Silas Câmara vai liderar Bancada da Bíblia

Frente parlamentar evangélica na Câmara dos Deputados do Brasil assinala eleição mais conturbada de sempre com pão e sumo de uva numa Santa Ceia. O vencedor tem longo currículo de problemas com os tribunais
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Silas Câmara, do PRB, é o novo líder da Frente Parlamentar Evangélica, conhecida nos bastidores por Bancada da Bíblia, após uma eleição - ou "reunião culto", como lhe chamam os seus integrantes - na Câmara dos Deputados do Brasil, esta quarta-feira.

Pastor da Assembleia de Deus, a maior denominação evangélica do país e no mundo, Câmara superou outros cinco concorrentes, Cezinha de Madureira (PSD), Flor de Lis (PSD), Abílio Santana (PR), Sóstenes Cavalcante (DEM) e Glaustin Fokus (PSC), que abdicaram de ir a votos no último momento. A intenção foi manter a tradição de uma escolha por aclamação no poderoso grupo suprapartidário de cerca de 110 deputados evangélicos.

No entanto, o processo eleitoral que culminou ontem foi de tal forma belicoso que parlamentares o definiram como "barraco evangélico" e "clima de Deus nos acuda". Em causa, a luta pelo poder dos incontáveis ramos protestantes no pais.

O vencedor tem 20 anos de Câmara dos Deputados, divididos por oito partidos e salpicados por um punhado de escândalos no currículo - foi acusado de apropriação indevida, de falsificação de documentos, de empregar funcionários fantasma, de corrupção passiva, entre outros. É irmão de Samuel Câmara, fundador da Convenção das Assembleias de Deus no Brasil, uma dissidência da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil, conhecida como Ministério Belém. E casado com outra deputada, Antônia Lúcia, do PSC, notada por não ter abdicado do auxílio moradia atribuído aos deputados mesmo morando com o marido num apartamento em Brasília.

Apoiante do governo de Jair Bolsonaro, do PSL, a bancada que defende causas como o Escola Sem Partido, projeto que elimina suposta doutrinação ideológica de esquerda nas escolas, o Estatuto do Nascituro, ligado à questão do aborto, e o Estatuto da Família, que reconhece como família apenas a união entre homem e mulher, vem criticando a falta de atenção - leia-se cargos - dada aos evangélcios pelo novo governo.

Câmara, porém, nega. "Não podemos discutir cargos ou coisa que o valha, não se pode discutir nada a não ser o reino de Deus". Para o deputado com extenso currículo de suspeitas e irregualridades, o seu mandato vai ser marcado pela defesa "dos costumes ligados à família, aos céus".

Os deputados da Bancada da Bíblia vão assinalar a vitória de câmara numa Santa Ceia com pão e cálices com sumo de uva, no lugar do vinho bíblico.

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