O refugiado do Sudão que esteve detido na Ilha Manus ganhou um prémio de Direitos Humanos
Abdul Aziz Muhamat, antigo refugiado do Sudão, foi premiado esta quinta-feira com o prémio Martin Ennals de 2019, pelo seu contributo em atrair a atenção do mundo para o assédio, os espancamentos e as más condições de vida que centenas de refugiados enfrentam no centro australiano.
É a primeira vez que este prémio, nomeado em honra do ativista de Direitos Humanos britânico, se centrou na crise dos refugiados e que foi concedido a alguém que sofreu violações devido a políticas de uma nação ocidental.
Abdul, que teve permissão para viajar até Genebra para aceitar o prémio, revelou que centenas de requerentes de asilo estavam encurralados nas ilhas Manus e Nauru como parte da política de refugiados do governo australiano, onde quem procura ajuda é tratado como "criminosos", relata a agência Reuters.
"Não é fácil estar num lugar onde tens de lutar pelos teus direitos. Este prémio derrama luz sobre a política muito cruel de refugiados do governo australiano," disse Abdul. "A minha mensagem para todos os refugiados espalhados pelo mundo [é esta], não tenham medo de falar pelos vossos direitos, independentemente onde vos mandam. Deem voz aos vossos direitos e tentem ultrapassar os vossos medos."
Abdul Aziz Muhamat tornou-se refugiado quando fugiu do conflito na região ocidental de Darfur, no Sudão, em 2013 e voo para a Indonésia. Embarcou com rumo à Austrália, mas depois de seis dias no mar, foi intercetado pelas autoridades australianos e foi enviado contra a sua vontade para Manus.
O resto, como costumam dizer, é história e o antigo refugiado, durante os últimos cinco anos, tem-se tornado uma das principais vozes na defesa dos direitos dos refugiados ao expor a realidade das condições vividas no centro australiano, através dos seus podcasts, das suas redes sociais e das suas entrevistas nos órgãos de comunicação social.
O seu podcast, " The Messenger " que revela, com detalhes íntimos a sua experiência sobre o que é deixar a casa destroçada para trás, fugir da tragédia e procurar asilo de barco, ganhou a honra de melhor programa áudio nos prémios australianos Walkley em 2017. Documenta a viagem de Abdul e expõe as condições apertadas, mal ventiladas, desumanas dentro do campo onde ficou retido, assim como a destruição dos seus pertences e a sua mudança forçada para outro centro.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) elogiou Abdul Aziz Muhamat poter ter eloquentemente chamado a atenção do mundo para a situação e pediu "que sejam encontradas soluções para todos os refugiados e requerentes de asilo sob o processamento offshore da Austrália na Papua Nova Guiné e Nauru".
"Tenho a mais profunda admiração pelo senhor Muhamat, pela sua coragem, pela sua humanidade e pelo seu espírito indomável," disse Volker Türk, o alto-comissário adjunto de proteção do ACNUR num comunicado. "O seu testemunho é um alerta para o mundo sobre o que acontece quando as políticas desumanizam e maltratam os seres humanos."
O prémio Martin Ennals é selecionado anualmente por um júri de 10 das principais organizações humanitárias, das quais fazem parte a Amnistia Internacional, a A Comissão Internacional de Juristas e a Human Rights Watch.