Os pais ainda ouviram Julen chorar durante 30 segundos

A mãe e o pai do menino que morreu depois de cair num poço contaram à Guardia Civil os últimos momentos de vida da criança
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Julen chorou durante trinta segundos depois de cair no poço. A mãe e o pai contaram à Guardia Civil que o ouviram. O pai tentou, desesperado, tirar as pedras à volta do buraco para que não lhe caíssem em cima, falou com ele para o tranquilizar... mas não ouviu mais nada de volta.

O menino de dois anos caiu num furo de prospeção de água de mais de cem metros que não estava tapado, enquanto os pais preparavam uma paella na quinta de um primo em Totalán, Málaga. Ao fim de 13 dias, no passado sábado, foi resgatado já sem vida. "A posição do corpo de Julen determina que foi um queda livre rápida, até aos 71 metros de profundidade, onde se encontrava soterrado", explicou então o delegado do governo da Andaluzia quando o corpo foi retirado. Os pais de Julen já tinham perdido outro filho de três anos, de ataque cardíaco.

"Às 13.48 senti-me mal e saí da mesa para um sítio onde havia sacos de areia para telefonar ao meu encarregado no McDonald's e dizer-lhe que não ia trabalhar. Julen estava ao cuidado do meu companheiro", contou a mãe da criança à Guardia Civil, em declarações reproduzidas pelo canal La Sexta.

É nessa altura que, disse Victoria, viu toda a gente a dirigir-se ao poço a gritar. Quando lá chegou, o pai de Julen estava a remexer a terra. "Olhei para a boca do poço, ouvi o meu filho chorar e vi o meu parceiro a remover pedras e areias para que não caíssem. Parei de ouvi-lo chorar [ao Julen] e comecei a chorar, desesperada."

A La Sexta teve ainda acesso às declarações do pai da criança: "Ouvi o meu filho chorar dentro do poço, por isso tirei todas as pedras que havia à volta e chamei por ele, que ouvi chorar 30 segundos, ao mesmo tempo que lhe falava para o tranquilizar."

"Chegámos às 13 horas. O David (dono da propriedade) quis fazer o almoço e eu ajudei-o e a minha mulher e a minha prima ficaram a cuidar das crianças", declarou José Roselló às autoridades espanholas.

"Passado algum tempo, a minha mulher ligou ao encarregado para dizer que não ia trabalhar porque não estava bem. Quando eu estava a pôr uns galhos no fogo, vi o meu filho a correr pela vala até ao sítio onde havia o poço. Estava a cerca de 10 ou 15 metros e corri para o apanhar, mas não cheguei a tempo, e vi como ele caiu no poço."

O pai de Julen contou ainda que sabia que havia ali um furo, porque o primo David lho tinha dito antes, mas que estava coberto por dois blocos de cimento. Mas não estava. "Ao lado da boca havia dois cantillos (blocos de cimento) separados e no meio estava o buraco."

Por seu turno, a prima de José Roselló contou à Guardia Civil que se encontrava muito próxima da criança: "Estava com a minha filha, a uns dois metros e meio de Julen, quando de repente ele desapareceu. Corri a espreitar, vi o buraco e ouvi o som do menino a cair. O pai de Julen também estava perto e viu como ele caiu no poço.

A Guardia Civil está entretanto a investigar, a pedido do Tribunal de Instrução de Málaga, se há indícios de crime nas circunstâncias que levaram à morte de Julen no furo de água. David, dono da propriedade e primo do pai do menino, mandou fazer o poço sem obter as licenças devidas. Mas garantiu que quem fez os trabalhos lhe disse que tinha assegurado as autorizações.

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