Piratas, liberais, reformados, federalistas. As surpresas no renovado Parlamento Europeu

Em Portugal foi o PAN. Que partidos surpreenderam nas eleições de 26 de maio, por essa Europa fora?
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Daqui a um mês, no dia 2 de julho, terá início a 9.ª legislatura do Parlamento Europeu (PE), com mais deputados nacionalistas e populistas, mais ambientalistas e menos conservadores e sociais-democratas e socialistas democráticos. Na sessão inaugural de Estrasburgo, na qual os eurodeputados irão eleger o presidente, os 14 vice-presidentes e os cinco questores (deputados supervisores dos assuntos financeiros dos pares), os representantes dos partidos em estreia já devem estar na respetiva família política ou sentados na bancada dos não inscritos.

Excluído o Partido do Brexit de Nigel Farage, o movimento que chega pela primeira vez ao Parlamento Europeu com melhor resultado é o Partido Pirata checo. Com 13,9%, elegeu três representantes em 21. Por um lado, o Pirátská Strana tem afinidades com outros partidos pirata que já tiveram representação parlamentar, como os suecos, ou que mantêm, caso dos alemães. Na sequência do sufrágio, o alemão Patrick Breyer apelou à união com os piratas checos. "A Europa não escolheu apenas uma nova voz pela privacidade e pela internet gratuita, mas várias. Nunca antes, em Bruxelas, tantos piratas lutaram pelos nossos direitos humanos na era digital", regozijou-se.

O partido checo, fundado há menos de uma década, chegou também com força ao parlamento nacional em 2017, ao atingir 11%. Essas eleições marcaram a chegada dos partidos anti-establishment, como o do primeiro-ministro Andrej Babis, ANO. Só que este está em dificuldades porque o governante e empresário está a ser investigado por um caso de fraude de dois milhões de euros em subsídios europeus, de há uma década, e agora a Comissão Europeia concluiu que Babis tem um conflito de interesses e o país arrisca-se a perder fundos europeus. Os piratas irão apresentar uma moção de censura ao governo minoritário e há uma manifestação marcada contra Babis na segunda-feira, em Praga.

Os piratas checos deverão integrar o grupo dos Verdes no PE. As suas prioridades são uma moratória em novas leis de vigilância aos cidadãos, a luta pela liberdade de expressão online e a rejeição de filtros e de todas as formas de censura na internet.

O Pirátská Strana faz parte do Movimento Primavera Europeia (DiEM25), uma plataforma transnacional que juntou sob o mesmo manifesto partidos de oito países, como o Livre de Rui Tavares ou o MeRA25, na Grécia. Mas só os Piratas elegeram deputados. Na Grécia, com o ex-ministro das Finanças Yannis Varoufakis a dar a cara pelo movimento, o cabeça de lista, um desconhecido alemão, ficou a 0,1% da eleição. Varoufakis concorreu na Alemanha pelo Demokratie in Europa, e não conquistou mais do que 0,3% dos votos.

Primavera na Polónia

Se o Movimento Primavera Europeia não foi bem-sucedida nas urnas, na Polónia uma outra Primavera cantou vitória. O Wiosna (Primavera), fundado em fevereiro, alcançou 6,6% dos votos e a eleição de três representantes (em 51 polacos).

O partido de centro-esquerda defende os valores europeus e o seu líder, o ex-deputado e ex-autarca Robert Biedron, é um ativista pelos direitos LGBT. Uma pedrada no charco num país dominado pela agenda ultraconservadora e nacionalista.

Momento Momentum

Na Hungria dominada pelo nacionalista Fidész do primeiro-ministro Viktor Orbán, um partido que se apresentou pela primeira vez às europeias logrou ficar em terceiro lugar e, de certa forma, tirar o brilho à maioria renovada do partido do governo. O Momentum Mozgalom alcançou 9,8% dos votos e elegeu duas deputadas (em 21): Katalin Cseh, de 30 anos, e cabeça de lista às eleições; e Anna Júlia Donáth, de 32 anos, e vice-presidente do movimento. As deputadas irão juntar-se à nova família política dos liberais e do movimento de Emmanuel Macron.

Nascido em reação à candidatura da Hungria ao Jogos Olímpicos de 2024, a associação cívica juntou mais de 250 mil assinaturas a exigir um referendo sobre o assunto. O governo entretanto retirou-se da corrida.

O Momentum transformou-se, em 2017, num partido centrista, liberal, pró-europeu e progressista e concorreu pela primeira vez às legislativas de 2018, mas os 3% não chegaram para eleger qualquer deputado.

Volt ao federalismo

Na Alemanha, onde pequenos partidos conseguem tradicionalmente representação nestas eleições, a eleição de dois deputados pelo partido Die Partei (O Partido) só é notícia porque este movimento satírico, com 2,4%, duplicou a representação na bancada dos não inscritos. Novidade foi a eleição de um deputado pelo Volt, o outro movimento transnacional além do DiEm25. Damian von Boeselager, com 0,7% dos votos do eleitorado alemão, vai defender o federalismo.

No Reino Unido as atenções foram todas para a vitória (esperada) do Partido do Brexit e para o descalabro dos conservadores e, em menor escala, dos trabalhistas. Mas na província da Irlanda do Norte também se fez história. Pela primeira vez o Alliance, partido liberal e europeísta, fundado em 1970, obteve um dos três lugares reservados aos norte-irlandeses. Ou antes, às norte-irlandesas, uma vez que pela primeira vez se fez o pleno da representação parlamentar no feminino.

Os eleitores holandeses travaram a onda populista, mas premiaram, em pequena escala, os interesses de uma fatia da população, ao eleger um eurodeputado pelo 50Plus. Este partido, criado há 10 anos, defende os interesses dos reformados e pensionistas e vai enviar para Bruxelas Toine Manders, de 63 anos, ele próprio reformado do PE: foi eurodeputado entre 1999 e 2013 pelo VVD.

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