Novo recorde. Mais de 76 mil migrantes passaram a fronteira do México com os EUA
No limite. É assim que as autoridades norte-americanas descrevem a atual situação na fronteira com o México. Só no mês de fevereiro 76 mil imigrantes ilegais cruzaram a fronteira com os EUA, mais do dobro em relação ao ano passado (36 751). Segundo os dados do serviço de Alfândega e Proteção fronteiriça dos EUA (CBP, na sigla em inglês) este número marca um novo máximo registado num mês em 12 anos.
"O sistema está muito além da sua capacidade e está num ponto crítico", admitiu na terça-feira Kevin McAleenan, comissário do CBP, em conferência de imprensa.
Trata-se "claramente da segurança nas fronteiras e uma crise humanitária", sublinhou McAleenan.
Dos 76 103 imigrantes que atravessaram a fronteira do México com os EUA no mês passado, 90% são provenientes da Guatemala. Kevin McAleenan explicou aos jornalistas que "muitas famílias guatemaltecas estão a recorrer a autocarros" e chegam à fronteira "em apenas quatro a sete dias de maneira bastante consistente".
As Honduras são o segundo país com mais cidadãos a cruzar ilegalmente a fronteira com os EUA, passando à frente do México, afirmaram as autoridades norte-americanas.
Entre os imigrantes que cruzaram a fronteira, 40 325 estavam em família e 7249 eram menores desacompanhados. É a quarta vez nos últimos cinco meses o número de famílias de imigrantes ilegais bate um recorde.
McAleenan teme que o número de detenções na fronteira venha a aumentar nos próximos meses devido ao bom tempo que torna a travessia menos penosa. Atualmente, a situação que se vive na fronteira sul dos EUA está a tornar-se insustentável, com os centros de detenção a não terem capacidade para receber uma média de 2200 imigrantes por dia.
Segundo o mesmo responsável, chegam diariamente imigrantes "com doenças e com várias condições médicas num nível sem precedentes". Os agentes da fronteiras estão a transferir todos os dias uma média de 55 pessoas para unidades hospitalares, acrescentou McAleenan.
Números que contrariam a política contra a imigração do presidente dos EUA, Donald Trump, que mantém o objetivo de construir um muro ao longo da fronteira com o México.
De acordo o New York Times, mais de 50 mil pessoas estão atualmente detidas, o maior número de sempre.
A Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet expressou esta quarta-feira preocupação sobre as novas medidas dos Estados Unidos que restringem a imigração de cidadãos na América Central.
Bachelet disse que o Protocolo de Proteção de Migrantes (MPP) dos Estados Unidos, em vigor desde janeiro, "restringe o acesso ao asilo e a outras formas de proteção de direitos humanos e obriga os migrantes a esperarem do outro lado da fronteira pelos trâmites dos processos sem os procedimentos e as salvaguardas exigidas".
Michelle Bachelet, que apresentou esta quarta-feira o relatório anual sobre os direitos humanos, em Genebra, recordou as frequentes separações de pais e filhos migrantes detidos nos Estados Unidos sublinhando que milhares de crianças são afetadas pelas medidas impostas pelas autoridades norte-americanas.
Bachelet disse que os grupos de imigrantes de El Salvador, Guatemala e Honduras que se dirigem para os Estados Unidos refletem o "fracasso" das políticas de desenvolvimento, com "violações dos direitos que acabam por provocar profundas desigualdades".
Sobre o mesmo assunto, a Alta Comissária elogiou as iniciativas do México sobre a imigração frisando que o governo mexicano "está a esforçar-se para mudar as políticas que previam a detenção e deportação de migrantes centrando-se agora na proteção dos direitos, incluindo oportunidades de regularização".