Israel, na mira do Irão, ameaça com resposta "retumbante"

Benjamin Netanyahu, a braços com acusações de corrupção e à beira de novas eleições, pode beneficiar da escalada de tensão na região ao focar a campanha na segurança.

A resposta iraniana à morte do general Qassem Soleimani veio sob a forma de uma dúzia de mísseis lançados de madrugada contra duas bases iraquianas que albergam tropas norte-americanas. Mas também de uma ameaça: caso haja uma retaliação de Washington, o Irão vai atacar "o interior dos EUA", "Israel" e "aliados dos EUA".

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, já reagiu, indicando que Israel responderá de "forma retumbante" caso seja atacado. "Quem nos atacar receberá uma resposta retumbante", garantiu numa conferência de imprensa em Jerusalém, reiterando também o seu apoio aos EUA.

Netanyahu disse ainda que Israel "está completamente" ao lado da decisão do presidente norte-americano e que Donald Trump devia ser congratulado por agir "com rapidez, ousadia e resolução".

Depois de duas eleições sem conseguir formar governo e alvo de acusações de corrupção, Netanyahu "foi quem ganhou mais com a morte de Soleimani", escreveu o diretor do jornal israelita Haaretz, Aluf Benn, segundo o qual "mudar o foco das acusações de corrupção e da sua imunidade para a ideia de proteger o país e a ameaça iraniana é um presente de Ano Novo para Netanyahu".

"O primeiro-ministro teve uma semana bem-sucedida que começou por suprimir a rebelião do deputado Gideon Sa'ar [Netanyahu venceu as primárias para a liderança do Likud], continuou com o Supremo Tribunal de Justiça reticente em fazer uma audiência sobre o primeiro-ministro pode ou não formar um governo após ter sido formalmente acusado, seguido do seu pedido de imunidade, que vai ficar atolado no Knesset durante muito tempo. Depois veio a arriscada ação americana que trouxe a "situação de segurança" de volta às manchetes, afastando os temas da corrupção", escreve Benn.

Israel prepara-se para as terceiras eleições em menos de um ano a 2 de março e focar nos temas de segurança poderá aumentar o número de votos no Likud. Uma eventual escalada de violência poderá ainda levar Benny Gantz, líder da coligação Azul e Branca e principal adversário de Netanyahu, e o seu número dois, Yair Lapid, a aceitar cargos de ministros da Defesa e dos Negócios Estrangeiros no seu governo.

Israel prepara-se para as terceiras eleições em menos de um ano a 2 de março e focar nos temas de segurança poderá aumentar o número de votos no Likud

As tensões entre Israel e o Irão, antagonistas desde os anos 1980, aumentaram desde que Trump resolveu sair do acordo nuclear, em 2018, reinstalando as sanções contra Teerão. A resposta dos iranianos foi aumentar o nível de enriquecimento de urânio, assim como o número de centrifugadoras ou da quantidade de urânico enriquecido que pode armazenar. Apesar de tudo, e mesmo após a morte de Soleimani, mantém a colaboração com a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA).

A retórica agressiva entre Israel e Irão traduz-se no terreno nas guerras por procuração, como na Síria, onde os dois países estão em lados opostos da barricada. Teerão é um dos apoiantes do regime de Bachar al-Assad, tendo Israel aumentando nos últimos meses as suas operações contra alvos iranianos na Síria.

Mas uma guerra aberta tem sido evitada, apesar da tensão cada vez maior. Sendo que Netanyahu tem sido um dos maiores defensores de um ataque preventivo contra o Irão, para evitar que as infraestruturas israelitas sejam um alvo dos iranianos como aconteceu à refinaria saudita que obrigou a Aramco a cortar a produção de petróleo.

Uma das exigências do Irão é a retirada dos EUA da região. Algo que, a acontecer, poderá obrigar Israel à guerra, segundo o especialista Ilan Lavi citado pelo The Jerusalem Post. "Os EUA são os principais travões na região e a sua retirada levaria a uma escalada, já que os iranianos continuarão a alimentar as suas aspirações de hegemonia regional", disse. "Eventualmente, e não digo amanhã ou no próximo ano, teremos que ir para a guerra. Os iranianos vão continuar".

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