Papa condena violência em nome de Deus em Abu Dhabi
"Devemos condenar todas as formas de violência sem hesitação porque usar o nome de Deus para justificar o ódio e a violência contra o irmão é uma grave profanação, não há violência que encontre justificação na religião", disse Francisco num encontro durante a sua primeira visita aos Emirados Árabes Unidos.
O Papa referiu mesmo que os líderes religiosos têm o dever de rejeitar todo o tipo de guerra e de assumir o compromisso do diálogo.
"Em nome do Deus Criador (...) deve-se condenar sem hesitação qualquer forma de violência, porque é uma grave profanação utilizar o nome de Deus para justificar o ódio e a violência contra um irmão", afirmou o pontífice, acrescentando: "Não há violência que possa ser religiosamente justificada".
Francisco acrescentou que não se deve cair na "tentação recorrente de julgar os outros como inimigos e adversários".
"Não há alternativa: ou construímos o futuro juntos ou não há futuro", disse o papa junto ao memorial do fundador dos Emirados Árabes Unidos.
"As religiões de uma maneira especial, não podem renunciar à urgente tarefa de construir povos e culturas", assinalou o pontífice depois de anunciar a assinatura de um protocolo de fraternidade humana com o grande imã de Al Azhar, a principal instituição do islamismo sunita.
Na sua intervenção apelou ainda para a "liberdade religiosa", enfatizando que "não se limita apenas à liberdade de culto", mas que a prática religiosa não seja "forçada" sobre uma pessoa.
Sobre a sua visita aos Emirados Árabes Unidos, o Papa Francisco justificou ter aceitado esta oportunidade para promover a paz e para ser um instrumento de paz.
"Estamos aqui para isso", disse o pontífice acrescentando que os Emirados Árabes Unidos representam a transformação do deserto num lugar prospero e hospitaleiro e num encontro entre culturas e religiões, oferecendo esperança a muitos diferentes povos, culturas e credos.
O pontífice concluiu o seu discurso recordando os conflitos dos vizinhos Iémen, Síria, Iraque e Líbia e sublinhou que "Deus ajude o homem que procura a paz".
Francisco, que se tornou no primeiro líder da Igreja Católica a pisar o solo da península arábica, berço do Islão, intervinha durante uma conferência sobre o diálogo inter-religioso, uma iniciativa patrocinada pelo Conselho de Anciãos Muçulmanos, com sede nos Emirados. País que declarou 2019 como o Ano da Tolerância.
Os Emirados Árabes Unidos estão envolvidos nos conflitos no Iémen, Síria e Líbia. No caso concreto do conflito no Iémen, participam na coligação internacional liderada pela Arábia Saudita que ajuda militarmente o governo iemenita na luta contra os rebeldes Huthis, apoiados pelo Irão.
"A fraternidade humana exige de nós, como representantes das religiões do mundo, o dever de rejeitar todas as matizes de aprovação da palavra 'guerra'", declarou Francisco, diante de uma plateia composta por líderes de várias correntes religiosas, recordando que a palavra guerra é sinónimo de "miséria" e de "crueldade".
"Deus está com aqueles que procuram a paz. Do céu ele abençoa cada passo que, para esse caminho, é realizado na terra", prosseguiu.
Na intervenção, Francisco lançou também um apelo em defesa da "liberdade religiosa", enfatizando que tal liberdade "não se limita apenas à liberdade de culto" e que nenhuma prática religiosa deve ser "imposta".
Nesse sentido, o pontífice pediu a todos os países do Médio Oriente que concedam "o mesmo direito à cidadania" às pessoas "de diferentes religiões".
"Não só aqui, mas em toda a região amada e central do Médio Oriente, desejo oportunidades concretas de relacionamento: (...) sociedades onde as pessoas de várias religiões têm o mesmo direito à cidadania", referiu.
Ainda no mesmo discurso, o Papa falou diretamente para os jovens do Médio Oriente, alertando para os perigos das designadas fake news e das campanhas de propaganda desencadeadas em vários países árabes do Golfo.
"Os jovens, que muitas vezes são cercados por mensagens negativas e fake news, precisam de aprender a não se renderem às seduções do materialismo, do ódio e do preconceito", declarou.
O papa Francisco chegou no domingo aos Emirados Árabes Unidos e terça-feira irá celebrar uma missa classificada como histórica num grande estádio de Abu Dhabi, para a qual são esperados mais de 130 000 fiéis.
Cerca de um milhão de católicos - a maioria imigrantes asiáticos - vive nos Emirados, país cuja população é constituída por mais de 85% de expatriados, e podem praticar a sua religião em oito igrejas.
Desde o início do seu pontificado, o papa já se deslocou a vários países cuja população é maioritariamente muçulmana, como o Egito, o Azerbaijão, o Bangladesh e a Turquia. Em março é esperado em Marrocos.