Princesa Lotus de Vidro triste: "Como é que isto pode ser assim?"

A princesa tailandesa Ubolratana, que queria concorrer às eleições de março como candidata a primeira-ministra, não se conforma com a decisão da Comissão de Eleições, que a desqualificou por pertencer à família real. "Isto não deveria acontecer no nosso tempo", comentou.
Publicado a
Atualizado a

"Fico muito triste por a minha intenção sincera de trabalhar em prol do país e de todos nós tailandeses ter criado um problema que não deveria acontecer no nosso tempo."

Foi assim que a princesa tailandesa Ubolratana - que significa "lotus de vidro" -, irmã mais velha do atual rei, reagiu, no Instagram, à decisão da Comissão Nacional de Eleições do seu país, que esta segunda-feira anunciou ser inadmissível a sua candidatura às eleições legislativas de 24 de março, considerando-a "hostil à monarquia constitucional". Ubolratana tinha sido apresentada na sexta-feira como a candidata a primeira-ministra do partido Raksa Chart. A razão da desqualificação prende-se com o facto de os membros da família real não poderem envolver-se na política. "Todos os membros da família real têm de obedecer à mesma regra, que impõe que a monarquia esteja acima da política e seja neutral."

O próprio rei, Vajiralongkorn, pronunciou-se contra a candidatura da irmã: "O envolvimento de um membro da família real na política é considerado extremamente inapropriado." O decreto real, lido na televisão nacional, refere que a candidatura da princesa é "contra o sistema constitucional". Nenhum membro da família real foi candidato a chefe de governo desde o estabelecimento da monarquia constitucional em 1932.

A princesa, de 66 anos, cujo nome completo é Rajakanya Sirivadhana Barnavadi, renunciou a todos os títulos reais em 1972, quando casou com um americano, seu colega no MIT, Instituto de Tecnologia do Massachusetts, onde estava a estudar matemática e bioquímica. Em 2001, após divorciar-se, regressou à Tailândia e assumiu algumas funções como membro da família real. Criou uma fundação para combater o uso de drogas pelos jovens e tem um programa de TV, Fala com a princesa. Também participou numa telenovela, numa série de TV que ela própria escreveu e em dois filmes, um dos quais de ação, e no ano passado dançou e cantou em palco com uma das mais populares bandas pop do país, a girl band BNK48. Diz-se que era a favorita do pai, o rei Bhumibol Adulyadej, que morreu em 2016, após mais de 70 anos no trono.

Na sexta-feira, após o anúncio da sua candidatura, a princesa tinha frisado no Instagram que, tendo renunciado a todos os títulos reais, vive agora como uma vulgar cidadã e, como tal, considera poder ter o direito de se candidatar a primeira-ministra.

O atual primeiro-ministro, também candidato às eleições, é o general Prayuth Chan-ocha, que liderou o golpe de Estado que em 2014 derrubou o governo em funções. A Comissão Nacional de Eleições, nomeada pelo governo militar, pediu ao Tribunal Constitucional para dissolver o partido que candidatou a princesa. O partido tinha, no sábado, retirado a candidatura de Ubolratana, após conhecer o decreto real: "Submetemo-nos à ordem real", afirmou em comunicado. O seu líder, Preechaphol Pongpanit, assegurou que se tratou de uma proposta "sincera, com boas intenções", acrescentando: "O rei e a monarquia estão acima de nós. Estamos prontos para ser investigados."

O inesperado anúncio da candidatura da princesa terá assustado a junta militar. O partido que a candidatou, que se espera ter mais votos que os militares, ganharia ainda mais vantagem com uma prospetiva primeira-ministra da realeza, dada a reverência que a maioria da população tem pela família real. Uma primeira-ministra da realeza teria podido, segundo alguns analistas, ajudado a reconciliar as diferentes fações em conflito na política tailandesa nos últimos 13 anos.

As eleições parlamentares de 24 de março são as primeiras desde o golpe de Estado militar em 2014 liderado pelo atual chefe de governo. Na votação serão eleitos 500 membros do futuro parlamento da Tailândia, que por sua vez vão eleger o próximo primeiro-ministro.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt