Tragédia na Beira: "Não havia ninguém para ajudar e todos pediam socorro"
Quando o ciclone Idai tomou da Beira, em Moçambique, na sexta-feira, o pânico instalou-se na cidade. Yara Ismaile, que estava em casa com a irmã, recorda o momento "assustador" em que o teto começou a ameaçar levantar e a estudante de informática ficou sem saber o que fazer.
"Lembro que nesse dia ninguém foi trabalhar, as lojas não abriram, os estabelecimentos estavam todos fechados. Nós estávamos em casa, eu e a minha irmã. O teto estava a levantar, nos arredores muitas casas destruíram-se. Naquele momento nós fomos para debaixo da cama. Foi um momento de muito pânico. Eu não sabia o que fazer, a minha irmã pior. Foi uma experiência muito assustadora", conta à TSF.
Quando acordou no dia seguinte, Yara já não tinha "luz nem água" e era quase impossível comunicar com o exterior, mesmo para pedir socorro.
"Tinha um número que o governo passou e que estava a passar nas redes sociais para ligar para a ambulância, mas nós não tínhamos como fazer isso. Não tínhamos comunicação, não tínhamos carga. O quartel militar ficou sem teto. Não tinha ninguém para ajudar e todo o mundo estava a pedir socorro."
Entretanto, Yara decidiu fugir para Chimoio, onde moram os pais, mas a irmã não a acompanhou: "Ontem ligou-me de manhã cedo a chorar em pânico. Nem tem o que comer, nem consegue sair. Aquilo foi assustador. Ela disse que na zona dela todas as casas estão destruídas. No dia em que aconteceu aquilo ela acolheu os vizinhos.Duas senhoras, uma avó e uma mãe, perderam uma bebézinha. A casa toda foi para cima daquela criança que morreu na hora."
Ana Imilda está em Xai Xai, capital da província de Gaza, e lidera um movimento de estudantes que está a recolher donativos para as pessoas afetadas pelo ciclone Idai em Moçambique. À TSF, explica que a Beira é uma cidade com muitas universidades e que por isso "praticamente todo o país tem lá um ente querido, um filho, um irmão". A jovem descreve um cenário "trágico" e conta que "é difícil ter comida, porque a maioria dos supermercados estão destruídos e, até então, a chuva ainda não parou".
O diretor de programas da Cruz Vermelha de Moçambique assegura que já há kits de abrigo a serem distribuídos que consistem em "pequenas tendas e esteiras" para que as pessoas e as famílias possam ter alguma privacidade.
Titus Queirós dos Santos sublinha que já foram enviados para cada distrito "17 voluntários que estão em coordenação com as organizações humanitárias a fazerem o apoio na construção de abrigos, de latrinas e deram apoio na parte da sensibilização para as boas práticas de higiene" Para além disso, explica que a Cruz Vermelha está "a fazer a mobilização dos víveres para podermos apoiar as pessoas afetadas, mesmo em sítios onde os carros não chegam vamos fazer a distribuição por via de barcos".
*Jornalistas da TSF