Israel e EUA defendem-se da onda de indignação
Uma investigação independente e transparente aos incidentes junto à fronteira da Faixa de Gaza com Israel - ideia advogada por António Guterres no dia 30 de março quando houve 15 mortos - ganhou adeptos nas últimas horas. Reino Unido, Alemanha, Bélgica e Suíça defendem a iniciativa, a meio de uma onda global de indignação perante o uso de força letal do exército israelita perante os manifestantes palestinianos, que resultou em 60 mortes e 2200 feridos. Já a Liga Árabe pediu ao Tribunal Penal Internacional a abertura de uma investigação sobre "os crimes da ocupação israelitas".
Os executivos de Israel e dos Estados Unidos reagiram à condenação generalizada reafirmando as posições. O primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu, ao canal norte-americano CBS, voltou a justificar o uso da força pela necessidade de defender as fronteiras. E acusou de novo o Hamas, grupo fundamentalista que governa Gaza, de "empurrar civis, mulheres e crianças para a linha de fogo para que haja mortos, o que é horrível".
O líder israelita disse que o seu país usa "todos os meios" não letais para manter os habitantes de Gaza longe da vedação. Questionado se o exército foi longe de mais no uso de força, respondeu: "Não conheço nenhum exército que fizesse qualquer coisa diferente se tivesse de proteger a fronteira contra pessoas que dizem "nós vamos destruir-vos e vamos invadir o vosso país"." Quando não é possível dissuadir, justificou, "só há más escolhas (...) faz-se pontaria abaixo do joelho e às vezes, infelizmente, isso não funciona".
A diplomata dos EUA na ONU, Nikki Haley, defendeu Israel na reunião de emergência do Conselho de Segurança. "Nenhum país nesta sala teria agido com tanta contenção quanto Israel", alvitrou. "Há anos que a organização terrorista Hamas incita à violência, muito antes de os EUA terem decidido transferir a embaixada", acusou.
A reunião foi realizada a pedido do Koweit. O embaixador daquele país árabe na ONU, Mansour al-Otaibi, disse que irá apresentar uma proposta de resolução "para a proteção de civis palestinianos" na reunião de hoje. O diplomata defendeu que, como potência ocupante, Israel está obrigado, sob a Convenção de Genebra, a fornecer proteção aos civis palestinianos. "Mas falharam e é por isso que queremos que o Conselho de Segurança faça algo a esse respeito." Os Estados Unidos devem vetar qualquer iniciativa do Conselho de Segurança. No dia anterior, os norte-americanos bloquearam um comunicado do Conselho de Segurança que exprimia indignação e tristeza pela morte de civis palestinianos e que pedia uma investigação independente e transparente.
Foi no sentido da "urgente necessidade" da investigação sobre os acontecimentos "trágicos" que falou a governante britânica Theresa May. Antes, o secretário de Estado para o Médio Oriente, Alistair Burt, criticou Washington, a quem falta "mais sentido de compreensão nalgumas questões subjacentes".
Também de França surgiram clivagens face à política norte-americana. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Jean-Yves Le Drian, disse no parlamento que o presidente Emmanuel Macron "decidiu tomar todas as iniciativas políticas necessárias", sem especificar quais, em resposta aos acontecimentos das últimas horas. O conselheiro do presidente, Benjamin Griveaux, questionado se Macron continua amigo de Trump, respondeu: "Quando se é presidente da república não somos amigos de líderes estrangeiros, somos parceiros."
Se é verdade que ontem foi um dia menos violento - regista-se a morte de dois palestinianos -, ainda ecoaram as ondas de choque sobre os pormenores da violência do exército israelita. "Um dia devastador para as crianças de Gaza", reagiu Jennifer Moorehead, da ONG Save the Children. Um bebé de oito meses morreu a cerca de um quilómetro da vedação devido à inalação de gás lacrimogéneo, seis crianças morreram e 220 ficaram feridas - 150 de munições reais.
Expulsão de diplomatas
> Turquia e Israel decidiram expulsar mutuamente os seus diplomatas na sequência da morte infligida a 60 palestinianos pelas forças israelitas, durante os protestos na fronteira de Gaza. A Turquia comunicou ao embaixador israelita que teria de deixar Ancara no próprio dia. O governo de Recep Tayyip Erdogan tem sido um dos mais críticos da resposta de Israel aos protestos em Gaza e da decisão da transferência da embaixada dos EUA de Telavive para Jerusalém. Chamou os seus embaixadores em Telavive e em Washington para consultas e pediu uma reunião de emergência da Organização para Cooperação Islâmica na sexta-feira. Também o governo de África do Sul chamou o embaixador acreditado em Telavive. Na Irlanda o embaixador israelita foi convocado para ouvir do "choque e consternação" de Dublin.