O refugiado do Sudão que esteve detido na Ilha Manus ganhou um prémio de Direitos Humanos

Abdul Aziz Muhamat tem 25 anos. Foi um refugiado do Sudão. Durante cinco anos esteve preso num centro de detenção australiano na Ilha Manus, na Papua Nova Guiné. E no dia 14 foi premiado com um reconhecido prémio internacional de direitos humanos.
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Abdul Aziz Muhamat, antigo refugiado do Sudão, foi premiado esta quinta-feira com o prémio Martin Ennals de 2019, pelo seu contributo em atrair a atenção do mundo para o assédio, os espancamentos e as más condições de vida que centenas de refugiados enfrentam no centro australiano.

É a primeira vez que este prémio, nomeado em honra do ativista de Direitos Humanos britânico, se centrou na crise dos refugiados e que foi concedido a alguém que sofreu violações devido a políticas de uma nação ocidental.

Abdul, que teve permissão para viajar até Genebra para aceitar o prémio, revelou que centenas de requerentes de asilo estavam encurralados nas ilhas Manus e Nauru como parte da política de refugiados do governo australiano, onde quem procura ajuda é tratado como "criminosos", relata a agência Reuters.

"Não é fácil estar num lugar onde tens de lutar pelos teus direitos. Este prémio derrama luz sobre a política muito cruel de refugiados do governo australiano," disse Abdul. "A minha mensagem para todos os refugiados espalhados pelo mundo [é esta], não tenham medo de falar pelos vossos direitos, independentemente onde vos mandam. Deem voz aos vossos direitos e tentem ultrapassar os vossos medos."

Abdul Aziz Muhamat tornou-se refugiado quando fugiu do conflito na região ocidental de Darfur, no Sudão, em 2013 e voo para a Indonésia. Embarcou com rumo à Austrália, mas depois de seis dias no mar, foi intercetado pelas autoridades australianos e foi enviado contra a sua vontade para Manus.

O resto, como costumam dizer, é história e o antigo refugiado, durante os últimos cinco anos, tem-se tornado uma das principais vozes na defesa dos direitos dos refugiados ao expor a realidade das condições vividas no centro australiano, através dos seus podcasts, das suas redes sociais e das suas entrevistas nos órgãos de comunicação social.

O seu podcast, " The Messenger " que revela, com detalhes íntimos a sua experiência sobre o que é deixar a casa destroçada para trás, fugir da tragédia e procurar asilo de barco, ganhou a honra de melhor programa áudio nos prémios australianos Walkley em 2017. Documenta a viagem de Abdul e expõe as condições apertadas, mal ventiladas, desumanas dentro do campo onde ficou retido, assim como a destruição dos seus pertences e a sua mudança forçada para outro centro.

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) elogiou Abdul Aziz Muhamat poter ter eloquentemente chamado a atenção do mundo para a situação e pediu "que sejam encontradas soluções para todos os refugiados e requerentes de asilo sob o processamento offshore da Austrália na Papua Nova Guiné e Nauru".

"Tenho a mais profunda admiração pelo senhor Muhamat, pela sua coragem, pela sua humanidade e pelo seu espírito indomável," disse Volker Türk, o alto-comissário adjunto de proteção do ACNUR num comunicado. "O seu testemunho é um alerta para o mundo sobre o que acontece quando as políticas desumanizam e maltratam os seres humanos."

O prémio Martin Ennals é selecionado anualmente por um júri de 10 das principais organizações humanitárias, das quais fazem parte a Amnistia Internacional, a A Comissão Internacional de Juristas e a Human Rights Watch.

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