Naufrágio no Príncipe. Sete mortos, autoridades sem confirmação de vítimas portuguesas
A possível existência de duas cidadãs portuguesas entre as pessoas que estão desaparecidas na sequência de um naufrágio ao largo da ilha do Príncipe foi uma informação atribuída a fontes governamentais de São Tomé e Príncipe durante o dia de quinta-feira, mas fonte da Secretaria de Estado das Comunidades, contactada pelo DN, disse não estar em condições de confirmar a informação.
O governo português está "a acompanhar a situação através de contacto permanente" com a embaixada lusa em São Tomé, acrescentou a mesma fonte, que confirmou ainda a intervenção da fragata Zaire, da Marinha portuguesa, nas operações de busca e resgate.
As operações continuam durante a noite, confirmou ao DN Pedro Coelho Dias, porta-voz das Forças Armadas portuguesas, que estão em contacto com o navio Zaire, que está no local. "As operações ainda decorrem e vão continuar pela noite. O que foi suspenso no período noturno foi a possibilidade de os mergulhadores atuarem, pelas más condições e por haver muita gasolina no mar. De manhã será feita nova avaliação sobre a intervenção dos mergulhadores", informou o militar.
As operações continuam com buscas circulares, até ao nascer do Sol, na área circunscrita ao local onde o navio Amfitriti afundou, junto à ilha do Príncipe, numa zona rochosa próxima do chamado ilhéu do Boné de Jóquei, acrescentou Pedro Coelho Dias, admitindo que "durante a noite os avistamentos são sempre mais difíceis".
Também o porta-voz das Forças Armadas disse ao inicio da noite ao DN não haver ainda confirmação da alegada existência de cidadãos portugueses entre os desaparecidos. "A informação que nós temos, e que continua a tentar ser validada, é que não existem portugueses", afirmou.
Em declarações à RTP, o adido de defesa da embaixada portuguesa em São Tomé reforçou essa posição. "Não temos confirmação da presença de cidadãos portugueses entre os desaparecidos. Alguém terá difundido essa informação, de que duas pessoas teriam nacionalidade portuguesa, mas a própria pessoa que fez o check-in não confirmou se havia ou não portugueses", disse.
Perante informações contraditórias, a Secretaria de Estado das Comunidades e a embaixada portuguesa em São Tomé a mantêm alguma reserva nos comentários.
Ao fim do dia de quinta-feira, o balanço apontava sete mortos causados pelo naufrágio do navio perto da ilha são-tomense do Príncipe - quatro crianças e três adultos -, existindo ainda dez desaparecidos. Um total de 55 pessoas foram resgatadas com vida, três delas com ferimentos graves que obrigaram a evacuação para São Tomé.
O presidente do governo regional do Príncipe, José Cassandra, disse que o naufrágio do navio 'Amfitriti' "não pode ficar impune", lamentando que a ilha venha sendo afetada por acidentes marítimos nos últimos anos.
Nas suas declarações, José Cassandra afirmou que estavam "registados três estrangeiros que vinham no barco", duas cidadãs portuguesas e um francês, embora tenha depois indicado tratar-se de "informações não confirmadas". "Ao povo português e aos familiares desses estrangeiros, manifestar a nossa total solidariedade", disse.
O executivo regional do Príncipe, que se reuniu na sequência do acidente, decretou três dias de luto e suspendeu as festividades do Dia da Autonomia da região, que se celebraria neste fim de semana.
O navio Amfitriti fazia a ligação entre as ilhas de São Tomé e do Príncipe, uma viagem que dura entre seis e oito horas, e naufragou às primeiras horas da manhã de quinta-feira, já próximo da ilha do Príncipe.
O primeiro socorro às vítimas foi feito por barcos particulares, nomeadamente de pescadores.
Também o Centro de Coordenação de Busca e Salvamento (MRCC) de Lisboa prestou apoio às autoridades de São Tomé e Príncipe nas operações, após contacto com o navio patrulha NRP Zaire, em missão de patrulhamento naquele país.
O MRCC solicitou ainda ao Instituto Hidrográfico o cálculo da deriva, prontamente efetuado, por forma a ajudar as autoridades são-tomenses e todos os meios envolvidos nas buscas.
O NRP Zaire, com uma guarnição constituída por militares portugueses e são-tomenses, navegou de imediato para o local do naufrágio. A bordo seguiu uma equipa de mergulhadores da Guarda Costeira de São Tomé e Príncipe e uma equipa médica que se junta ao enfermeiro do navio português e é constituída por um médico e um socorrista do Exército de São Tomé e um enfermeiro da Guarda Costeira local.
O navio Amfitriti zarpou do porto de São Tomé com destino à cidade de Santo António e adornou já perto da ilha do Príncipe, afundando-se em seguida. Suspeita-se que o excesso de carga possa estar na origem do naufrágio.
O navio é habitualmente utilizado por residentes da ilha do Príncipe, que se deslocam à capital para fazer compras.
Segundo informações avançadas pelo sítio de notícias são-tomense Telá Nón, o navio é privado e pertence a homens de negócios belgas e franceses - nomeadamente o cônsul de São Tomé e Príncipe em Paris, Eric Duval, e o cônsul da Bélgica em São Tomé e Príncipe, Jean Philippe. O Amfitriti foi comprado na Grécia e começou a operar em São Tomé no ano 2015.
Este é terceiro acidente marítimo grave na ligação entre as duas ilhas. Há cerca de dois anos, o navio Ferro-Ferro desapareceu com pelo menos 12 passageiros e tripulantes, não se sabendo até hoje exatamente o que aconteceu.
Há cerca de dois meses, uma outra embarcação ficou à deriva no alto-mar durante perto de cinco horas, por falta de combustível, com mais de 51 passageiros a bordo.
Entretanto, o primeiro-ministro são-tomense, Jorge Bom Jesus, anunciou a "abertura imediata de um inquérito" ao naufrágio do navio no Príncipe.
"Todas as medidas estão a ser tomadas, para, em primeiro lugar, se encontrar rapidamente os desaparecidos, garantir toda a assistência aos sobreviventes e, num segundo momento, se proceder à abertura imediata de um inquérito para se apurar as causas deste trágico acidente e assacar as eventuais responsabilidades", afirmou o chefe do governo de São Tomé e Príncipe, em declarações aos jornalistas.
Notícia atualizada às 23:59 de dia 24 de abril