"Pai da nação" cazaque demite-se ao fim de 30 anos no poder

Nursultan Nazarbayev foi o único presidente do Cazaquistão. Apesar de se demitir vai manter a liderança no partido e no Conselho de Segurança do país.
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"Tomei a decisão, que não foi fácil para mim, de me demitir do cargo de presidente", disse Nazarbayev num discurso televisivo antes de assinar um decreto que dá por extintos os seus poderes a partir do dia 20. O anúncio inesperado põe fim a três décadas de poder com mão de ferro mas em que também, graças às receitas do gás e do petróleo, modernizou aquele país da Ásia Central e criou uma nova capital, Astana.

"Como o fundador do Estado independente do Cazaquistão, vejo a minha tarefa agora em facilitar a ascensão de uma nova geração de líderes que continuarão as reformas que estão em curso no país", declarou. No entanto disse que vai continuar a presidir o Conselho de Segurança e que se mantém líder do partido Nur Otan, que domina o Parlamento.

Kassym-Jomart Tokayev, presidente da câmara alta do Parlamento, assumirá o cargo de presidente em exercício até ao resto do mandato (abril de 2020), de acordo com a Constituição, disse o presidente cessante. Tokayev, de 65 anos, é um diplomata de carreira com formação em Moscovo, fluente em cazaque, russo, inglês e chinês, que já foi ministro dos Negócios Estrangeiros e primeiro-ministro do Cazaquistão.

Nazarbayev, de 78 anos, tem um longo percurso no poder. Em 1984 tornou-se primeiro-ministro do Cazaquistão, bem como primeiro secretário do Partido Comunista da república soviética. Durante o desmoronar da URSS foi nomeado o primeiro presidente do Cazaquistão. Em 1991 foi o único candidato às eleições.

Nazarbayev manteve relações estreitas com Moscovo - principal parceiro comercial - bem como com o presidente russo, Vladimir Putin. A sua renúncia foi vista na capital russa como "inesperada" e "muito séria" - assim reagiu Valentina Matvienko, presidente da câmara alta do Parlamento russo.

Nazarbayev, um antigo trabalhador siderúrgico que, como presidente, atraiu investimento de empresas estrangeiras de energia e a dinamizar a produção de petróleo e de gás do país, deu luz verde a uma série de medidas populares nos últimos meses, incluindo o aumento dos salários do setor público e cortes ou congelamento de taxas, o que alimentou a especulação de que se preparava para uma reeleição. Na última eleição, em 2015, obteve 97,7% dos votos.

O regime, segundo o relatório da Human Rights Watch, continua a ter "um histórico pobre de direitos humanos". "As autoridades não permitiram protestos pacíficos que criticassem as políticas governamentais. Os sindicatos permaneceram impedidos de determinar livremente as suas estruturas (...) A impunidade para tortura e maus-tratos na prisão persistiu. A liberdade de expressão foi suprimida e os jornalistas independentes foram perseguidos ou processados pelo seu trabalho", lê-se no mais recente relatório.

O Cazaquistão é o nono maior país do mundo em área, e com os seus 18 milhões de habitantes é um dos menos povoados por quilómetro quadrado. No seu território situa-se o cosmódromo de Baikonur, a maior base de lançamento de foguetes do mundo.

Astana, capital desde 1998, tornou-se uma das mais modernas cidades da Ásia Central, tendo recebido a Expo 2017, dedicada à energia do futuro.

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