Uma greve geral contra um ministro da justiça. A coincidência de eventos na política brasileira pode tornar uma comum paralisação, acompanhada de manifestações, num protesto monumental contra Sérgio Moro. Os líderes de esquerda e os sindicalistas por trás da greve, suscitada à partida pelos efeitos da crise económica, acreditam que a divulgação de mensagens do ex-juiz da Operação Lava-Jato aumente a adesão..A greve começou a ser preparada há meses, como de costume, tendo como base uma agenda sobretudo económica - a votação da reforma da previdência, prioridade do governo de Jair Bolsonaro e maior cavalo de batalha do ministro da economia Paulo Guedes, que afetará o sistema de aposentadoria da população, o crescimento do desemprego para números acima de 13 milhões, a paralisia da economia e até decisões ainda do consulado de Michel Temer..No entanto, os cortes na educação, por exemplo, anunciados no início de maio e que geraram já manifestações em todos os estados do Brasil, também se somaram à lista de reivindicações. Acrescente-se ainda assuntos sobretudo políticos, como os escândalos envolvendo a família de Jair Bolsonaro e supostos erros de trajetória do seu governo..E agora, finalmente, o escândalo da "Vaza-Jato", espécie de avesso da Operação Lava-Jato. Na "Vaza-Jato", um hacker teve acesso a mensagens do procurador Deltan Dellagnol, um dos chefes da Lava-Jato, algumas delas com o juiz do processo e hoje ministro da justiça, Sergio Moro, onde este evidencia tendência e até cumplicidade com a acusação no caso da condenação de Lula da Silva, por exemplo. Essas conversas, divulgadas pelo site The Intercept Brasil, dão corpo à narrativa da esquerda de que a prisão de Lula foi política..Dado o impacto dessas notícias, Moro, de um momento para o outro, torna-se assim alvo de protestos laborais aos quais, à partida, seria alheio.."A imagem que queremos é a [Avenida] Paulista deserta, ruas desertas no dia, como se estivéssemos em 28 de abril de 2017 [data de greve geral contra Temer] e manifestações, que são o complemento da greve geral, cheias", disse Vagner Freitas, presidente da Central Única de Trabalhadores, força muito ligada ao PT desde a sua fundação, à Agência Estadão..A Força Sindical, que politicamente é mais conotada com o centro, também adere ao protesto. "É essencial que o setor dos transportes pare para dar a sensação de paralisação, é uma categoria expressiva para a demonstração do poder dos trabalhadores", afirmou um dos líderes.."Temos problemas conjunturais com os cortes na educação que nos impulsionaram a paralisar, tiraram-nos direitos sociais conquistados desde a constituição de 1988", disse, por sua vez, Qelli Rocha, do sindicato de docentes do ensino superior..Mais sete centrais sindicais, com forte influência nos setores público e dos metalúrgicos, camionistas, cobradores, vigilantes, professores e outros profissionais de educação, estão envolvidas no protesto. E o próprio PT, de Lula, Dilma Rousseff, Fernando Haddad e Gleisi Hoffmann, a sua atual presidente, também publicou resolução em maio onde incluía protestos e mobilizações na estratégia de combate ao governo Bolsonaro..Para o sucesso da iniciativa - que os organizadores pretendem comece já nesta madrugada de sexta - as redes sociais são importante contributo. Desde quarta-feira, iniciou-se um "tuitaço", isto é a partilha em massa de uma hashtag, no caso #sextatemgreve, que depressa chegou ao topo dos assuntos mais comentados no país..Do outro lado, no entanto, o governo Bolsonaro está otimista e acredita em "fiasco" da greve geral. Ouvidos pelo jornal Metrópoles, parlamentares, ainda que reservadamente, acreditam no insucesso do ato. "A reforma da previdência vai acontecer, queiram ou não, porque é vontade do presidente da República e do presidente da Câmara dos Deputados", disse um parlamentar do DEM, o partido do tal presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, que vem mantendo relação de amor-ódio com Bolsonaro..Um líder parlamentar do PSL, o partido do presidente, disse que a manifestação contra os cortes na educação "foram grandes mas não gigantes", por isso, "esta será um fiasco". Mais cautelosa vem sendo a reação da ala militar do governo - seis ministros - para quem um protesto e uma paralisação merecem sempre máxima prudência..A posição oficial do governo, entretanto, é estar atento à manifestação e acionar a sua força nas redes sociais para o combate online.