"A igreja não pode ser Igreja sem a mulher, porque a igreja é mulher, é feminina. É a Igreja, não o Igreja. Uma dimensão que não tenha feminilidade na Igreja faz com que a Igreja não seja Igreja." As palavras são do Papa Francisco, em entrevista ao jornal espanhol La Vanguardia, que publicou este domingo um excerto da conversa onde diz também que é preciso "limpar o Vaticano" como Jesus expulsou os vendilhões do Templo, e fala de abusos sexuais, do aborto e do acolhimento aos migrantes e refugiados..As resposta do Papa surge à pergunta do jornalista espanhol Jordi Evole sobre o porquê de as mulheres continuarem a ser discriminadas na sociedade e na Igreja. "Promover as mulheres na Igreja é ouvi-las, dar-lhes funções. Mas isso não é suficiente. O que ainda não conseguimos é perceber que a figura das mulheres vai além da funcionalidade.".E é ainda no tema das mulheres que fala sobre o aborto. O jornalista dá-lhe um exemplo: se uma mulher vítima de violação lhe dissesse que tinha ficado grávida, entenderia que quisesse abortar? A resposta é pronta, também em forma de pergunta: "É lícito eliminar uma vida para resolver um problema? É lícito pagar a alguém para que a elimine?".O Papa disse ainda que "é preciso ir limpando" o Vaticano porque "é um Estado que não está a salvo dos pecados e vergonhas de outras sociedades". E explica: "Somos homens e temos os mesmos limites e caímos às vezes nas mesmas coisas. O trabalho a fazer é ir limpando, limpando, limpando", responde quando perguntado se há muitos vendilhões no Vaticano, como os que Jesus expulsou do templo..Cimeira sobre abusos sexuais, um primeiro passo.A cimeira do Vaticano promovida por Francisco em fevereiro recebeu críticas das vítimas de abusos sexuais por parte de clérigos, que consideraram os resultados tímidos. Nesta entrevista, o Papa diz que compreende a insatisfação, mas faz questão de dizer este apenas um foi um primeiro passo.."As coisas concretas da cimeira foram iniciar processos. E isso leva o seu tempo. De toda a maneira, percebo as pessoas que ficaram insatisfeitas, porque quando há uma dor pelo meio, têm de calar, rezar, chorar, acompanhar e ponto. Mas iniciar o processo é a forma para a cura seja irreversível.".Francisco, filho de um emigrante italiano que foi para a Argentina de barco, diz não entender a insensibilidade de quem fecha a porta àqueles que migram para fugir às guerras, à fome ou a exploração. E apela à União Europeia para receber, acompanhar, promover e integrar os migrantes, numa atitude cristã: "Recebê-los e deixá-los na rua é horrível, é uma falta de respeito enorme.".O líder da Igreja Católica comenta ainda a proposta de Donald Trump de fazer um muro entre a fronteira do México com os Estados Unidos para travar a imigração. "Quem levanta um muro, acaba prisioneiro desse muro que levantou. Sim, defendo a minha autonomia. Mas acaba só como um fungo.".O Papa considerou que "em geral" a causa das migrações decorrem de um sistema económico capitalista "concebido como selvagem" que provoca desigualdade e guerras: "Sustento que estamos já numa terceira guerra mundial, aos bocadinhos".