnológicas".
Segundo a edição em inglês do jornal Yediot Ahronot, uma das medidas que o governo de Israel está a analisar é a instalação de câmaras ultrassofisticadas, de alta resolução, equipadas com sensores de calor e capazes de detetar armas e explosivos escondidos, além de facilitarem o reconhecimento facial. A instalação desta tecnologia deverá demorar pelo menos seis meses e custar cerca de cem milhões de shekels (24 milhões de euros). Entretanto, continuam em funcionamento as câmaras de vigilância já instaladas no local. E há quem deixe o alerta: "Colocar câmaras é um passo mais perigoso do que colocar detetores de metal", afirmou ao Haaretz Adnan al-Husayni, governador palestiniano do distrito de Jerusalém.
Os detetores de metal foram instalados no dia 16 deste mês nas várias entradas da Esplanada das Mesquitas, dois dias depois de três árabes israelitas terem matado dois polícias, suspeitando as autoridades que os atacantes tivessem as armas escondidas no local. Seguiram-se vários dias de confrontos entre manifestantes e polícia, que resultaram na morte de cinco palestinianos. Na mesma altura, três civis israelitas foram mortos num colonato por um jovem palestiniano.
Muitos palestinianos viram na instalação dos detetores uma forma de Israel aumentar o seu controlo sobre a Esplanada das Mesquitas, uma das zonas de maiores tensões em Jerusalém Oriental, ocupadas por Israel desde 1967. Em protesto, muitos fiéis decidiram rezar do lado de fora do recinto. "É um movimento de rua", explicou à AFP o xeque Raëd Dana, responsável do Waqf.
A retirada dos detetores de metal surgiu após uma chamada telefónica entre o rei da Jordânia - guardiã oficial dos locais santos muçulmanos em Jerusalém - e o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu. A decisão de Israel terá permitido o regresso de um guarda israelita acusado da morte de dois jordanos num incidente na embaixada de Israel em Amã e que a Jordânia queria interrogar. Os dois países assinaram um acordo de paz em 1994.
Na segunda-feira, a ONU alertara para os "custos catastróficos" que um alastrar da violência podia ter.