Irene, a princesa rebelde, e o amante marinheiro
A notícia terá surpreendido mais os holandeses do que família real: No Verão de 1980, Irene de Orange e Nassau, tia do rei Guilherme, irmã mais nova da rainha emérita, Beatriz, teria mantido um caso amoroso com um ajudante de campo do seu pai, Ronnie Wolff de seu nome, quando ambos estavam casados com outras pessoas.
De acordo com o que Ronnie, hoje com 83 anos, revelou ao jornal holandês Der Telegraaf, o affaire desenrolou-se sob sol da Toscânia, onde os Orange-Nassau estavam a banhos. Ela era uma bela e voluntariosa princesa, ele um louro garboso a quem caía bem a farda da Marinha real. Partilhavam, recorda, sonhos de um mundo melhor e memórias de infâncias turbulentas em plena 2ª Guerra Mundial.
Nascido na Indonésia (então uma colónia holandesa), Wolff passou os seus primeiros anos internado, com a mãe, num campo de concentração japonês. Irene, com menos de um ano, foi levada para o exílio quando a iminência da invasão alemã ameaçava gravemente o trono da sua avó, Guilhermina.
Irene Emma Elizabeth, nascida a 5 de agosto de 1939 (19 meses depois da irmã mais velha, Beatriz), há muito que habituou a família a não ser uma princesa como manda o figurino da "profissão". Ao nascer, com a Europa à beira da guerra, os pais deram-lhe o esperançoso nome de Irene (de Eirene, deusa grega da paz), esperando, com isso, como o pai revelaria na ocasião, aplacar, como por magia, as fúrias que ameaçavam o continente. Em vão. Com poucos meses, a criança foi levada para Londres, com toda a família, onde foi batizada e teve por madrinha a mãe de Isabel II. Mas não ficariam por aqui as atribulações da bebé. Ao tentar embarcar para o Canadá, a família foi bombardeada ainda no porto e a princesa colocada num invólucro à prova de ataque químico. Chegaram a Ottawa exaustos e aí permaneceram até 1945, enquanto a Rainha Guilhermina ficava em Londres a liderar o governo holandês no exílio.
De regresso à vida palaciana, esperava-se que Irene trouxesse, finalmente, a paz à vida familiar. Intrépida, a jovem não só foi estudar para a Universidade de Utreque, como pediu ao pai um automóvel desportivo. Este fez-lhe a vontade até certo ponto... Ao levantar o capô, Irene descobriu que, sob a linda aparência de um bólide, estava o motor de um simples utilitário. Anunciou, em seguida, que partia para Madrid, com o propósito de estudar Espanhol. Como? Pânico e horror. Trezentos anos depois de findas as longas guerras entre os dois países, dir-se-ia que a dinastia Orange ainda tinha pesadelos com o Duque de Alba e os seus infernais tércios espanhóis a trucidar protestantes.
Mas o pior ainda estava para vir. Em 1962, Irene anunciou à família e ao mundo a sua intenção de casar com Carlos Hugo, Duque de Parma, pretendente ao trono de Espanha (pelo chamado partido carlista, de certo modo o equivalente à nossa linha miguelista), e de se converter ao catolicismo. Iniciar-se-ia uma telenovela que teve Franco, os reis da Holanda, o Papa e o governo holandês à frente de um grande "elenco." Casaram em 1964, em Roma, e foram "felizes para sempre" até 1981, quando se divorciaram depois de quatro filhos e algumas "indiscrições". Irene não voltaria a casar, mas nunca se resignou a um papel decorativo. Aos 80 anos de idade, a sua voz continua a fazer-se ouvir em favor de causas como a educação ambiental.