Irão e europeus insistem em acordo apesar de saída dos EUA

Decisão do presidente americano recebida com distanciamento na Europa. Guterres espera que as partes restantes cumpram o acordo. Israel e Arábia Saudita elogiam Trump.

O acordo com o Irão que "nunca deveria ter sido feito", segundo Donald Trump, foi denunciado nesta terça-feira pelo presidente americano ao mesmo tempo que anunciou o restabelecimento das sanções ao regime de Teerão, suspensas quando este se comprometeu em 2015 a não se dotar de armas nucleares. Anunciou ainda a imposição de novas sanções económicas do "mais alto grau".

Numa reação imediata, o presidente iraniano, Hassan Rouhani, afirmou que o seu país permanece comprometido com o acordo e continua aberto a "cooperar" com os restantes parceiros internacionais para consolidar a sua aplicação. "Se conseguirmos cooperar com as outras partes", o acordo "continuará em vigor". Para o dirigente do regime de Teerão, qualquer decisão do Irão sobre o seu programa nuclear será tomada em consulta com os restantes signatários do acordo.

O acordo denunciado pelo presidente americano foi assinado a 14 de julho de 2015, em Viena, entre os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas (China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia), mais a Alemanha e o Irão. Nele consagrava-se o fim progressivo e condicional das sanções internacionais em troca da promessa de Teerão não desenvolver armas nucleares. Entrou em vigor em janeiro de 2016. No mais recente relatório da Agência Internacional de Energia Atómica, em fevereiro, era indicado que o Irão estava a respeitar os compromissos assumidos.

Falando na Casa Branca, Trump afirmou que Teerão nunca respeitou os compromissos assumidos e é o principal fator de desestabilização do Médio Oriente e um ativo apoiante de grupos terroristas, enunciando entre estes os talibãs e a Al-Qaeda, duas organizações declaradamente sunitas enquanto o regime iraniano é xiita. A oposição entre sunitas e xiitas é o principal foco de conflito na esfera do islão.

Trump declarou de forma perentória que "não podemos impedir o Irão de ter a bomba atómica" no quadro de um "acordo falido e poroso". E "se não for feito algo, sabemos como as coisas irão acabar".

Críticas europeias

Alemanha, França e Grã-Bretanha, os outros signatários em conjunto com a China e a Rússia, reagiram em comunicado conjunto, pedindo a Washington que deixe "intacta a estrutura do acordo e permita a sua completa concretização pelos restantes signatários". Também a responsável pela diplomacia da União Europeia, Federica Mogherini, declarou que o bloco europeu "está determinado a preservar o acordo". E o secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu às partes restantes que permanecem vinculadas ao acordo.

As únicas reações positivas à decisão de Trump vieram de Israel, onde o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu saudou a "decisão corajosa" do presidente americano, e da Arábia Saudita, principal potência sunita no Médio Oriente, que considerou positiva a reintrodução de sanções a Teerão.

Muitos analistas temem que se esteja na antecâmara de nova escalada de tensões na região, com repercussões no preço do petróleo. Ao início do dia, a cotação deste estava em queda, mas voltou a subir quando ficou claro qual seria a decisão de Trump. O Irão é um importante produtor petrolífero e o regresso das sanções americanas tornará mais difícil a Teerão a sua venda. O Irão é atualmente o sexto maior produtor mundial e o terceiro maior da OPEP, com uma produção de 3,8 milhões de barris por dia.

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