PSOE apresenta moção de censura contra Rajoy. Ciudadanos quer eleições

Podemos vai apoiar a decisão e Ciudadanos manifesta apoio se servir para convocar eleições
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Depois de um intenso debate na cúpula do PSOE durante esta quinta-feira, a liderança socialista apresentou na manhã desta sexta-feira no Congresso dos Deputados uma moção de censura contra Mariano Rajoy. O Podemos tornou pública a decisão de apoiar esta moção.

A decisão foi tomada na sequência das condenações que esta quinta-feira foram conhecidas no âmbito do caso Gürtel.

"O PSOE pediu ao PP que assumisse as suas responsabilidades, sem sucesso", disse Pedro Sánchez. "Tiveram a possibilidade de o fazer e não o fizeram diante de uma sentença que é uma condenação", acrescentou.

A moção de censura é assinada pelos 84 deputados do grupo parlamentar do PSOE, sendo Pedro Sánchez o candidato à presidência do governo. O líder socialista diz que a moção de censura é para governar e não indica quando poderá convocar eleições. O Ciudadanos defendia que a moção de censura devia servir para convocar eleições.

Um tribunal espanhol aplicou na quinta-feira penas elevadas a uma série de políticos e empresários envolvidos num esquema de corrupção, a que se chamou "caso Gürtel", que ajudou a financiar o Partido Popular (PP), no poder.

O próprio partido do primeiro-ministro foi multado em 245 mil euros por ter beneficiado do esquema ilegal que se baseava em conceder contratos públicos a empresas em troca de dinheiro.

O registo da moção de censura do PSOE, que foi levada em mão pela porta-voz do partido, Margarita Robles, ocorreu antes de o secretário-geral do partido, Pedro Sánchez, informar a direção nacional do partido, que está reunida neste momento na sede, em Madrid.

Sanchez reuniu-se na quinta-feira com parte da liderança do partido para analisar a possibilidade de apresentar a moção, que foi entregue esta manhã na Câmara Baixa.

A moção havia sido exigida na quinta-feira pelo líder do partido Podemos, Pablo Iglesias, que já havia adiantado que a apoiaria.

Iglesias denunciou que a decisão do "caso Gürtel" é a prova de que há "um partido delinquente" no comando do Governo, o que não se pode permitir em nenhuma democracia.

Mas os votos do PSOE e do Podemos são insuficientes para aprovar a moção de censura, uma vez que é necessária maioria absoluta (176 deputados) e ambas as formações só têm 151.

Entretanto, o partido Ciudadanos veio dizer, através de um tweet, que apoiará o movimento do PSOE, desde que seja "instrumental" e sirva para convocar novas eleições.

"Se o senhor Rajoy se recusar a convocar uma votação, apoiaremos uma moção de censura, ou convocaremos eleições ou o Congresso fará isso por meio de uma moção instrumental", disse José María Villegas.

A ideia seria apoiar a moção para escolher um "candidato instrumental", isto é, investir um candidato cujo objetivo seja apenas o de convocar eleições.

O seu presidente, Albert Rivera, anunciou na quinta-feira que o seu partido "avaliará" o que vai fazer no resto da Legislatura e a sua relação com o Governo depois da sentença do "caso Gürtel" contra o Partido Popular (PP), que colocou o Executivo e o país em uma situação "tão grave".

"Há um antes e um depois" após a decisão do tribunal, disse Rivera.

Antes de saber da notícia da entrega da moção de censura, o vice-secretário de comunicação do PP, Pablo Casado, considerou que esta moção não seguiria em frente, já que "não teria a soma de votos necessária", sem o apoio dos Cidadãos ou de outros partidos.

Mariano Rajoy, chamado a prestar declarações ao tribunal no âmbito do "caso Gürtel", em julho de 2017, declarou na altura que não estava a par dos casos de corrupção quando estes tiveram lugar a partir de 1999 e que ele próprio decidiu, em 2004, cortar as relações que havia entre o PP e Francisco Correa, cujas empresas forneciam serviços a esse partido.

Este empresário, que é considerado o "cérebro" do "caso Gurtel", foi na quinta-feira condenado a mais de 52 anos de prisão e Luis Barcenas, um ex-tesoureiro do PP, a 33 anos de prisão e ao pagamento de uma multa de quatro milhões de euros.

Durante o julgamento, Francisco Correa explicou um esquema em que entregava "envelopes" com dinheiro a funcionários públicos e responsáveis políticos eleitos pelo PP, para ajudarem certas empresas "amigas" a ganharem contratos de direito público.

Mariano Rajoy nunca foi envolvido diretamente no caso Gurtel, mas os seus cargos de responsabilidade no PP têm levado os opositores a acusá-lo de ter "fechado os olhos" ao esquema. Este e outros escândalos de corrupção que envolvem membros do PP contribuíram para que o partido perdesse em dezembro de 2015 a maioria absoluta que tinha no parlamento espanhol.

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