Sánchez rejeita oferta de última hora de Iglesias para desbloquear investidura
A Unidas Podemos, de Pablo Iglesias, lançou na manhã desta quinta-feira uma oferta de última hora a Pedro Sánchez para a formação de um governo de coligação, depois de na véspera os socialistas terem dado como falhadas as negociações. Mas a direção dos socialistas já rejeitou a nova oferta, mantendo aquela que fez na véspera.
Sem o apoio dos deputados da aliança de esquerda (e fora uma surpresa de última hora com a abstenção do Ciudadanos e do Partido Popular), o líder do PSOE não terá votos para passar na segunda votação do debate de investidura, prevista para esta tarde. A minutos do inicio do debate, a Unidas Podemos anunciou que se ia abster.
A oferta de Iglesias passa por garantir que a Unidas Podemos tem uma vice-presidência social, os ministérios do Trabalho, da Saúde e da Ciência no eventual governo de Sánchez. Dizem ter "vontade de desbloquear a atual situação e construir um governo de coligação progressista que aborde os grandes desafios" de Espanha.
Na quarta-feira, o líder socialista confirmou a Iglesias que só estava disposto a dar-lhe uma vice-presidência de Assuntos Sociais e os ministérios da Habitação e Economia social, o da Saúde, Assuntos Sociais e Consumo e o da Igualdade. Uma oferta que a direção do PSOE reiterou esta quinta-feira. "Recordamos que não há pastas de primeira nem de segunda. Todas contribuem a melhorar a vida dos cidadãos e formam parte do Conselho de Ministros de Espanha", indicaram, segundo o El País.
A Unidas Podemos é uma aliança entre Podemos e Esquerda Unidas, sendo que este último partido tem na prática seis deputados entre os 42 que formam o grupo. Sem acordo, a Esquerda Unida decidiu que se ia abster na segunda votação, mesmo que o Podemos optasse por votar contra. "Contudo, a Esquerda Unida continua a falar nestes momentos com o governo e com o Podemos para tentar chegar a acordo".
"Não tenho muitas esperanças, mas é verdade que temos até ao fim da manhã", disse o chefe das negociações da Unidas Podemos, Pablo Echenique, depois de acusar, mais uma vez, os socialistas de terem "rompido" as negociações.
Por seu lado, a vice-primeira-ministra, Carmen Calvo, que negocia em nome dos socialistas, acusou o partido de Iglesias de querer fazer a gestão de "mais do que metade do Orçamento" de Estado, o que, segundo ela, é "absolutamente irrealista". Acusa-os de quererem "o governo inteiro".
Em declarações à La Sexta, acrescentou: "Nós insistimos primeiro no programa e depois nas pastas. Eles responderam: ou sou vice-primeiro-ministro ou nada. Será a segunda vez que negam a presidência a um governo socialista."
Na primeira votação, na terça-feira, Sánchez precisava de maioria absoluta, que são 176 votos. Mas não foi além dos 124 (os 123 socialistas e o único do Partido Regionalista da Cantábria), com a Unidas Podemos a abster-se como gesto de boa vontade para continuar as negociações. Na segunda votação, que acontecerá a partir das 14.25 (13.25 em Lisboa) Sánchez só precisa de maioria simples, isto é, mais "sim" do que "não".
Antes, a partir das 13.30 (12.30 em Lisboa) haverá uma nova intervenção de Sánchez, de 10 minutos, para voltar a pedir a confiança do Congresso espanhol, com os restantes grupos parlamentares a terem cinco minutos para lhe responder. Depois, os deputados são chamados um a um para votar em voz alta, sendo os últimos a votar os membros do governo e da Mesa do Parlamento.
Apesar de não ter acordo, Sánchez poderá contudo contar com a abstenção da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), que deixou alertas: "Se não há acordo será a morte política de Iglesias e de Sánchez", defendeu Gabriel Rufián. O porta-voz da ERC no Congresso pediu ao líder socialista que levante o veto a Iglesias fazer parte do seu governo, dizendo que isso "foi um erro", mas deixa também um pedido ao líder da Unidas Podemos: "Ter quatro ministérios é um êxito extraordinário. Que o aceite. Tem quatro anos para demonstrar que são melhores", acrescentou.
Os independentistas catalães do Junts per Catalunya já confirmaram que vão votar contra a investidura de Sánchez, tal como a deputada da Coligação Canária. O representante do Compromís irá repetir a abstenção de terça-feira, com os nacionalistas bascos do Bildu a optarem também pela abstenção.
Se Sánchez não conseguir a investidura esta quinta-feira, tem ainda dois meses para tentar chegar a acordo com a Unidas Podemos, sendo possível uma nova votação em setembro. Contudo, o líder socialista tem sempre recusado adiar a situação, dizendo que não irá mais longe na sua oferta do que foi agora.
(Notícia atualizada às 12.00 com indicação de voto de outros partidos e correção de voto do ERC para abstenção)