Preços do petróleo disparam após ataques com drones a refinaria saudita
Os preços do petróleo já aumentaram mais de 10% na sequência do ataque com drones às instalações petrolíferas da Aramco, na Arábia Saudita, uma vez que a produção diminuiu para metade. Nos Estados Unidos, Donald Trump autorizou o recurso ao fundo de reservas de emergência e admite uma resposta militar contra o Irão, que acusa de ser o responsável pelo atentado, caso as autoridades sauditas o apoiem. "Estamos carregados e prontos", ameaça.
Em Portugal, a Entidade Nacional para o Setor Energético (ENSE) disponibilizou-se também para mobilizar reservas de petróleo caso se prolongue o corte temporário. Em comunicado, a ENSE afirma que "dispõe de reservas estratégicas que podem ser mobilizadas para suprir uma falta eventual" e precisa que tem "à sua disposição 538,1 mil toneladas de crude em reservas físicas e 373,5 mil toneladas em tickets que representam direitos de opção sobre crude armazenado em Portugal e noutros países da União Europeia".
Esta segunda-feira, o preço do barril de petróleo do Texas (WTI), de referência norte-americana, subiu 9,81%, para 60,23 dólares e o crude do mar do Norte, referência europeia, subiu 11,04%, para 66,87 dólares.
O incêndio provocado pelo ataque com drones às instalações petrolíferas da gigante saudita Aramco, a maior instalação petróleo do mundo, e ao campo de petróleo de Khurais não fez vitimas, mas provocou um grande volume de destruição. E levou à suspensão de mais de 5% da produção diária de petróleo bruto no mundo.
Durante o dia de domingo, um barril de petróleo Brent chegou a ser negociado a 70,98 dólares em Nova Iorque, um aumento de 18% em relação a sexta-feira, quando estava a ser negociado por 60,15 dólares.
Donald Trump autorizou "caso seja necessário" o recurso à Reserva Estratégica de Petróleo (a maior reserva de emergência do mundo, com capacidade para 727 milhões de barris) para colmatar os efeitos do ataque à refinaria da Aramco.
O ataque já foi reivindicado pelos rebeldes iemenitas Huthis, no entanto sauditas e norte-americanos apontam o dedo ao governo iraniano, que nega qualquer relação com o ataque. O governo dos Estados Unidos publicou entretanto várias imagens de satélite, com áreas assinaladas como correspondendo a zonas de impacto dos mísseis alegadamente disparados pelo Irão. De acordo com funcionários dos serviços de inteligente dos Estados Unidos, citados pelo New York Times, o trajeto dos mísseis indica que estes foram disparados a partir do Norte do Golfo Pérsico e não do Iémen.
Donald Trump fala mesmo em retaliação, sugerindo que é possível uma resposta militar norte-americana, se contar com o apoio da investigação das autoridades da Arábia Saudita.
"As refinarias de petróleo da Arábia Saudita foram atacadas. Há razões para pensar que conhecemos o culpado, estamos carregados e prontos, com verificação pendente, mas estamos a aguardar por notícias do reino [saudita] sobre quem eles acreditam que foi a causa desse ataque e em que termos vamos prosseguir!", escreveu o presidente dos Estados Unidos na rede social Twitter.
Também o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, acusou o Irão de ser o responsável pelo incêndio, acrescentando que não há provas que mostrem que o ataque tenha tido origem no Iémen. Para Pompeo, o incidente junta-se a uma lista de outros 100 já concretizados e levados a cabo pelo Irão para prejudicar a produção petrolífera. Este ano, os americanos acusaram o Irão de ser o responsável pelos ataques a dois navios petroleiros no Golfo, em junho e julho, bem como a outros quatro em maio.
"Pedimos a todas as nações que condenem publicamente de forma inequívoca os ataques do Irão. Os Estados Unidos trabalharão com os nossos parceiros e aliados para garantir que o mercado de energia permanece bem abastecido e o Irão seja responsabilizado pela sua agressão", referiu Pompeo no Twitter.
Em resposta às acusações da administração de Donald Trump, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irão, Abbas Mousavi, disse: "Tais acusações e comentários cegos são incompreensíveis e sem sentido". Acrescentando ainda que os EUA adotaram uma política de "pressão máxima" sobre o país, que leva a "mentiras máximas".
Sobre a possibilidade levantada neste domingo de um possível encontro entre os governos iraniano e norte-americano, a agência Reuters avança, esta segunda-feira, que o presidente do Irão não está disponível para se reunir com Donald Trump. Também o chefe de estado norte-americano já fez saber, via Twitter, que desconsidera esta mesma hipótese.
Perante a perspetiva de os dois países não aceitarem resolver o conflito pela via diplomática, a União Europeia pediu, esta segunda-feira, "máxima contenção" aos dois países. "É importante estabelecer claramente os factos e determinar a responsabilidade por este ataque abominável", disse a porta-voz da Comissão Europeia para a Política Externa, Maja Kocijancic, citada pela agência Lusa.
Horas antes, também a China e a Rússia apelavam "às partes envolvidas para se absterem de tomar medidas que levem ao aumento das tensões na região". "Na ausência de uma investigação incontestável que permita tirar conclusões, não é responsável conjeturar sobre quem deve ser responsabilizado", afirmava em conferência de imprensa Hua Chunying, a porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros.
"Este incidente é uma história muito desagradável com consequências muito desagradáveis para os mercados mundiais de petróleo", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, esperando que "a Arábia Saudita seja capaz de lidar com os danos o mais depressa possível".
Desde maio que a tensão entre os Estados Unidos e o Irão se tem tornado cada vez palpável, altura em que o ocidente começou a sancionar as exportações de petróleo iranianas. Na mesma semana, registou-se uma escalada, após a República Islâmica ter suspendido alguns dos seus compromissos nucleares, com Washington a acusar Teerão de preparar ofensivas contra os seus interesses no Médio Oriente e a reforçar a sua presença militar no Golfo Pérsico.
Estes são alguns dos pontos fundamentais da escalada de tensão entre os dois países:
10 de maio. A Administração Marítima dos Estados Unidos alertou para possíveis ataques iranianos aos seus navios no Golfo.
12 de maio. Quatro navios, incluindo dois petroleiros sauditas, são atacados no Golfo. As autoridades norte-americanas atribuem a responsabilidade ao Irão, que nega as culpas.
12 de junho. Um ataque com drones, reivindicado pelos rebeldes iemenitas Huthis, no aeroporto civil de Abha, Arábia Saudita, faz 26 feridos.
20 de junho. Irão derruba um drone de vigilância norte-americano.
4 de julho. Fuzileiros navais britânicos apreendem um petroleiro iraniano, perto de Gibraltar, por suspeita de violação das sanções da União Europeia à Síria.
19 de julho. Irão apreende dois navios petroleiros britânicos, um deles libertado pouco depois.