Salvini responde a críticas de Conte com beijo a rosário

Primeiro-ministro demissionário não poupou o líder da Liga e vice-primeiro-ministro, Matteo Salvini: "Irresponsável e oportunista".
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O primeiro-ministro italiano Giuseppe Conte apresentou a sua demissão depois de acusar o líder da Liga Matteo Salvini de colocar os interesses pessoais e partidários acima dos do país, e de alertar que a decisão de derrubar o governo poderá prejudicar a economia.

Dirigindo-se ao Senado para falar sobre a crise desencadeada por Salvini, Conte acusou o vice-primeiro-ministro e ministro do Interior de tentar lucrar com a crescente popularidade nas sondagens e provocar eleições antecipadas, colocando em risco as reformas planeadas.
"Mostrou que está a seguir os próprios interesses e os do seu partido", disse Conte num Senado cheio, com Salvini sentado ao lado direito. "As suas decisões representam sérios riscos para este país."

"No final deste debate, irei ao encontro do presidente da república para me demitir", anunciou. "Agora o presidente da república vai liderar o país nesta delicada transição. Aproveito esta oportunidade para lhe agradecer o apoio que me deu", disse sobre Sergio Mattarella .

Inconsciência religiosa

Conte criticou ainda a deriva antidemocrática e as interferências de Salvini que "minaram a eficácia da ação" do governo. Além do mais, o dirigente demissionário acusou Salvini de "inconsciência religiosa" por usar símbolos religiosos durante eventos políticos, porque "corre-se o risco de pôr em risco o princípio do secularismo, princípio fundamental de um Estado moderno". O ministro do Interior reagiu com gestos e com um beijo num rosário, ao que o chefe do governo, após pousar a mão no ombro em Salvini, afirmou: "Estes comportamentos nada têm a ver com o princípio da liberdade religiosa."

Ao tomar a palavra, Salvini disse que faria tudo igual outra vez. Sobre a questão religiosa alegou: "Os italianos não votam com base num rosário, mas com a cabeça e o coração. Peço a proteção do coração imaculado de Maria para a Itália, não me envergonho disso, pelo contrário."

Na prática, Salvini tinha feito xeque ao governo, quando há uma dúzia de dias acabou com a aliança entre o seu partido nacionalista e o anti-sistema Movimento 5 Estrelas, liderado por Luigi Di Maio. Alegou estar cansado de conflitos com o parceiro de coligação e exigiu a realização de eleições no outono. A partir do momento em que o governo foi constituído, no dia 1 de junho de 2018, os papéis inverteram-se, com o M5E a cair para segunda força política, e a Liga a ascender a primeira força, com valores entre os 36% a 38%. É esta onda de popularidade que Salvini, o homem que impede os navios com migrantes de aportarem, quer cavalgar, ascendendo a líder do próximo executivo.

Giuseppe Conte, um perfeito desconhecido até ao momento em que foi indicado para chefiar o governo, é jurista e professor universitário e foi um nome apontado pelo M5E. Conte escrevera o capítulo do programa eleitoral do partido no que se refere à justiça.

A decisão de Conte não surpreendeu, pondo fim a um governo populista que colecionou tensões com Bruxelas e com Paris, em especial com o presidente Emmanuel Macron.

O tema não foi esquecido por Conte na mensagem ao Senado. "Esta crise ocorre num momento delicado do diálogo com as instituições da UE. As negociações para a designação dos comissários estão prestes a ser concluídas e eu trabalhei para garantir à Itália um papel central. É evidente que a Itália corre o risco de participar nesta negociação em condições de objetiva fragilidade", lamentou.

No Facebook, Luigi Di Maio escreveu que foi uma "honra trabalhar juntos neste governo". "É uma das escolhas de que mais me orgulho na minha vida. É uma pérola rara, um servidor da nação que a Itália não pode perder. Força, meu amigo!", escreveu o líder do 5 Estrelas.

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