Isabel II: "A geração da II Guerra, a minha geração, é resiliente"

Presidente norte-americano, no último dia da sua visita ao Reino Unido, participou na comemoração do desembarque na Normandia, que cumpre esta quinta-feira 75 anos. Trudeau, Macron e May leram testemunhos ou cartas de soldados dos respetivos países que lutaram na II Guerra Mundial.
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O presidente norte-americano, Donald Trump, leu a oração pronunciada por Franklin D. Roosevelt por ocasião do Dia D, nas cerimónias que assinalam o 75.º aniversário do desembarque aliado na Normandia que marcaria o início do fim da ocupação nazi da Europa Ocidental.

Trump, chamado ao palco, leu a oração do então presidente dos EUA, pronunciada numa mensagem rádio no Dia D. "Deus todo poderoso, os nossos filhos, o orgulho da nossa nação, neste dia, partiram num desafio enorme; uma luta para preservar a nossa república, a nossa religião, a nossa civilização e libertar uma humanidade sofredora", dizia a oração.

"Sabemos que, pela tua graça, e pela justiça da nossa causa, os nossos filhos vão triunfar. Alguns nunca regressarão. Abrace esses pais, e recebe-os, os servos heroicos, no teu reino. E, Senhor, dá-nos fé, fé em ti e nos nossos filhos, fé uns nos outros, e fé na nossa cruzada unida", disse Trump, citando Roosevelt.

A rainha Isabel II e a primeira-ministra britânica, Theresa May, são as anfitriãs das comemorações do Dia D em Portsmouth, que conta a presença de vários veteranos. Nas primeiras horas de 6 de junho de 1944, mais de 150 mil tropas aliadas partiram de Portsmouth e das zonas em redor para começar o ataque por ar, mar e terra à Normandia que culminaria na libertação da Europa Ocidental do regime nazi.

Discurso da rainha

Isabell II lembrou que, quando assistiu às comemorações do 60.º aniversário do Dia D, muitos pensaram que seriam as últimas a que assistiria. "Mas a geração da II Guerra Mundial, a minha geração, é resiliente", disse num curto discurso.

"Há 75 anos, centenas de milhares de jovens soldados, marinheiros e aviadores deixaram estas costas em nome da liberdade. Num discurso à nação na altura, o meu pai, o rei Jorge VI, disse: 'o que é exigido de nós todos é algo mais do que coragem e perseverança; precisamos de um renascimento do espírito, de uma nova e inconquistável resolução...' Isso foi precisamente o que aqueles homens bravos trouxeram para a batalha, pois o destino do mundo dependia do seu sucesso", afirmou a rainha.

"Muitos dos quais nunca regressariam, e o heroísmo, coragem e sacrifício daqueles que perderam a sua vida nunca será esquecido. É com humildade e prazer, em nome de todo o país, na verdade, de todo o mundo livre, que eu digo a todos, obrigada", concluiu.

Trudeau, Macron e May leram testemunhos e cartas

Trump, no último dia da visita ao Reino Unido, é um dos líderes mundiais convidados, junto com o presidente francês, Emmanuel Macron, o primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, o chefe do governo australiano, Scott Morrison, a chanceler alemã, Angela Merkel, e líderes políticos de outros dez países.

"Unidos, prestamos tributo àqueles cuja bravura e sacrifício nas praias da Normandia marcaram um ponto de viragem na II Guerra Mundial, juramos nunca esquecer a dúvida que temos para com eles", disse May antes da cerimónia. "A sua solidariedade e determinação na defesa da nossa liberdade continua a ser uma lição para todos nós", acrescentou.

A cerimónia contou com imagens e vídeos do desembarque na Normandia, a 6 de junho de 1944, assim como com testemunhos de veteranos daquele dia. A atriz britânica Celia Imrie serviu de mestre-de-cerimónias, contando a história da II Guerra Mundial até àquele dia. Houve ainda números musicais, como o da atriz e cantora britânica Sheridan Smith.

O primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, lembrou na cerimónia o ataque das forças canadianas ao porto de Dieppe, dois anos antes do Dia D. Trudeau leu uma citação do primeiro soldado canadiano a receber a Victoria Cross na II Guerra Mundial, um soldado que liderou os seus homens por uma ponte sob fogo inimigo dizendo "não há nada aqui para nos preocupar".

Ouviu-se ainda o famoso discurso do então primeiro-ministro britânico, Winston Churchill: "Nós vamos lutar nas praias, vamos lutar nos locais de aterragem, vamos lutar nos campos e nas ruas, vamos lutar nas montanhas; nunca nos vamos render".

O presidente francês, Emmanuel Macron, antes de ler uma carta de um combatente da resistência francesa, agradeceu a todos os países em nome da sua nação. "Vou morrer pelo meu país. Quero que a França seja livre e que os franceses sejam felizes. Não quero que a França seja arrogante e a nação líder do mundo, mas que seja trabalhadora, diligente e honesta", dizia a carta do jovem que foi executado em setembro de 1943, com apenas 16 anos.

Também a primeira-ministra britânica, Theresa May, leu uma carta de um soldado britânico, escrita à mulher dois dias antes do Dia D. "Tenho a certeza que qualquer um com imaginação não deve gostar do que está para vir. Mas os meus receios são mais de ter medo do que do que pode acontecer comigo", dizia a carta. O soldado acabaria por morrer no dia 7 de junho.

O Dia D estava previsto para 5 de junho de 1944, mas teve que ser adiado por causa do mau tempo. Durante a homenagem, há uma encenação de um excerto da peça Pressure, de David Haig, sobre James Stagg, o meteorologista-chefe do general Eisenhower, comandante das forças aliadas. A culpa foi da mudança de posição do Anticiclone dos Açores.

Quem também discursou na cerimónia foi o sargento John Jenkins, de 99 anos, de Porsmouth, que tinha 23 anos no Dia D. "Estava cheio de medo, penso que todos estávamos. Olho para trás [para o Dia D] como uma grande parte da minha vida. Eu era apenas uma pequena peça numa máquina gigante", referiu, dizendo-se honrado por estar presente nas comemorações dos 75 anos do desembarque na Normandia. "Nunca podemos esquecer."

Proclamação do Dia D

Além das comemorações, Downing Street pediu aos 16 países que estão a assistir que assinassem a "proclamação do Dia D". "Estamos juntos hoje para honrar a memória daqueles que pagaram o último sacrifício no Dia D, e muitos dos milhões de homens e mulheres que perderam a vida durante a II Guerra Mundial, o maior conflito na história humana", lê-se no documento. "Afirmamos que é nossa responsabilidade compartilhada garantir que o horror inimaginável desses anos nunca se repita", acrescenta.

O documento pede o compromisso nos "valores comuns" defendendo que estes apoiam "a estabilidade e prosperidade" das nações e povos. "Vamos trabalhar juntos como aliados e amigos para defender estas liberdades, sempre que estas sejam ameaçadas", refere. "Comprometemo-nos a trabalhar de forma construtiva como amigos e aliados para encontrar um terreno comum onde temos diferenças de opinião e para trabalhar juntos para resolver as tensões internacionais pacificamente", acrescenta.

Último dia de visita de Trump

O presidente norte-americano deixa hoje o Reino Unido e visita a Irlanda, antes de partir amanhã para as comemorações do Dia D em França.

Tal como em Londres, a visita de Trump a Portsmouth ficou marcada por alguns protestos.

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