Super-heróis, e muito mais, são candidatos às eleições do Brasil

Batman há dois. Robin um. Há Super-homem e Clark Crente. E o Homem Aranha do Amapá. Fora os concorrentes a deputado que se apresentam como Viado da Bike ou Buscando o Imponderável
Publicado a

No primeiro debate entre candidatos a presidente na TV Bandeirantes, no dia 9, o Brasil conheceu o Cabo Daciolo (Patriotas), um bombeiro que iniciou cada intervenção com a expressão "glória a Deus", usou o seu minuto para considerações finais citando o Livro de Jeremias, acusou um rival de estar a conspirar para formar a URSAL, União das Repúblicas Socialistas da América Latina, e volta e meia vai para um monte jejuar e enviar vídeos a anunciar que o querem matar. Mas como os brasileiros bem sabem, desde que em 1959 votaram em massa em Cacareco, um rinoceronte do zoológico de São Paulo, para prefeito da cidade, ou desde que em 2010 fizeram do palhaço Tiririca, o do slogan "vota em mim, pior do que está não fica", deputado com votação recorde, o Cabo Daciolo é apenas uma ponta do icebergue das bizarrias eleitorais.

Os super-heróis são um clássico. Mas, dada a crise moral exposta pela Operação Lava-Jato, estão mais na moda nas eleições de 2018 do que nunca. Há dois Batman e um Robin na corrida a um dos 513 lugares na Câmara dos Deputados. Um Hulk, um Flash, um Capitão América, um Robocop e até um Bob Esponja. Super-Homem, ao contrário do que é costume, desta vez há só um mas pode entrar na mesma categoria o candidato Clark Crente, que tem a cara do ator Christopher Reeve, os óculos da praxe e usa um trocadilho no nome de guerra para demonstrar que é religioso.

Edvan Ferreira de Sá, entrevistado pelo jornal Folha de S. Paulo explica que escolheu Wolverine como nome no boletim de voto para combater a corrupção. Mais ou menos os mesmos motivos de Aderílson Santos, o Homem Aranha do Amapá.

O candidato Márcio Nardin, que para presidente vota em Jair Bolsonaro (PSL), disse ao mesmo jornal que é contra a palhaçada dos nomes de super-heróis - no entanto, concorre sob a alcunha Homem de Ferro, com direito a barba idêntica à de Tony Stark, a personagem interpretada por Robert Downey Jr. nos cinemas. "É que no meu caso é diferente, não caí de pára-quedas, já trabalho em política há muito tempo".

A não ser que sejam ofensivos, não existem restrições aos nomes de guerra dos candidatos, de acordo com as regras do Tribunal Superior Eleitoral. Desde que sejam candidatos a deputados, senadores ou governadores porque para a presidência da República não são toleradas alcunhas ou diminutivos. Foi por isso que Luiz Inácio da Silva, candidato do PT, acrescentou em cartório o hipocorístico "Lula", como era conhecido em família e na carreira sindical; Maria Osmarina da Silva, do Rede, se tornou Maria Osmarina Marina Silva; e José Ribamar Ferreira de Araújo Costa juntou o nome de batismo do pai, Sarney, entre outros casos.

Está por isso à vontade para concorrer o Viado da Bike, do Solidariedade, figura típica de Belém, do Pará, por onde circula de bicicleta e gestos muito efeminados (viado é calão para homossexual). Além do candidato Vai Ser Rico. E do Mafia Moura. E do Índio do Século XXI, da Hilda da Maçã do Amor, do Agora É Nóis, do Rock Cabeludo, do Bonitão, da Maria Sou do Povo, da Feirante Negona, do Carlão Loko, do O Papai Chegou, do Keridão Potência, da Loura do Boticário, da Estrela que Brilha, do Palhacinho Pimpão, do Cachorrão, do Buscando o Imponderável, do Boca Aberta, da Coração de Mãe ou da Olga um Beijo e um Queijo.

De barbas longas, concorrem ainda o Macho Vei ("vei" é calão para velho) e, claro, um Papai Noel. Entre os muitos trocadilhos, destaque para, talvez, o mais conseguido: Alceu Dispor 24 Horas.

Há também dezenas de jogadores de futebol, com fama nacional, regional ou local. Ou então candidatos levemente parecidos com craques que se aproveitam disso, como o obeso Neymar Pesadão. E o tradicional batalhão de ex-membros do Big Brother não podia faltar. Os que mais se destacaram no programa da TV Globo, como Marcos Harter, que agrediu uma concorrente, não precisam de recordar quem são mas outros, mais discretos, apresentam-se como Cezar Lima do Big Brother para avivar a memória dos espectadores/eleitores.

Entretanto, se o rinoceronte Cacareco morreu pouco após a eleição municipal de 1959, o deputado Tiririca foi reeleito em 2014 e lidera sondagens em 2018.

Diário de Notícias
www.dn.pt