Trump abre nova polémica. Agora, dá boas-vindas a informações estrangeiras sobre rivais
Democratas e republicanos juntaram-se em coro para condenar na quinta-feira Donald Trump por dizer que aceitaria a ajuda de um governo estrangeiro na campanha presidencial de 2020, quando o presidente disse que seria "ridículo" informar sobre os contactos estrangeiros ao FBI.
Numa entrevista ao canal ABC transmitida na quarta-feira, Trump disse que iria ouvir as informações prejudiciais que uma pessoa ou governo estrangeiro oferecesse sobre adversários políticos durante a tentativa de reeleição.
"Eu acho que poderia querer ouvir, não há nada de errado em ouvir", disse Trump. "Não é uma interferência. Eles têm informações, acho que eu as aceitaria. Se eu pensasse que havia algo errado, eu talvez contactasse o FBI."
Os comentários de Trump surgem menos de três meses depois de o procurador especial Robert Mueller ter concluído um relatório que confirmou que a Rússia empreendeu uma campanha de pirataria e de influência para ajudar Trump a derrotar Hillary Clinton na eleição presidencial de 2016.
As declarações de Trump provocaram indignação dos democratas, em especial entre os candidatos presidenciais que procuram desafiar Trump em 2020, bem como de um dos principais aliados republicanos de Trump. "O que o presidente disse ontem à noite mostra claramente, mais uma vez, uma e outra vez, que ele não sabe a diferença entre o certo e o errado", disse a líder da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi. "Não há qualquer sentido ético que sustente os seus comentários e o seu pensamento".
Mais tarde, no Twitter, escreveu que o "convite de Donald Trump a novos ataques é perigoso e é uma violação do seu juramento".
Na mesma linha concluiu o senador democrata Mark Warner."O presidente deu luz verde à Rússia para interferir na eleição de 2020."
Os candidatos democratas Elizabeth Warren, Kirsten Gillibrand e Eric Swalwell voltaram a pedir a destituição do presidente. No entanto, Pelosi disse que as declarações de Trump não mudaram o plano dos líderes democratas de avançar com a investigação de Trump e à sua administração antes de qualquer processo formal de destituição.
"Um governo estrangeiro atacou as nossas eleições de 2016 para apoiar Trump, Trump saudou essa ajuda, e Trump obstruiu a investigação. Agora, disse que faria tudo de novo. Está na hora de destituir Donald Trump", escreveu Warren no Twitter.
O pré-candidato Joe Biden, que lidera em popularidade no campo democrata, também reagiu no Twitter: "Não se trata de política. É uma ameaça à nossa segurança nacional. Um presidente norte-americano não deve procurar a ajuda e encorajar aqueles que querem minar a democracia."
No campo republicano, o senador Lindsey Graham, um dos aliados de Trump no Congresso, juntou-se aos democratas para criticar os comentários do presidente. "Acho que é um erro", disse o senador que é também presidente do comité judicial do Senado.
Graham aproveitou para também acusar os democratas de terem aceitado informações prejudiciais de estrangeiros sobre adversários políticos (o relatório de Christopher Steele) e disse que qualquer funcionário público contactado por um governo estrangeiro com uma proposta de ajuda para a sua campanha deve informar o FBI.
Uma voz desalinhada dos republicanos, o ex-congressista Joe Scarborough defendeu no seu programa da NBC, Morning Joe, que os republicanos devem condenar as declarações do presidente ou "estarão a ser desleais ao seu país". O homem que foi eleito pela Florida disse ainda que se fosse contactado por estrangeiros a oferecer informações que não teria dúvidas sobre o que fazer. "Bem, eu fui eleito quatro vezes, estive por lá durante bastante tempo, fiz quatro campanhas, e se alguém tivesse vindo do estrangeiro com alguma informação, isso faria piscar as luzes vermelhas. E entraria imediatamente em contacto com o FBI."
Qualquer contribuição estrangeira de "dinheiro ou outra coisa de valor" viola a lei de financiamento de campanhas dos EUA. Os juristas dizem que solicitar intencionalmente informações de uma entidade estrangeira também seria ilegal.
Donald Trump defendeu-se, como habitual, através do Twitter, ao comparar as suas reuniões com chefes de Estado e de governo com informações oferecidas por estrangeiros sobre adversários políticos. "Devo chamar imediatamente o FBI sobre estas chamadas e reuniões? Que ridículo!"