O Conselho Nacional de Resistência do Irão (CNRI), movimento de oposição ao regime iraniano no exílio, financiou 80% da campanha das eleições europeias de 2014 do partido espanhol Vox. A investigação do jornal El País revela que opositores do regime iraniano, provenientes de mais de 15 países, entre os quais EUA, Alemanha, Itália, Suíça e Canadá, fizeram mais de 100 doações para uma conta da formação espanhola de extrema-direita..A campanha eleitoral custou um milhão de euros, dos quais 800 mil euros foram doados pelo CNRI, refere a edição deste domingo do diário que cita três fontes conhecedoras das contas do partido..O antigo deputado do PP e ex-vice-presidente do Parlamento Europeu, Alejo Vidal-Quadras era o candidato da formação de extrema-direita às eleições europeias de 2014. Obteve 1,56% dos votos, não conseguiu um lugar no Parlamento Europeu e acabou por deixar o partido. O mesmo partido que surpreendeu nas eleições regionais da Andaluzia de 2018 ao eleger 12 deputados. PP, Ciudadanos e Vox têm juntos 59 deputados, ou seja, mais do que os 55 necessários para chegar à maioria absoluta no Parlamento da Andaluzia, que foi governada pelo PSOE nos últimos 36 anos..Em 2014, a campanha do Vox para as eleições europeias recebeu no total 146 doações feitas pelo CNRI por um período de três meses. Vidal-Quadras terá informado Santiago Abascal, líder do Vox, da proveniência do dinheiro usado na campanha..Partido não divulgou a proveniência das contribuições.Na altura, o partido de extrema-direita não divulgou a proveniência dos 800 mil euros na campanha eleitoral, resultante de mais de uma centena de contribuições do CNRI. "Ninguém nos perguntou", argumenta o ex-deputado do PP..O Tribunal de Contas não auditou a relação entre o Vox e o CNRI porque a lei só exige o escrutínio das contribuições dos partidos com representação parlamentar. O documento em Excel a que uma fonte teve acesso revela as identidades dos iranianos que fizeram as contribuições..A relação de Vidal-Quadras com elementos do movimento de oposição ao regime iraniano no exílio remonta a 1999, quando era deputado europeu. O El País refere que na altura o político espanhol recebeu o "socialista português Paulo Casaca", um representante "de um grupo denominado Amigos do Irão Livre", escreve o diário.."Irão não era uma das minhas preocupações, mas pediram-me para receber pessoas do CNRI e foi o que fiz", justifica Vidal-Quadras ao jornal.."Eram donativos à minha pessoa".O movimento de oposição ao regime de Teerão, cuja sede é em Paris, é uma coligação que engloba várias organizações entre as quais a denominada "Mujahedines do Povo", que foi considerada terrorista pela União Europeia até 2009 e pelos EUA até 2012..Durante o tempo que esteve no Parlamento Europeu, Vidal-Quadras participou em vários eventos organizados pelo CNRI e em reuniões anuais realizadas em Paris sob o lema "Irão Livre". Ao diário espanhol conta que não tinha informações detalhadas sobre os doadores, mas garante: "Eram pessoas que não tinham nada a ver com o Vox". "A candidatura era eu. Eram donativos à minha pessoa. Eu ajudei a salvar muitas vidas", disse. "São um grupo de exilados que me consideram como um protetor deles. Quando vou aos seus eventos, eles abraçam-me, beijam-me"..Vox garante que os donativos foram "legais e transparentes".Pela voz do seu secretário-geral, Javier Ortega Smith, o Vox reagiu à investigação do El País ao garantir que as doações para a campanha eleitoral de 2014 foram "legais e transparentes". A formação de extrema-direita assegura que todo o financiamento da campanha às eleições europeias desse ano foi aprovado pelo Tribunal de Contas..Ortega Smith refere que as doações individuais, de "dissidentes iranianos da ditadura teocrática do Irão", não ultrapassaram o máximo permitido por lei e que deram conhecimento das mesmas ao Tribunal de Contas para "analisar se cumpriam a lei".