O quotidiano dos militares portugueses da República Centro-Africana, um país em guerra civil

Militares impressionados com a pobreza extrema que encontraram no país. Ultima leva de "capacetes azuis" portugueses ao serviço na RCA está numa fase final de ambientação e de preparação para a sua missão.
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O contacto com a pobreza extrema e a tensão militar permanente marcam o quotidiano dos militares portugueses destacados na República Centro-Africana, um país em guerra civil que tarda em reerguer-se.

Bangui, capital da República Centro-Africana (RCA), uma cidade atormentada por inúmeras vagas de violência no passado recente. Debaixo de uma patina de destruição e pobreza, são visíveis ainda algumas marcas que outrora levaram a que a cidade fosse conhecida por "Bangui, la Coquette".

A sua localização geográfica contribui muito para isso: na margem direita do rio Ubangui (um dos afluentes mais importantes do Rio Congo), e rodeada de colinas luxuriantemente verdes. Visíveis são também marcas de uma presença portuguesa bastante significante que, nos anos 50 e 60, controlava o pequeno comercio na cidade.

Recém-chegada a Bangui, a última leva de "Capacetes Azuis" portugueses ao serviço na RCA está numa fase final de ambientação ao terreno e de preparação especifica para a sua missão. Trata-se da 5ta Força Nacional Destacada para esse país africano, onde opera como a Força de Reação Rápida (FRR) da Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização da República Centro-Africana (MINUSCA).

Segundo o major Luís Pereira, o Segundo Comandante da FRR, "são jovens bem formados, com um ótimo espírito de equipa, prontos para o que aí vem".

"Nós viemos para aqui como uma unidade, nós estamos aqui como uma unidade", afirmou o major Luís Pereira

O primeiro-cabo Nelson Mato (de Baião), João Santos (Ovar), Joilton Pina (Almada) e Leonardo Serrazina (Benedita) são exemplo da ansiedade de novatos perante um país em guerra civil.

"Fomos bem treinados em Portugal antes de vir e, além disso, eu sei que os meus camaradas nunca me deixarão ficar mal", afirmou João Santos

"Eu nasci em Cabo Verde, onde morei até aos meus 10 anos", disse o Joilton Pina, que se mostrou impressionado com a pobreza no país.

"Já tinha visto pobreza, muitas crianças a brincarem na rua sem sapatos, mas nunca nada como aqui", disse.

André Santos, de Sintra, está pela segunda vez em Bangui e diz que o contacto com a pobreza extrema mudou o seu próprio comportamento.

Da primeira vez que esteve no país, quando estava numa operação fora da capital, ofereceu uma ração de combate a uma idosa, que serviu para alimentar uma família.

"Isto é mesmo a sério", resumiu.

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