Boris Johnson vai voltar a propor eleições antecipadas na segunda-feira
Na segunda-feira, se a lei para travar um No Deal Brexit já estiver publicada, moção sobre novas eleições poderá eventualmente passar. Irmão de Boris Johnson, Jo Johnson, demite-se do governo e deixa lugar de deputado
O governo conservador de Boris Johnson vai voltar a tentar, na próxima segunda-feira, que a câmara dos Comuns aprove uma moção para convocar eleições antecipadas, declarou o ministro dos Assuntos Parlamentares e brexiteer radical, Jacob Rees-Mogg, falando esta quinta-feira ao Parlamento.
Mogg, que esta semana foi criticado por se ter praticamente deitado nos bancos da câmara dos Comuns, é um dos principais aliados de Boris Johnson e é líder do think tank eurocético European Research Group (ERG). Em dezembro de 2018, foi ele o autor de uma falhada moção de censura interna no Partido Conservador contra a ex-primeira-ministra Theresa May.
Na quarta-feira à noite, o Parlamento chumbou a ideia de eleições antecipadas, proposta por Boris. O primeiro-ministro britânico não conseguiu o voto favorável de 434 deputados, ou seja, uma maioria de dois terços do Parlamento.
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Ministro dos Assuntos Parlamentares, Jacob Rees-Mogg, esta semana na câmara dos Comuns
© EPA/NEIL HALL
O anúncio de Rees-Mogg surgiu depois de Jo Johnson, irmão do primeiro-ministro britânico, ter comunicado de manhã que abandona o cargo de secretário de Estado da Economia, da Energia e da Estratégia Industrial e o lugar de deputado por Orpington, a circunscrição pela qual tem sido eleito pelos conservadores ao longo dos últimos nove anos.
Numa mensagem deixada no Twitter, Jo Johnson, de 47 anos, diz-se dividido entre a família e o interesse nacional. "Foi uma honra representar Orpington durante nove anos e servir como secretário de Estado de três primeiros-ministros. Nas últimas semanas senti um conflito entre o dever de lealdade familiar e o interesse nacional - é uma tensão que não tem solução e por isso é tempo de outros assumirem os meus cargos como deputado e secretário de Estado".
Jo Johnson é, juntamente com Rachel e Leo Johnson, um dos três irmãos de Boris Johnson. Parte da família de Boris Johnson é ativa politicamente, sendo o pai, Stanley Johnson, igualmente membro do Partido Conservador e um antigo eurodeputado que fez campanha pela permanência do Reino Unido na União Europeia no referendo de 23 de junho de 2016 (que deu 52% a favor do Brexit e 48% a favor da permanência na UE). Rachel concorreu sem sucesso pelo Change UK! nas eleições europeias de maio, depois de passagens como militante pelo partido Conservador e pelos liberais-democratas.
Instado a comentar a demissão do irmão de Boris Johnson, Jacob Rees-Mogg disse que os deputados estão habituados a que pessoas da mesma família discordem em termos políticos. E deu o exemplo da sua própria irmã, Annunziata, que se juntou ao Partido do Brexit nas eleições europeias de maio e foi eleita deputada.
Boris Johnson está em guerra aberta com o próprio partido e com a câmara dos Comuns por causa da saída do Reino Unido da UE. Até agora, o líder conservador já tinha visto 21 rebeldes passarem-se para o lado da oposição para travar um No Deal Brexit, mesmo depois de terem sido ameaçados por si de expulsão das listas do partido nas próximas eleições legislativas. Um deles, Phillip Lee, médico de formação, desertou para a bancada dos liberais-democratas na altura em que Boris discursava no Parlamento. Esta quinta-feira já, a conservadora Caroline Spelman, ex-ministra do Ambiente, indicou que não se vai apresentar pelo partido nas próximas eleições na circunscrição pela qual é eleita há 22 anos, a de Meriden.
Já no passado, em protesto contra Theresa May, alguns conservadores tinham saído do Partido Conservador, formando aquilo que foi primeiro o Grupo Independente e depois, nas eleições europeias, passou a Change Uk!. O mesmo aconteceu com alguns trabalhistas, em protesto contra Jeremy Corbyn, o líder do Labour. Foi o caso de Luciana Berger. Esta voltou a mudar de ideias e esta quinta-feira anunciou, no Twitter, que também se passou para o lado dos liberais-democratas. "Tenho muito prazer em anunciar que me juntei aos liberais-democratas de Jo Swinson, o partido mais forte para travar o Brexit, para lutar pela igualdade e por um país mais justo".
Na última sondagem YouGov, para o The Times, realizada a 2 e 3 de setembro, os liberais-democratas surgem como o terceiro partido com 16% das intenções de voto, atrás do Labour, com 25%, e dos Tories, com 35%. O Partido do Brexit de Nigel Farage está em quarto lugar, com 11%, seguido dos Verdes, com 7%, do Partido Nacionalista Escocês, com 4%, do Plaid Cymru e do Ukip, antigo partido de Farage, ambos com 1%. O Change Uk! surge com 0%.
Estes desenvolvimentos acontecem numa altura em que a câmara dos Lordes está a debater a proposta de lei Benn, no sentido de travar um No Deal Brexit a 31 de outubro e, se preciso for, adiar o Brexit até 31 de janeiro de 2020. Os lordes deverão devolver a legislação à câmara dos Comuns na sexta-feira, até às 17.00, para que possa receber o visto favorável da Rainha Isabel II e ser publicada ainda antes da suspensão do Parlamento, ordenada pela mesma Rainha, a pedido de Boris. Tal suspensão deve acontecer entre os dias 9 e 12 de setembro, até 14 de outubro.
Na quarta-feira o primeiro-ministro conservador saiu derrotado dos Comuns: os deputados, conservadores incluídos, votaram a favor da lei Benn para travar um No Deal Brexit e contra a moção de Boris a pedir eleições antecipadas a 15 de outubro. O Labour de Corbyn absteve-se na parte da moção das eleições e o chefe do governo constatou que o dirigente trabalhista foi o primeiro líder da oposição a recusar ir a eleições antecipadas pela primeira vez na história. Alguma imprensa britânica chamou cobarde a Corbyn.

Stanley Johnson (pai), Rachel e Jo Johnson (irmãos) assistem ao anúncio da vitória de Boris Johnson como novo líder do Partido Conservador em julho deste ano
© EPA/Stefan Rousseau
O líder trabalhista disse nos debates no Parlamento, na quarta-feira, que aceita eleições antecipadas mas só depois de estar aprovada e publicada a lei Benn. Em teoria, uma moção que já foi rejeitada não pode voltar ao Parlamento, mas o facto de o Labour ter optado pela abstenção faz com que essa regra não se aplique, disseram fontes do governo citadas pelo The Guardian. Na segunda-feira, a lei Benn já será isso mesmo, lei, mudando o caso de figura. Aí, nessa circunstância, Corbyn já poderia aceitar a realização de eleições antecipadas. Mas não é certo que todos os trabalhistas estejam consigo.